CRÍTICA | Se Você Soubesse


Direção: Joan Chemla
Roteiro: Joan Chemla e Santiago Amigorena
Elenco: Gael García Bernal, Marine Vacth, Nahuel Pérez Biscayart, entre outros
Origem: França
Ano: 2017


Produzir um filme independente, por si só, já é um grande desafio. Distribuí-lo em circuito mundial de cinema então, é algo dificílimo. Em algumas situações, é preciso buscar alternativas válidas para que as obras cheguem ao público. É o caso desse Se Você Soubesse (Si Tu Voyais Son Coeur), primeiro longa-metragem da cineasta francesa Joan Chemla (Dr Nazi), que estreou na América Latina apenas em plataformas digitais. Os custos para que uma obra tão intimista chegue ao grande circuito são muito altos, inviabilizando o investimento.

A obra, baseada no livro “Mon Ange”, de Guilhermo Rosales, conta a história de Daniel (Gael García Bernal), integrante de uma comunidade hispânica de ciganos que vive em um acampamento no subúrbio de Paris. Marginalizados e excluídos, o protagonista e seu melhor amigo, Costel (Nahuel Perez Biscayart), se envolvem em pequenas ações criminosas pela cidade. Tudo parece correr bem, até que uma tragédia acontece, mudando o rumo da trama por completo. Assombrado e culpado, Daniel precisa encontrar maneiras de sobreviver no país, bem como buscar um motivo para seguir adiante com sua vida.

Se Você Soubesse poderia ser uma obra de grandes pretensões, porém, infelizmente, sua tentativa de fugir do obviedade e entregar algo diferenciado é falha, fazendo com que o longa-metragem pareça mais uma colcha de retalhos mal costurada. Confuso em viagens entre presente e passado, as memórias do protagonista se perdem ao longo dos pouco mais de 80 minutos de filme. Trata-se de um trabalho com um ponto de vista muito pessoal, uma obra de autor, o que talvez explique, sem justificar, tamanha confusão em tela.

Foto: Sofa Digital

Além disso, o roteiro parece pouco desenvolvido, com personagens pouco aprofundados e sem origem aparente. É o caso de Francine (Marine Vacth), que surge como a salvação do protagonista em determinado momento, mas que não possui um arco narrativo propriamente dito, sem seus próprios fantasmas para enfrentar, desaparecendo da mesma maneira que apareceu.

Aqui, nem mesmo Gael García Bernal (Ensaio Sobre a Cegueira), ator de renome internacional, consegue se destacar. Seu personagem soa inexpressivo na maior parte do tempo, assim como seu interprete, que parece anestesiado em tela, longe dos seus melhores trabalhos, como Diários de Motocicleta (2004), por exemplo.

Se Você Soubesse tenta, mas não consegue entregar o que pretende, deixando o espectador decepcionado, especialmente pelo bom elenco e os personagens que poderiam ser muito melhor trabalhados. Um filme que se perde na ânsia de tentar ser poético e pouco óbvio, mas que no fim escancara uma falta de preocupação com os detalhes. Se isso é um reflexo da falta de verba para filmes independentes e da crise que assola o setor, fica difícil dizer, porém o sensação final é que o longa dificilmente cairá no gosto do público.


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