CRÍTICA | Corpo Fechado

Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan
Elenco: Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Robin Wright, Spencer Treat Clark, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2000


Os opostos se completam. Essa é uma das premissas de Corpo Fechado (Unbreakable), filme de M. Night Shyamalan (Sinais). A saga, finalizada recentemente com o longa Vidro (Glass), teve seu primeiro capítulo lançado há quase duas décadas, porém, conseguiu manter muitos fãs fiéis e se destacar com as suas continuações. Aqui, após o enorme sucesso de O Sexto Sentido (1999), o cineasta apostou no subgênero dos super-heróis, unindo o suspense, sua marca registrada, com um roteiro complexo e sem clichês. 

Corpo Fechado conta a história de David Dunn (Bruce Willis), um segurança e ex-jogador de futebol americano que sobrevive a um desastroso acidente de trem. 131 pessoas morrem, mas ele é o único que escapa da situação vivo e, ainda por cima, sem nenhum arranhão. Na busca por explicações, acaba contatado por Elijah Price (Samuel L. Jackson), dono de uma loja de HQs e portador de uma rara doença. A explicação que Elijah dá para o ocorrido pode parecer fantástica no começo, contudo, aos poucos, passa a fazer sentido para Dunn.

Shyamalan equilibra perfeitamente o verossímil e o fantástico ao longo da trama. Fã de histórias em quadrinhos, o diretor e roteirista entrega todos os elementos de um filme de super-herói, porém, dá preferência para explorá-los de forma gradual e madura. Sem grandes cenas de ação e com um ritmo lento, Corpo Fechado destaca o processo de formação e autodescoberta de seus personagens, e esse é seu maior trunfo.

Foto: Buena Vista

Elijah Price nasceu com o Tipo 1 de Osteogênese Imperfeita, uma doença também conhecida como "Ossos de Vidro", pois os ossos de seus portadores se quebram com muita facilidade. Ler histórias em quadrinhos era o único passatempo de Elijah durante a infância, já que, para o garoto, era muito difícil socializar com outras crianças que o apelidaram de "Sr. Vidro". O mundo dos super-heróis se tornou o seu próprio mundo, a lente pela qual ele conseguia enxergar tudo ao seu redor. Por isso, o personagem acaba desenvolvendo uma espécie de obsessão em encontrar o seu oposto, pois ele entende que heróis e vilões são sempre personagens antagônicos, que se complementam e dão sentido para a existência um do outro. Se ele é frágil como vidro, deve existir alguém com a característica oposta, inquebrável.

Na outra ponta da corda está David Dunn, um homem que nunca ficou doente. Exímio jogador de futebol americano que abandonou a carreira para se casar com o grande amor de sua vida. O casamento, contudo, não lhe traz felicidade e ele é visto como uma pessoa triste e extremamente desmotivada. O encontro com Elijah é conturbado, pois ao mesmo tempo que significa uma provável explicação para os dons de Dunn, também representa uma grande, e a princípio indesejada, responsabilidade para ele. 

Usando de forma inteligente suas habilidades com o gênero de suspense, Shyamalan constrói uma narrativa que deixa o público sempre atento e desconfiado. Há inúmeros momentos de tensão no longa, valorizados por vários travellings e long shots, que o diretor usa para dar um bom encadeamento a diferentes momentos da trama. Outros elementos técnicos como, por exemplo, as inúmeras referências a vidros nas cenas de Elijah e as escolhas de cores para representar cada personagem (roxo para Elijah e verde para Dunn) ajudam a dar consistência para a história.

Foto: Buena Vista

Mesmo sendo um filme de super-herói disfarçado de drama/suspense, não espere encontrar em Corpo Fechado as fórmulas prontas tão usadas hoje em dia pelos grandes estúdios. A possibilidade de assistir à construção de personagens tão humanos e interessantes é o ponto alto da história. Seja surpresa, curiosidade ou incômodo, certamente algum sentimento o longa-metragem despertará em você. 

Excelente

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