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Postado por
Lívia Campos de Menezes
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Não sou uma aficionada por filmes de super-heróis. O mais recente sucesso do gênero que assisti foi Coringa (2019), mas não o fiz pelo personagem, e sim pelo burburinho que o longa causou ao receber uma série de prêmios pelo trabalho de Joaquin Phoenix (Você Nunca Esteve Realmente Aqui). Portanto, nessa minha análise sobre Batman Begins (2005), não me proponho a fazer comparações com outras produções que trazem o herói como protagonista e, muito menos, trarei referências dos quadrinhos, uma vez que não as possuo. Minha ideia é debater porque eu tive uma grata experiência quando assisti ao longa-metragem pela primeira vez, no ano do seu lançamento, e agora em 2020.
Assim como em outras obras de Christopher Nolan (Insônia), em Batman Begins, a psique e o poder que o controle das emoções exerce nas personagens são peças fundamentais no quebra-cabeça da trama.
Em uma das primeiras cenas, somos apresentados a um Bruce Wayne ainda criança (Gus Lewis) que, brincando com a amiga Rachel (Emma Lockhart), cai num poço e é atacado por morcegos. O acidente causa nele um trauma profundo, gerando crises de ansiedade. Uma delas acontece enquanto assiste a uma ópera com a família. Para resguardar o filho, os pais resolvem deixar o teatro mais cedo e acabam sendo assassinados. A tragédia faz com que o menino desenvolva um sentimento de culpa que o fará isolar-se do mundo e sentir-se desmerecedor da fortuna, a qual confia estar segura nas mãos de funcionários capacitados.
Em uma das primeiras cenas, somos apresentados a um Bruce Wayne ainda criança (Gus Lewis) que, brincando com a amiga Rachel (Emma Lockhart), cai num poço e é atacado por morcegos. O acidente causa nele um trauma profundo, gerando crises de ansiedade. Uma delas acontece enquanto assiste a uma ópera com a família. Para resguardar o filho, os pais resolvem deixar o teatro mais cedo e acabam sendo assassinados. A tragédia faz com que o menino desenvolva um sentimento de culpa que o fará isolar-se do mundo e sentir-se desmerecedor da fortuna, a qual confia estar segura nas mãos de funcionários capacitados.
Medo e culpa são os principais temas que regem a estória aqui. Seja o horror aos morcegos ou a paralisia funcional advinda da morte dos pais, são os fantasmas carregados por Bruce Wayne (Christian Bale) os motores de sua transformação. É em busca de solucionar seus traumas que ele viaja aos “confins do mundo” (na visão hollywoodiana o fim do mundo é quase sempre na Ásia) e aprende com o mestre Henri Ducard (Liam Neeson) tanto a enfrentar seus temores, como a desvendar a alma criminosa.
Quando retorna à cidade de Gotham, ainda com os fantasmas, mas sem os temer como antigamente, o jovem herdeiro, num típico caso de “se não os pode vencer, junte-se a eles”, derrota sua ojeriza a morcegos, passando, inclusive, a usá-los como escudo e arma. No intuito de salvar a cidade que os pais amavam, Bruce transforma-se em Batman – ou, na tradução literal, Homem Morcego.
Admirado por uns e temido por muitos, Batman converte-se em ícone de Gotham, ameaçando os planos do vilão da trama que, num plot twist típico de Nolan, descobrimos ser seu antigo mestre. Ducard não acredita na possibilidade de restauração daquela sociedade corrupta e planeja destruí-la. A arma escolhida pelo ex-mentor não poderia ser mais formidável: um veneno que, ao ser inalado, suscita o pânico. Seu plano é promover a guerra entre os concidadãos e fazer com que eles mesmos sejam os responsáveis pela destruição da cidade.
Para colocar-nos no tom sombrio da trama, Nolan tem um cuidado especial com a cinematografia. Majoritariamente, encontramos as personagens em ambientes escuros. Mesmo ao ar livre, muitas das cenas acontecem à noite ou em dias nublados. Isso é uma representação do que se passa com o protagonista. Assistimos às origens do Batman pelos seus olhos, os quais refletem a culpa e o medo que afligem sua existência. Até quando ele finalmente parece encontrar a paz e o consolo na amiga de infância, Rachel (Katie Holmes), somos surpreendidos, pois, afinal, não é possível haver conclusão plenamente feliz a quem se propõe viver mascarado.
Vale destacar que Christian Bale (Ford vs Ferrri) encarna com excelência o papel do herói. Auxiliado em muito pelo adequado roteiro de Nolan e David S. Goyer (Blade: O Caçador de Vampiros) – os quais propõem uma estória menos cartunista que outras versões – o Batman do galã é empático e frágil. Mais do que torcer para que o protagonista vença a batalha, gostamos de assistir, por exemplo, a amizade entre o herdeiro e seu fiel mordomo, Alfred (Michael Cane), ou a sua incapacidade de se relacionar romanticamente com Rachel.
Em Batman Begins, muito embora o privilégio econômico de Bruce Wayne o coloque acima daqueles com quem divide sua intimidade, ele é mais humano e menos super-herói. Por isso, simpatizamos com sua sede de justiça, necessidade de reparação e desencanto com o mundo. Ao trazer para a tela as aflições do homem, Nolan faz com que o foco seja no desenvolvimento dele e não da lenda. Daí a resposta de porque tive uma grata experiência com essa narrativa.
Ótimo |
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Lívia Campos de Menezes é apaixonada por filmes, séries e boa música (leia-se rock'n'roll). Adora ler e viajar. Mora em São Francisco (CA), onde trabalha como produtora de cinema independente.
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