CRÍTICA | Feministas: O Que Elas Estavam Pensando?

Direção: Johanna Demetrakas
Roteiro: Johanna Demetrakas
Elenco: Laurie Anderson, Phyllis Chesler, Judy Chicago, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2018

“Ele me perguntou se eu me identificava como uma feminista. E eu disse que sim. Ele me olhou como se eu fosse um monstro. Como se eu tivesse afirmado que o odiava. Ele sentia repulsa. Repulsa."
Funmiola Fagbamila, professora e dramaturga


Mesmo envolto em mitos e preconceitos, o feminismo desponta como um dos movimentos mais importantes da atualidade. Graças às redes sociais, que se tornaram um espaço de visibilidade para as mulheres, uma nova onda feminista surgiu. A luta pela igualdade de gênero e valorização das experiências femininas tomou também a mídia. É fácil encontrar músicas, filmes ou livros que carreguem, pelo menos, alguns dos ideais desse movimento social e político. Nessa leva, a Netflix lançou recentemente o documentário Feministas: O Que Elas Estavam Pensando? (Feminists: What Were They Thinking?).

Mulheres feministas que participaram da chamada 2º Onda, período entre os anos 60 e 70, no qual os EUA foram tomados por inúmeras reivindicações relacionadas aos direitos civis, relatam suas experiências e memórias, a partir das fotografias de Cynthia MacAdams. Diferente de outras áreas da ciência, os estudos de gênero privilegiam tanto a experiência pessoal quanto à teoria, em uma tentativa de subverter o fazer cientifico tradicional. É exatamente isso que o documentário faz, ao apresentar a trajetória do feminismo, não por meio de fatos históricos ou pela presença de estudiosos da área, mas sim pelo simples relato das histórias de vida de mulheres que, a sua própria maneira, ajudaram a construir o movimento.

Foto: Netflix

Dentre as protagonistas, é possível reconhecer alguns rostos famosos como Jane Fonda (Amargo Regresso), atriz e ativista, conhecida tanto pelas suas ações como militante pelo direito das mulheres quanto pela sua luta contra as guerras lideradas pelos Estados Unidos. Além disso, a atriz e comediante Lily Tomlin (Grace and Frankie) também compartilha suas experiências como feminista. 

Com cerca de uma hora de duração, o filme traz discussões interessantes sobre feminismo negro, dando o espaço merecido a essa questão. Aqui é mostrado que os reflexos do racismo na vivência de uma mulher não podem ser apagados em nome de uma pseudo-homogeneidade do movimento. Por muito tempo, problemáticas como a esterilização compulsória e o encarceramento da população negra eram deixadas de lado pelas feministas brancas de classe média. Isso fica claro na fala de uma das entrevistas, que conta que dentro do movimento negro não era bem visto ser feminista, já que tradicionalmente tais representantes “odiavam” homens negros. 

“Sempre sinto, quando alguém me pergunta se sou feminista, que é algo capcioso. Com as minhas amigas, nós não usamos muito a palavra 'feminismo'. Somos mais específicas, tipo 'lutamos por igualdade de gênero' ou 'lutamos por salários iguais'. Mas não usamos necessariamente a palavra 'feminista'. Na verdade, dos meus amigos, os únicos abertamente feministas são homens, pois isso os faz parecer cool.”
Wendy J.N. Lee, cineasta

Foto: Netflix

Feministas: O Que Elas Estavam Pensando? apresenta um paralelo entre o ativismo nos anos 70 e o atual. A Marcha das Mulheres, ocorrida em 2017, reuniu mais de 2 milhões de pessoas em mais de 600 ações pelo mundo e aparece em contraste com protestos de décadas atrás.

No documentário, a discussão sobre a presença das mulheres no meio artístico traz a tona também o mais recente movimento, o #MeToo, que ajudou a disseminar a luta contra o assédio sexual graças as inúmeras denúncias em Hollywood. Assim, fica claro que ainda será preciso muito tempo para que as mulheres alcancem o pleno respeito em uma sociedade machista.

A luta por direitos de igualdade para as mulheres não acabou. Essa é a mensagem deixada pela obra, como um suspiro de alívio, que mostra que até mesmo mulheres na faixa de 70 e 80 anos continuam firmes em suas crenças, na esperança de que teremos um mundo melhor no futuro.

Bom

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