CRÍTICA | Suprema


Direção: Mimi Leder
Roteiro: Daniel Stiepleman
Elenco: Felicity Jones, Armie Hammer, Justin Theroux, Kathy Bates, entre ourtos
Origem: EUA
Ano: 2018


Certamente você já ouviu no meio social que “quem tem competência, se estabelece”. Verdade, pois o profissional que não apenas teve destaque na vida acadêmica, tem chance de colher bons frutos e se tornar um profissional de alto nível no mercado de trabalho. Evidentemente, para uma mulher, esse "lema" se torna um grande desafio, uma vez que está inserido em um universo ultraconservador e machista. Suprema (On the Basis of Sex), novo filme da cineasta Mimi Leder (A Corrente do Bem), é uma cinebiografia que conta a trajetória de Ruth Bader Ginsburg, uma advogada especialista em direito de gênero, até se tornar a segunda mulher a alcançar o cargo de juíza da Suprema Corte dos Estados Unidos.

Logo nos primeiros momentos vemos Ruth (Felicity Jones) na conceituada Faculdade de Direito de Harvard, sendo hostilizada e desprezada por professores e colegas, pelo fato de ser mulher. Ela percebe que, além de controlar suas emoções, terá de se impor diante de um cenário opressor para que possa se destacar, tornando-se uma profissional de sucesso. O desafio dela fica maior quando descobre que o marido, Martin Ginsburg (Armie Hammer), está com câncer, isso sem contar que ambos têm uma filha pequena para cuidar.

Após um salto no tempo, vemos que a protagonista concluiu seu curso com êxito, no entanto, tomou um rumo diferente do imaginado, já que foi recusada por dezenas de escritórios de advocacia. Ela então assume um caso que lhe abriria caminho para a Suprema Corte e colocaria o dedo na ferida da sociedade patriarcal norte-americana nos anos 70. Me refiro ao caso de Charles Moritz (Chris Mulkey) contra a Receita Federal, por esta ter negado a ele dedução do imposto de renda no período em que se tornou cuidador de sua mãe enferma. Na ocasião, a legislação norte-americana previa que somente mulheres poderiam ser cuidadora de idosos.

Foto: Diamond Films

Ao assistir boa parte dos dois primeiros atos da obra, é de se pensar que trata-se de mais uma ocasião para falarmos sobre sexismo e misoginia, mas Suprema vai além disso. Os entreveros e intimidações sofridas por Ruth são apenas o pontapé inicial para outras temáticas discutidas, como a discriminação sofrida por um homem solteiro e que não teve um tratamento justo perante a lei. O roteiro do estreante Daniel Stiepleman escolhe um caminho diferente para mostrar ao espectador que a discriminação nem sempre está de apenas um lado, ainda que esteja em maioria. Não apenas mulheres, mas homens, negros, crentes, judeus, pessoas de várias raças e credos sofrem com a intolerância e o ódio, e isso não pode passar batido.

O longa ainda retrata uma Constituição norte-americana bicentenária, mas arcaica e ultrapassada, com um poder Judiciário preso a um sistema anacrônico e não mais eficiente na sociedade contemporânea. Hoje, mulheres têm direito ao voto e de estar na presença de juízes, situações que eram inimagináveis há 100 anos. Hoje, homens e mulheres podem exercer os mesmos cargos, mas estas ainda recebem salários inferiores. A questão dos costumes e dos valores educacionais e sociais são devidamente tratados e discutidos durante o filme.

Felicity Jones (A Teoria de Tudo) brilha como Ruth, uma mulher corajosa, cheia de si e que não dá o braço a torcer. Sua atuação é consistente e faz o público comprar as ideias da personagem, torcendo para que seja bem sucedida. Armie Hammer (Me Chame Pelo Seu Nome) convence como Martin, um marido que luta para que a esposa cresça em seu ofício e apareça diante de uma sociedade com preconceito enraizado e relutante com as diferenças. A surpresa no elenco é Cailee Spaeny (Círculo de Fogo: A Revolta) no papel de Jane, filha de Ruth. Antes incrédula, a personagem apresenta um comportamento revolucionário e inesperado diante das discriminações sofridas por mulheres, se tornando a força motriz da mãe na luta por um mundo igualitário e sem preconceitos.

Foto: Diamond Films

O trabalho de Mimi Leder em Suprema é preciso, necessário e eficiente. E embora a obra não apresente soluções, ela retrata um contexto controverso e que repercute nos dias de hoje, além de uma impressionante e espetacular jornada de uma mulher forte, firme em seus ideais e que se dispôs a "dar sua cara a tapa". Trata-se de um longa-metragem pouco revolucionário, mas que ainda assim não deve ser desperdiçado.

Ótimo

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