CRÍTICA | A Barraca do Beijo

Direção: Vince Marcello
Roteiro: Vince Marcello
Elenco: Joey King, Joel Courtney, Jacob Elordi, entre outros
Origem: Reino Unido
Ano: 2018


A Barraca do Beijo (The Kissing Booth), longa-metragem recentemente lançado pela Netflix, tem gerado bastante discussão redes sociais à fora, o que acabou despertando minha curiosidade por assisti-lo. O fato do filme ser repleto de clichês, não necessariamente o torna ruim. No entanto, ao se mostrar raso em sua abordagem, especialmente no que diz respeito a questões importantes hoje em dia, acaba se tornando menos relevante do que poderia ser.

Na trama, Elle (Joey King) e Lee (Joel Courtney) são amigos de longa data e resolvem implementar uma barraca do beijo em um dos eventos escolares. Decidida a fazer o "empreendimento" dar certo, a garota tenta convencer Noah (Jacob Elordi), irmão mais velho de Lee, galã da escola e seu "crush", a participar do jogo. A principio o rapaz se mostra indiferente, mas aos poucos os dois vão se aproximando, causando certo ciume por parte do irmão mais novo.

Aqui é difícil encontrar um tema principal para a narrativa, já que temos diversas premissas misturadas e exploradas em diferentes momentos. Há a questão da amizade dos protagonistas, a paixão da garota por Noah, toda a fase de amadurecimento na adolescência e a jornada pelo ensino médio. Os problemas começam quando Elle é assediada por um colega que se sente no direito de passar a mão nela por estar usando uma saia curta.

Imagem: Marcos Cruz / Netflix

A obra lida com o tema de forma perigosa, tendo em vista que utiliza de tom cômico para tratar do assédio, justificando o fato do corpo da garota ter se desenvolvido e passado a chamar a atenção dos garotos. Trata-se de uma situação densa e que acontece na vida de grande parte das mulheres. Tratar a questão de forma jocosa é triste, visto que é evidente que as garotas são muito mais do que seus corpos. Noah acaba intervindo para protege-la, mas o roteiro novamente se sabota ao faze-lo proferir um comentário machista quando os dois estão na sala do diretor, mesmo que ele acabe reconhecendo seu erro posteriormente.

Passando a ser notada pelo seu corpo, a protagonista atinge uma popularidade que não tinha antes, ratificando a forma desrespeitosa com que o filme aborda temas tão delicados, especialmente se levarmos em conta o público alvo da obra. Ideias problemáticas são abordadas de forma superficiais, sem o devido cuidado para mostrar que tudo na verdade é uma crítica e não um incentivo ao erro. Nesse ponto, a abordagem do diretor e roteirista Vince Marcello (Um Vampiro Mentiroso), se mostra falha e incoerente com sua proposta.

A partir daí o filme foca nas indecisões de Elle, que se vê dividida entre a amizade com Lee e seu amor proibido com Noah, sem se preocupar em desenvolver os personagens. A própria protagonista soa fútil em muitos momentos por conta disso.

Sendo franca, posso afirmar que o filme ainda assim consegue divertir, mas seria ingenuo da minha parte pensar que ele não pode ter efeitos negativos no público adolescente, especialmente entre as garotas. Como adulta e tendo maturidade perante os temas apresentados, consigo filtrar o que é relevante ou não, porém podemos dizer o mesmo dos mais jovens, que são mais propensos a serem influenciados pelo que consomem?

Foto: Marcos Cruz / Netflix

Querendo ou não, filmes e séries hoje em dia precisam ter mais responsabilidade na forma como passam suas mensagens. Evidentemente as produções estão sujeitas aos erros de seus realizadores, que são humanos. Ser agente da mudança é difícil, especialmente quando tudo a nossa volta faz parecer que aquilo é natural. Em suma, A Barraca do Beijo cumpre com seu papel de diversão, porém peca ao perder a oportunidade de abordar temas relevantes de maneira apropriada.

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