CRÍTICA | Minority Report: A Nova Lei

Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Scott Frank e Jon Cohen
Elenco: Tom Cruise, Max von Sydow, Colin Farrell, Samantha Morton, Neal McDonough, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2002


Se você tivesse o poder de evitar um crime que ainda não aconteceu, você o faria? É correto condenar alguém por algo que, na prática, ele ainda não cometeu? Mais do que imaginar avanços tecnológicos, o papel da ficção científica é questionar. Minority Report: A Nova Lei (Minority Report) cumpre essa função, abre um leque de perguntas e termina respondendo quase todas de maneira satisfatória. Em alguns momentos até de forma surpreendente.

Em 2054, John Anderton (Tom Cruise) é um dos chefes da organização Pré-Crime, responsável por intervir em casos antes que eles ocorram. Isso só é possível graças a três pessoas, espécies de videntes, chamados precogs. Agatha (Samantha Morton) e os gêmeos tem visões que trazem relances do futuro e revelam o nome da vítima, assassino e horário em que acontecerá. A partir daí, os agentes tem que descobrir o local dentro do tempo restante e impedir que o homicídio aconteça.

Após a implantação do futurístico sistema, Washington consegue reduzir a zero os casos de assassinato na região. Tal feito atraiu todos os olhares possíveis e o governo começa a arregaçar as mangas para torná-lo um programa global.

Todo esse caderno de informações é apresentado em poucos minutos de tela através do “novato” Danny Witwer (Colin Farrell), um investigador que parece destinado a encontrar uma falha humana dentro do processo, o que permitiria ao governo assumir a responsabilidade do projeto e, consequentemente, colher os frutos do seu estrondoso sucesso.

Foto: DreamWorks

Enquanto Danny fuzila os agentes de perguntas, John está em campo liderando uma missão. E diferente de uma narração em off tradicional, ou mesmo colocar o protagonista sentado em um bistrô explicando para um jovem como funciona a empreitada em que está adentrando, o roteiro de Scott Frank (Logan) e Jon Cohen nos leva para dentro da ação, fazendo das perguntas de Danny quase que uma faixa de "comentários do diretor".

Tal escolha vem de encontro com uma das principais discussões que o longa levanta. Afinal, há uma verdade absoluta? Toda e qualquer informação sempre será vista e passada adiante através dos olhos e percepções de alguém. No começo em questão, vemos John acreditando cegamente na visão dos precogs, pois, mais do que o histórico infalível deles, esteve presente no processo desde o primeiro dia. Danny, por outro lado, tem o olhar de alguém totalmente de fora, sendo assim capaz de questionar o procedimento e pontuar questões como: se não foi consumado o crime, como ter a certeza que ele iria ocorrer?

A dúvida acompanha o espectador por toda a jornada, já que boa parte dos questionamentos levantados em Minority Report se aplicam em diversas situações da nossa vida atual. Quantos são julgados e condenados hoje em dia sem terem cometido delito algum? Quantos foram os casos de pessoas presas, espancadas, ou até mortas, por boatos espalhados que, tempos depois, descobriram que não passava de uma mentira?

Podemos não ter precogs em nosso mundo, mas o desejo pelo imediatismo já nos consome há anos. Se tivéssemos acesso a uma inteligência como a proposta pelo filme, o homem não pensaria duas vezes em utiliza-la. Mesmo que, no fundo, não tivesse qualquer controle sobre a fonte de informação. Nada muito diferente da enxurrada de fake news que inundam toda e qualquer rede social atualmente.

Foto: Paramount Pictures

Se hoje o tema é atual, na época do seu lançamento (2002) soava como transgressor, o que deve ter motivado Steven Spielberg (A.I.: Inteligência Artificial) a assumir o projeto, construindo-o de forma mais "pé no chão", sem carros voadores ou máquinas futuristas grandiosas. E aqui vale a menção de que a obra é uma adaptação de um conto do renomado escritor Philip K. Dick, responsável por obras como Androides Sonham Com Carneiros Elétricos? e O Homem do Castelo Alto, que também já foram adaptadas para o cinema e para a TV, respectivamente.

Claro que com quase 20 anos de sua estreia, os efeitos visuais já não impressionam tanto, tornando algumas cenas até um pouco galhofas. Nada que prejudique o resultado final, já que o filme se baseia principalmente no bom roteiro, e nunca exclusivamente nos efeitos e nas cenas de ação, mesmo tendo destinado um grande orçamento para isso.

E ainda que algumas soluções soem um pouco Deus Ex Machina, diminuindo a experiência em uma revisão, nenhuma delas é capaz de apagar o brilho e a capacidade do grande diretor que é Spielberg. Minority Report: A Nova Lei soa atual e extremamente relevante.

Bom




Eduardo é colaborador do Cinéfilo e não dá nem 10 minutos de filmes, já tem Tom Cruise correndo.

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