CRÍTICA | Homem-Aranha: No Aranhaverso

Direção: Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman
Roteiro: Phil Lord e Rodney Rothman
Elenco: Shameik Moore, Jake Johnson, Hailee Steinfeld, Mahershala Ali, Nicolas Cage, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2018


Homem-Aranha é um personagem intrínseco à cultura pop mundial. Transcende as curvaturas de seu campo demográfico e se comunica de diversas formas com uma zona imensa de públicos variados. O apelo popular do herói é inquestionável, mas muito pouco captado em sua síntese pelas obras cinematográficas que têm invocado-o. E não é nenhuma informação misteriosa ou código secreto permitido apenas aos que dominam vasto conhecimento prévio para traduzi-lo. A resposta não é só simples. Simples é a resposta.

O amigo da vizinhança oferece um charme próprio por ser uma pessoa simples. Nenhum alienígena, herdeiro, herói de guerra ou figura mitológica. Um pequeno jovem atribulado de Nova York que tem de ir para a escola, ajudar a família, conquistar seus amores, descobrir quem é. Homem-Aranha preenche essa categoria fundamental do herói ao acaso, o herói que todos temos a capacidade real e prática de sermos. Não pelo determinismo de nossos destinos, mas pela potência de nosso afeto e humanidade.

Abraçando essa característica tão fundamental para o personagem, Homem-Aranha no Aranhaverso (Spider-Man: Into the Spider-Verse) facilmente se consagra como a melhor adaptação que o herói já recebeu nas salas de cinema. A escolha técnica de animação é um acerto impecável que já entrega tudo do que é capaz nos primeiros cinco minutos. A participação de Phil Lord (Uma Aventura Lego) no roteiro é gritante, sabendo verter de esquemas visuais na linguagem que apenas a animação pode oferecer.

Foto: Sony Pictures

Fora a ótima escolha do estilo gráfico que emula os quadrinhos - inclusive com hilárias metalinguagens - e o ótimo tempo que cada personagem tem para ser introduzido, uma grande vitória de Aranhaverso, que o destaca de seus muitos irmãos desse "cinema de super-herói", é nunca utilizar referências para camuflar escassez de conteúdo autêntico. E estamos falando de um filme que é literalmente um crossover com diversas possibilidades e universos de um personagem. As referências e gags sempre surgem como artifícios para dar continuidade à aventura de Miles Morales (Shameik Moore), o nosso Homem-Aranha protagonista da animação, herdeiro do traje famoso de Peter Parker (Jake Johnson). Na verdade, essa dinâmica acontece tanto que você sempre acha que a peteca vai cair em algum momento, mas o roteiro sustenta.

Não só as coordenadas da trama estão muito bem distribuídas, mas a ambientação é incrivelmente imersiva. Os dubladores apresentam um trabalho cheio de vitalidade (destaque para Jake Johnson,  já que é impossível não sentir saudade de New Girl ouvindo sua voz) e o filme não teme fugir da rotina cristalizada das narrativas de origem para invadir experimentações coloridas e outros recursos como glitchs agressivos para ilustrar crises atômicas entre elementos de universos diferentes.

O que torna este longa assustador, no melhor sentido da palavra, é como ele sabe se utilizar tão adequadamente de todas as figurinhas já desgastadas dos super-heróis, com os quais temos sido embriagados em compulsão, para adentrar novos gêneros e novos destinos.

Foto: Sony Pictures

O grande sucesso que aguarda este filme e a celebração com o qual já está sendo recebido pelo mundo abre um precedente urgente para que nasçam obras de super-heróis com suas próprias finalidades, hipóteses e experiências, não mais como ferramentas insossas de franquias megalomaníacas e de hábitos viciosos. Homem-Aranha no Aranhaverso não é uma figurinha que você precisa coletar para finalizar um álbum, não é um fragmento indolente porém necessário para um suposto finale que compacte tudo. Ele é sua própria aventura.

Excelente


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