CRÍTICA | Drácula

Direção: Tod Browning
Roteiro: Hamilton Deane e John L. Balderston
Elenco: Bela Lugosi, Helen Chandler, David Manners, Dwight Frye, Edward Van Sloan, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1931


Para uma audiência acostumada a filmes de terror contemporâneos, Drácula (1931) é praticamente uma comédia. Desde as performances teatrais dos atores, em particular de Bela Lugosi (A Marca do Vampiro), às inclusões de outras bestas no roteiro (um lobisomem é mencionado em uma cena), a trama do início da década de 1930 é muito leve se comparada a outros longas-metragens que adaptaram o romance de Bram Stoker para a telona.

Nessa versão, a trama se inicia com uma carruagem chegando a um entreposto para descarregar alguns passageiros. Entre eles, encontra-se o jovem advogado Renfield (Dwight Frye), o qual não aceita pernoitar na vila, informando aos demais que precisa seguir viagem. Ao mencionar seu destino – o castelo do Conde Drácula (Lugosi) – Renfield é aconselhado a abandonar a missão, porém, ignorando o aviso de todos sobre o caráter sinistro de seu destino final, ele segue caminho. Após uma viagem assustosa, na qual ele vê o cocheiro desaparecer e os cavalos serem guiados por um morcego, Renfield chega ao castelo para colher as assinaturas do aristocrata e concluir a venda da Abadia de Carfax. 

Embora o local seja ainda mais sinistro do que ele imaginara, o advogado não se intimida com o ambiente e nem com seus habitantes, pois acredita que seguirá viagem na manhã seguinte. O excêntrico conde, no entanto, o hipnotiza e o ataca. Dias depois, a bordo de um navio, Renfield aparece como um escravo lunático e delirante de Drácula, que se esconde em um caixão no porão e se alimenta da tripulação do navio.

Quando chegam à Inglaterra, o personagem é descoberto pelas autoridades como a única pessoa viva da tripulação e enviado ao sanatório do Dr. Seward (Herbert Bunston), que fica adjacente à Abadia de Carfax. Já instalado em sua nova morada, Conde Drácula aproxima-se do Dr. Seward e sua filha Mina (Helen Chandler), pela qual o vampiro fica fascinado. Drácula consegue hipnotizar a donzela, porém, seus planos de transformá-la em mais uma de suas noivas é ameaçado quando o caçador de vampiros, Dr. Abraham Van Helsing (Edward Van Sloan) chega à Londres. 

Universal Pictures

Os roteiristas Hamilton Deane e John L. Balderston (O Homem Que Mudou de Alma) utilizaram como base a peça de Garret Fort, e não diretamente o livro de Bram Stoker, nessa adaptação. Talvez seja esse fato, aliado à atuação "exagerada" típica da época (resquícios do cinema mudo), que faça com que o filme soe bastante teatral e falhe numa regra básica de roteiro: mostre, não conte. Há vários momentos que as personagens descrevem acontecimentos ao invés de deixar o público vê-los, o que acaba por diminuir a dramatização e acelerar o ritmo, impedindo que o suspense tome forma e assuste de fato. 

Hoje é impossível imaginar outro ator no papel principal, mas Lugosi não foi a primeira escolha do diretor Tod Browning (Monstros), já que o ator Lon Chaney (O Fantasma da Ópera) teria estrelado o longa, caso não tivesse morrido pouco antes das filmagens. A substituição, no entanto, não poderia ter sido mais bem-sucedida. Lugosi encarna a personagem de maneira ideal, servindo de inspiração até hoje para os vampiros modernos. Com seu olhar penetrante e sotaque romeno legítimo, ele é a personificação do monstro e sabe usar os close-ups de forma a captar a atenção e hipnotizar o espectador. Não é difícil de imaginar uma plateia em 1931 amedrontada pelo jeito sinistro desse ator inigualável. 

Agora, o destaque da obra é, sem dúvida, a cinematografia de Karl Freund (Metrópolis), o qual, inclusive, viria a dirigir outro clássico do terror hollywoodiano, A Múmia (1932). Estabelecendo um excelente jogo de luz e sombras, aliado às imagens perturbadoras, Freund prova ser o parceiro ideal de Browning, conseguindo dar vida ao material macabro idealizado pelo diretor, criando uma arrepiante fotografia em preto e branco.

Drácula pode não ser "o filme mais arrepiante e genuinamente assustador já feito", como anunciado na época de seu lançamento, mas é um clássico indispensável a todo cinéfilo que se preze.

Universal Pictures


Ótimo

   

Lívia Campos de Menezes é apaixonada por filmes e séries de TV. Adora ler, viajar e produzir conteúdo sobre cinema. Atualmente se esconde da pandemia de COVID-19 nas montanhas do Colorado e trabalha, remotamente, para vários festivais de cinema nos Estados Unidos.

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