CRÍTICA | Spartacus


Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Dalton Trumbo
Elenco: Kirk Douglas, Laurence Olivier, Jean Simmons, John Gavin, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1960


Se hoje vivemos uma onda gigante de filmes de super-heróis e adaptações de quadrinhos, podemos dizer que Spartacus (1960) também foi fruto de uma maré de grandiosas produções históricas que pautou uma geração cinéfila. Apesar do tema popularizado, o longa conseguiu destaque notório vencendo 4 estatuetas do Oscar, marcando seu nome na história cinematográfica para sempre.

Baseada no romance homônimo de Howard Fast, a adaptação começou grande já em seu elenco, ganhando os holofotes por reunir importante nomes da época como Jean Simmons (Eles e Elas), Laurence Olivier (Hamlet), Charles Laughton (O Grande Motim) e a estrela principal, Kirk Douglas (Glória Feita de Sangue), que dá vida ao personagem título.

Na direção, Stanley Kubrick (Barry Lyndon) não foi a primeira opção do estúdio, já que entrou no projeto para substituir o demitido Anthony Mann (Winchester '73). Talvez por isso esse seja o longa menos autoral do cineasta, ainda que seja seu primeiro "grande filme" em Hollywood. Apesar da pouca liberdade criativa, há muito de Kubrick em tela, especialmente do ponto de vista do "espetáculo visual".

Foto: Universal Pictures

O que separa Spartacus de outros filmes de temáticas semelhantes é a importante conotação política e de briga de classes que o diretor traz à tela. Na época, tais temas eram pouco explorados, algo que veríamos mudar drasticamente com o passar dos anos, o que acaba fazendo a obra soar assustadoramente atual até hoje.  Mérito do roteiro sensível e muito bem escrito de Dalton Trumbo (A Princesa e o Plebeu), amigo pessoal de Douglas, que foi um dos responsáveis por trazê-lo para o projeto.

Ao ampliar o escopo das sanguinolentas arenas de combate, Kubrick humaniza os guerreiros que, em boa parte, também eram vítimas daquele momento histórico. Sai o peão de guerra e entra o homem por trás daquela máscara, seja ela real ou não. Como na batalha em que Spartacus perde e tem seu pescoço ameaçado pelo tridente adversário. Apesar de saber se tratar de uma disputa de vida ou morte, o inimigo percebe que a situação de ambos é a mesma, e que a verdadeira guerra é maior que o “circo” que participam.

Os temas sugeridos ganham força graças a ótima atuação de Kirk Douglas, que encontra nas palavras dos discursos proferidos a sutiliza e os sentimentos que o papel carecia, especialmente nas cenas com o amor de sua vida, Varinia (Simmons).

Evidentemente que, após tantos anos, algumas cenas de ação não envelheceram tão bem, apesar de bem filmadas. Ainda que seja injusto julgar, haja visto toda a evolução técnica ao longo dos quase 60 anos passados de seu lançamento, o mesmo sentimento não é percebido com relação a cinematografia de Russell Metty (A Marca da Maldade), que até hoje soa incrível.

Foto: Universal Pictures

"Eu sou Spartacus."

Poucas coisas são tão marcantes ou icônicas quanto a cena em que a frase acima é proferida. Na trilogia Batman dirigida por Christopher Nolan (Interestelar), é abordada a tese de que o Homem-Morcego não é uma pessoa, e sim um ideal. É muito do que acontece em Spartacus. Na cena em que todos os escravos estão reunidos e Crassus (Olivier) e seus soldados decidem livrar todos da crucificação com a condição de que entreguem o protagonista, isso fica bem claro. Quando vemos seus companheiros levantarem e gritarem “Eu sou Spartacus”, um após o outro, até que todas as vozes se tornassem um só grito. Naquele momento o homem morre e a lenda nasce.

Spartacus não é um filme com a assinatura do Stanley Kubrick, como disse anteriormente, mas está longe de ser um longa banal promovido por um estúdio que queria surfar a onda do momento.

Ótimo


-

Eduardo é jornalista e Spartacus.

Comentários