CRÍTICA | Priscilla

Direção: Sofia Coppola
Roteiro: Sofia Coppola
Elenco: Cailee Spaeny, Jacob Elordi, Ari Cohen, entre outros
Origem: EUA/Itália
Ano: 2023

Baseado na autobiografia “Elvis e Eu”, de 1985, Priscilla (2023) explora os pontos altos e baixos de como era ter um relacionamento com uma das maiores celebridades dos anos 1950 a 1970: Elvis Presley. E sempre é uma missão difícil analisar um longa-metragem que espelha a vida de uma pessoa que existiu, que nos obriga a forçar uma intimidade inexistente, por vezes opinando em um relacionamento amoroso que nunca nos disse respeito, um mal da sociedade atual, muitas vezes. Isso dito, vale frisar que essa é justamente uma das propostas da diretora Sofia Coppola (On the Rocks).

Podemos dizer que toda história tem três lados: o da primeira pessoa envolvida, o da segunda pessoa envolvida e a verdade absoluta. Em Priscilla não é diferente. E por mais que o filme convide todo tipo de público para as salas de cinema, fica evidente que é necessária alguma bagagem cultural para entender o contexto e quem são aquelas pessoas retratadas no roteiro.

A condução de Sofia é segura como a grande maioria de seus projetos, especialmente no que diz respeito a estética visual empregada na cinematografia de Philippe Le Sourd (O Estranho Que Nós Amamos), que vem se tornando um colaborador habitual, com cores tímidas e frias que vão ganhando força e tonalidade junto ao desenvolvimento da protagonista, dado que, no início da história, ela é apenas uma adolescente ingênua de 14 anos. Além disso, a opção pelo formato de tela 4:3 reforça uma estética vintage, como quem leva o espectador à fitas VHS antigas do casal.

MUBI

O roteiro, também de Sofia, foca em momentos que toda garota possa durante sua tenra idade, como pintar as unhas, falar ao telefone, ouvir música e ser fã de algum astro e, claro, não menos importante, se apaixonar e não querer se importar com nada além daquilo. E embora saibamos que o relacionamento entre Elvis (Jacob Elordi) e Priscilla (Cailee Spaeny) podia ser interpretado como pedofilia, a obra expõe que essa é a visão que temos hoje. Na época era visto como algo incomum ou estranho, mas não como algo ilegal.

De certo modo, Sofia e Priscilla seguram em nossas mãos para mostrar que a protagonista era apenas uma adolescente e que nesta idade, por mais que os pais proíbam, sempre há uma forma de realizar o que se tem em mente. As loucuras por amor, a inquietação na mente para ver aquela pessoa, são dramas típicos da juventude e com Priscilla não foi diferente.

Ocorre também a desmistificação da personalidade Elvis Presley, já que presenciamos diversos momentos abusivos sofridos por Priscilla nos bastidores. E nesse ponto a direção de Sofia é eficaz em fazer o público sofrer com a protagonista, na esperança de que haverá alguma recompensa no fim. Foram vários os momentos em que me senti na pele daquela mulher solitária, feliz, triste e indecisa. Creio que, de forma delicada, a cineasta atingiu seu objetivo, já que trata-se de um filme dirigido por uma mulher, sobre uma mulher relegada às sombras e direcionado também para o público feminino de certa maneira, que eventualmente pode estar passando por situação semelhante hoje.

E é curioso como a trilha sonora não traz uma canção sequer de Elvis, exceto por um breve momento em que o superstar canta e toca piano em uma festa particular.

MUBI

Em Priscilla vivemos uma jornada de emoções em que não conhecemos o destino. A história de uma mulher que precisou crescer rápido demais, mentalmente e fisicamente, para tentar acompanhar uma pessoa que amada por todos, mas que dizia ama-la, mesmo sem demonstrar em suas ações. Uma produção forte e difícil de digerir, mas que gera reflexão, o que importantíssimo.

Excelente


Comentários