CRÍTICA | As Rainhas da Torcida

Direção: Zara Hayes
Roteiro: Shane Atkinson
Elenco: Diane Keaton, Jacki Weaver, Alisha Boe, Celia Weston, entre outros
Origem: Reino Unido / EUA
Ano: 2019


É gratificante reconhecer que as demandas expostas pelos novos moldes em que a cultura pop está imergindo na última década têm contribuído para uma mudança efetiva em todas as escalas da indústria cinematográfica. Principalmente no que concerne à demografias até então muito ignoradas. Não só novas histórias podem ser apresentadas com frescor, como setores da sociedade que até então se contentavam com migalhas de reconhecimento sobre sua existência nos mundos criados em tela podem hoje se encontrar em mais formatos, em diferentes locais. 

Todavia, importante começar destacando este movimento positivo para então dissociá-lo da avaliação do filme, uma vez que a inserção de novos tipos de personagens e grupos que pouco desfrutaram do protagonismo no cinema gera em muitos tamanha empolgação ao ponto de tornarem as críticas condescendentes.

As Rainhas da Torcida (Poms) nos apresenta Alice (Diane Keaton), uma mulher sem família, aparentemente sem amigos ou sem qualquer indício de ter vivido uma vida entre o seu estado atual, em face de um câncer, e sua meninice, onde sonhava ser líder de torcida, algo que nunca pôde realizar.

Diane Keaton (Manhattan) é uma atriz capaz de gravitar todo um filme ao seu redor e nesta obra isso se torna quase necessário, pois sem um contexto lógico ou uma direção firme, o longa parece jogar a responsabilidade para ela desenvolver. Suas decisões parecem sempre se contradizer, mesmo quando a história termina fica difícil acreditar que uma mulher como Alice se entregaria tão fácil a morar num condomínio-asilo de requintes sulistas bregas.

Foto: Diamond Films

Por ser uma obra que almeja trazer holofotes para mulheres na terceira idade, automaticamente chama atenção, ao mesmo tempo em que incorre nos riscos de paternalizar as personagens como velhinhas fofas e inocentes - quase inofensivos mascotes - ao invés de pessoas vividas que carregam consigo sua dose se sonhos guardados e arrependimentos cicatrizados. Para dar uma tônica que equilibre a narrativa, o roteiro introduz Sheryl (Jacki Weaver), a figura da idosa excêntrica, boca-suja e festiva. Como Alice, essa personagem poderia muito bem não fazer o menor sentido, não fosse a atuação elétrica de Weaver (O Lado Bom da Vida) angariando todo o afeto para sua presença em cena.

Sem motivações muito claras, juntas, Alice e Sheryl decidem montar uma equipe de líderes de torcida sem nem mesmo ter um time para o qual torcer, o que é um delírio hilário na busca desamparada por se realizarem. Também seria muito melhor se as outras personagens então inseridas tivessem motivos - mesmo que simples ou rapidamente apresentados - para estarem ali. Durante boa parte da trama elas mal têm nome.

Este protagonismo poderia muito bem ser meramente um recurso plástico utilizado para arrecadar simpatia e boa vontade com um material fraco, mas As Rainhas da Torcida autenticamente direciona momentos para conversar sobre dilemas de mulheres idosas: o corpo condoído já não suporta tanto, pais vulneráveis reféns de filhos que tentam administrá-los como inválidos, casamentos opressivos, a iminência da morte.

É perceptível a boa intenção em comunicar sobre conflitos específicos da idade e de mulheres, não por acaso, um dos filmes anteriores da diretora Zara Hayes foi o documentário The Battle of the Sexes (2013), que falava sobre a misoginia do público tenista com a esportista Billie Jean King. Mas, em muitas cenas, parece que ninguém além de Keaton e Weaver tem o que fazer, sobrando para as outras mulheres o papel de plano de fundo excêntrico.

Foto: Diamond Films

Elipses grosseiras amarram mal a história, tornando-a as vezes menos divertida do que poderia, apesar de ótimas sacadas e o carisma imediato das atrizes que emendam estes tropeços. Particularmente, uma elipse no final não tem a menor elegância, de tão clara que surge para dar um desfecho clássico e clichê para o público. 

Que sejam feitos filmes com esta variedade sempre, e muito mais! Que tomem todas as salas de cinema com a loucura e a diversidade de pessoas e histórias. Mas também, que sejam produzidas obras melhores e mais comprometidas a respeito desses personagens.

Regular

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