CRÍTICA | Mulan

Direção: Tony Bancroft e Barry Cook
Roteiro: Rita Hsiao, Chris Sanders, Philip LaZebnik, Raymond Singer e Eugenia Bostwick-Singer
Elenco: Ming-Na Wen, Eddie Murphy, B.D. Wong, Pat Morita, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1998

Nem Star Wars e nem os heróis da Marvel, a franquia que mais atinge nossa nostalgia é a das princesas Disney. Bastou uma aparição no trailer de WiFi Ralph: Quebrando a Internet para levar todos a loucura. Desde 1937 a Disney apresenta histórias diversas sobre mulheres carismáticas e gentis, cada qual com sua peculiaridade, sempre marcando a infância de milhares de crianças. Em 1998 foi a vez de conhecermos Mulan.

Completando 20 anos de sua estreia este ano e com uma adaptação live-action marcada para março de 2020, a princesa chinesa pode ser considerada um símbolo de empoderamento feminino. Baseada em uma antiga lenda, Mulan (Ming-Na Wen) é uma mulher que não se encaixa nos padrões estabelecidos por sua sociedade. Apesar de tentar seguir as tradições da época, ela falha vergonhosamente em sua avaliação com a casamenteira, o que significa desonra para a família. Após o fracasso da protagonista, fica clara sua ligação e amor pelo pai – que se mostra compreensivo a recente frustração da filha. 

Com o núcleo familiar estabelecido e entendendo os sentimentos da personagem perante suas obrigações, não é de se admirar que quando seu pai – já de idade avançada – é convocado para combater os unos, ela se oponha totalmente. Vendo a preocupação da mãe e o estado físico debilitado do patriarca, Mulan não vê outra opção a não ser tomar o lugar dele na guerra.

Walt Disney Pictures

Disfarçada de homem e com a ajuda de Mushu (Eddie Murphy) – enviado pelos ancestrais da família para ajudá-la a sobreviver em sua missão aparentemente suicida – a protagonista se torna uma guerreira habilidosa e inteligente. Ao salvar seu comandante Shang (B.D. Wong) e matar grande parte do exército uno, ela sofre um ferimento e seu segredo acaba sendo revelado. Deixada para trás pelos companheiros de combate, Mulan é a única que pode avisar que nem todos os inimigos foram dizimados e ainda estão a caminho da cidade imperial.

Ao tentar reportar a chegada dos unos, ninguém dá ouvidos a ela. Mushu ainda explica: “você é mulher de novo, esqueceu?”. Durante toda a animação a personagem é subestimada, mas nada que abale a sua determinação em levar honra para a família e salvar a China.

Apesar de não ser a primeira princesa Disney com habilidades de luta, Mulan é certamente uma das pioneiras a não ser reduzida pelo interesse romântico no “príncipe”. Ainda que nenhuma delas deva ser desmerecida por isso, é o que acaba acontecendo na visão do público, inclusive feminino. Em uma situação oposta, é difícil acreditar que algum príncipe teria seu valor minguado por estar apaixonado. 

Com o romance em segundo plano, a obra apresenta uma história sobre amadurecimento e a dificuldade de se encaixar em um mundo que não parece ter espaço para alguém que não siga seus padrões. Além de trazer discussões ainda atuais, a animação conta com personagens muito bem construídos, sem deixar de lado o toque de fantasia Disney, equilibrando momentos dramáticos com doses bem-vindas de humor. 

Walt Disney Pictures

As cenas musicais são outro ponto a se destacar. Elas não servem apenas para cumprir o padrão do estúdio, funcionando como uma ótima ferramenta narrativa. Um bom exemplo é quando a canção "Não Vou Desistir de Nenhum" é entoada enquanto o comandante Shang treina seus soldados. 

No mais, o filme de 1998 é corajoso ao contar a história de uma mulher que devia submissão, por questões culturais, e acaba se tornando a heroína da trama, ganhando o respeito dos homens e até do Imperador chinês, por suas habilidades como guerreira. É aqui que Mulan acrescenta mais uma vertente ao grupo de princesas Disney, ao apresentar uma figura feminina não apenas forte intelectualmente, mas também fisicamente. 

Fica aqui somente a frustração de "Não Vou Desistir de Nenhum" contar com frases como “homem ser, seremos rápidos como um rio”. Compreensível devido a época em que o longa foi lançado, mas nada nos impede de substituir as duas palavras que depreciam a jornada da protagonista por “vou vencer”.

Ótimo

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