CRÍTICA | Green Book: O Guia


Direção: Peter Farrelly
Roteiro: Peter Farrelly, Nick Vallelonga e Brian Hayes Currie
Elenco: Viggo Mortensen, Mahershala Ali, Linda Cardellini, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2018


A década de 1960 nos Estados Unidos foi um período marcado pelo racismo e pela segregação. Negros sequer podiam frequentar determinados lugares, e se o fizessem, o mínimo que aconteceria seria o abuso e a humilhação. Se insistissem em resistir às regras impostas, eram linchados e vítimas de todo tipo de violência. É dentro desse contexto que se localiza Green Book, o novo filme de Peter Farrelly (Debi & Lóide: Dois Idiotas em Apuros), em uma das raras ocasiões em que o cineasta trabalha sem a co-direção de seu irmão, Bobby Farrelly.

Frank Anthony Vallelonga (Viggo Mortensen), ou simplesmente Tony Lip, é o típico malandro que consegue tudo na base da lábia e se dispõe a fazer qualquer tipo de "bico" para garantir o sustento da família. Sem emprego após a casa de shows na qual trabalhava fechar as portas, ele precisa arrumar um novo trabalho a qualquer custo. Graças a sua fama e força nos punhos, acaba chamado para uma entrevista com ninguém menos que Dr. Don Shelley (Mahershala Ali), famoso pianista, considerado por muitos o melhor de todos os tempos. Doc oferece ao protagonista dois meses de serviço como motorista, devendo conduzi-lo para um circuito de concertos que estão sendo realizados em uma série de estados no sul dos Estados Unidos. Durante o trajeto, Tony precisa estar munido de um guia especial, um livro verde, que relaciona todos os lugares que poderiam ser frequentados por negros naquela época.

Foto: Diamond Films Brasil

O roteiro (co-escrito por Nick Vallelonga, filho de Tony), é baseado em fatos e busca ser didático ao narrar com fidelidade as experiências vividas por Vallelonga, explicitando o problema social que existia (e ainda existe) nos Estados Unidos. Ainda que as situações vividas por Doc em decorrência da cor da sua pele sejam repetitivas, e a necessidade de Tony Lip socorrê-lo e tirá-lo de ocasiões humilhantes possam soar infames atualmente, o que mais agrada em Green Book não é o foco na segregação norte-americana, mas a inversão de culturas e experiências desses dois personagens, com diversos choques de ideias e quebras de expectativas. As transformações pelas quais passam é o grande atrativo aqui.

Se víamos inicialmente um Tony de personalidade forte e apelando para a violência para resolver  seus problemas, aos poucos passamos a enxergar um homem mais sensível, racional e com capacidade de fazer seu chefe perceber que a maior arma contra os desafios da vida é a coragem para enfrentá-los. Trata-se de mais um ótimo trabalho de Viggo Mortensen (Capitão Fantástico), ator que merecia mais reconhecimento da indústria cinematográfica.

Doc, por sua vez, é vivido por Mahershala Ali (Homem-Aranha no Aranhaverso) como um homem de expressão fechada, que enxerga com frieza, diante de si, uma barreira que dificilmente será superada. Aos poucos, porém, demonstra fragilidade perante as situações às quais é submetido, chegando ao ponto de quase sucumbir diante. O personagem reconhece seus pontos fracos e sente que não basta ser um gênio da música se não possui o que é preciso para vencer as barreiras que a vida traz. Um misto de sentimentos e impressões que são muito bem exploradas por Ali.

Foto: Diamond Films Brasil

Sensível, emocionante, didático e, por vezes, hilário, Green Book é um longa-metragem que consegue equilibrar drama e comédia na medida certa, reunindo o trabalho de dois grandes interpretes, sem esquecer de passar importantes mensagens sobre tolerância e aceitação. Sem dúvida uma ótima pedida.

Ótimo

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