CRÍTICA | Cara Gente Branca

Direção: Justin Simien
Roteiro: Justin Simien
Elenco: Tessa Thompson, Tyler James Williams, Brandon P. Bell, Teyonah Parris, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2014


Antes da série original da Netflix, que ganhou uma segunda temporada recentemente, Cara Gente Branca (Dear White People) foi originalmente concebida como um longa metragem, de mesmo nome, que teve sua estreia em 2014 no Festival de Sundance, onde recebeu o prêmio especial do júri na categoria "talento revelação em drama".

O filme tem seu foco principal em quatro personagens negros que passam por conflitos diferentes em relação ao racismo presente na Universidade Winchester, onde a predominância de alunos brancos faz com que a pequena parcela de alunos negros se sintam excluídos e deslocados entre seus colegas.

Acompanhamos Samantha White (Tessa Thompson), uma militante do movimento negro na universidade, que tem um programa de rádio chamado "Cara Gente Branca". Apesar de sua militância, Sam se vê em conflito por se relacionar com um rapaz branco e por ser mestiça, o que a faz querer reforçar a todo momento sua negritude e toda a sua luta contra o racismo. Em contraste à protagonista há Coco Conners (Teyonah Parris), personagem que se adéqua aos conceitos impostos pela sociedade caucasiana, indo contra o movimento de seus colegas.

Também há Lionel Higgins (Tyler James Williams), um garoto gay, que sofre homofobia por parte de seus colegas de irmandade, sendo sempre excluído de tudo. Por último, somos apresentados a Troy Fairbanks (Brandon P. Bell), filho do reitor da universidade, que tenta manter sua popularidade com os garotos brancos para que, assim, possa ter seu "lugar ao sol" nas atividades universitárias.

Foto: Divulgação

É interessante ver como cada personagem encara sua identidade e como há sempre um conflito adicional, além daqueles causados pela cor da sua pele. O racismo retratado na obra é aquele perpetuado de forma mascarada, velada, onde os que estão no poder tentam apagar qualquer suspeita de preconceito, afirmando que não há segregação racial em um lugar tão agradável quanto a Universidade de Winchester.

O longa discute de forma cômica e irônica o preconceito que reina em nossa sociedade contemporânea, o chamado "racismo moderno", onde as pessoas suavizam seu comportamento discriminatório por conta da pressão social, que constantemente evolui e prega a tolerância com as diferenças. Internamente, porém, os preconceitos são mantidos.

Além disso, personagens como os Fairbanks evidenciam como as minorias precisam batalhar dez vezes mais para merecer um lugar ao sol. Isso ocorre especialmente quando vemos, no filme, um adulto se privando de dizer o que pensa sobre o tema para que seu cargo na instituição não seja afetado, enquanto seu filho é obrigado a estudar e perseguir uma carreira que não lhe interessa, apenas para tentar se desvencilhar de um esteriótipo.

Acredito que o objetivo principal de Cara Gente Branca é mostrar de forma simples como nossa sociedade pratica a intolerância sem nem mesmo perceber. É extremamente difícil para quem está do lado privilegiado da história, se "colocar na pele" do próximo. Perceber que certos comportamentos e expressões são ofensivas por haver uma carga negativa e histórica por traz de cada palavra proferida. E isso vai além de grupos negros e brancos. A intolerância é presente até mesmo dentro do seu próprio nicho.

Foto: Divulgação

Se ao terminar o filme o espectador conseguir enxergar, ao menos de relance, os problemas que se escondem em nossa sociedade aparentemente tolerável, acho que podemos dizer que a proposta foi cumprida com excelência. A mudança constante parte de cada um de nós.

Excelente

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