CRÍTICA | Ela Vai Ter Um Bebê

Direção: John Hughes
Roteiro: John Hughes
Elenco: Kevin Bacon, Elizabeth McGovern, Alec Baldwin, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1988


Como boa fã de Clube dos Cinco (1985) e Curtindo a Vida Adoidado (1986), eu tinha grandes expectativas quando finalmente decidi assistir a Ela Vai Ter Um Bebê (She’s Having a Baby), de John Hughes (Antes Só Do Que Mal Acompanhado). Infelizmente tive uma surpresa ruim ao descobrir um filme de roteiro raso, personagens superficiais e ponto de vista misógino.

O filme começa no dia do casamento de Jake (Kevin Bacon) e Kristy (Elizabeth McGovern). Relutante, o rapaz chega à igreja acompanhado do padrinho e melhor amigo, Davis (Alec Baldwin), que não está muito contente em ver o camarada se casar tão jovem, provavelmente abandonando o sonho de ser escritor. Davis deixa sua preocupação clara, mas também encoraja o amigo a seguir seu destino, dizendo que ele provavelmente será feliz, apesar de não o saber ainda. Mesmo em dúvida, Jake resolve casar-se, pois entende que é correto ficar com a mulher pela qual se apaixonou à primeira vista.

A partir daí, Jake passa a narrar sua visão deprimida da vida de casado. Com a justificativa de que ama Kristy, ele molda sua existência para agradar à sociedade, arrumando um emprego numa agência de publicidade, comprando uma casa e, por fim, tentando engravidar a esposa.

No entanto, embora a narração seja usada como espinha dorsal da trama, tentando mostrar ao público que Jake amadurece, explicando que suas ações fazem parte do aprendizado para se tornar uma pessoa melhor, o artifício soa forçado, já que as cenas não entregam nenhuma transformação de fato. Pelo contrário, o protagonista se mostra egoísta e sem propósito. Ele diz amar Kristy e fazer tudo por ela, mas não tarda em fantasiar um romance com uma modelo exótica e de sotaque estrangeiro durante boa parte da obra. O personagem age como se fosse prisioneiro da própria sorte, um coitado que inveja a vida de solteiro do amigo Davis. Mesmo ao final, quando sofre devido à possibilidade de ver Kristy morrer no parto, tudo soa muito artificial e difícil de comprar seu amadurecimento.

Foto: Paramount Pictures

É fato que o protagonista do filme é Jake e, por isso, a trama é centrada no que ele pensa, mas é irritante a maneira como a personagem de Elizabeth McGovern (Downton Abbey) é relegada à esposa supostamente frágil, mas manipuladora. Um bom exemplo é quando Kristy decide parar de tomar anticoncepcional de uma hora pra outra, sem sequer conversar com Jake sobre o assunto. Para piorar, quando, após meses sem a medicação, ela não consegue engravidar, Kristy joga na cara do marido que eles têm um problema e praticamente o força a fazer um tratamento para conceber. Isso sem contar que o roteiro de Hughes trabalha de forma a fazer com que pensemos que ela teve um caso, ou, no mínimo, sente um amor platônico, por Davis. O que não precede, afinal.

Mas falando em Davis, nada pior do que o próprio, interpretado por Alec Baldwin (30 Rock). Claro que a ideia é mostrar sua superficialidade e o quão amigo da onça ele é, mas chega a ser risível algumas cenas em que ele aparece. Apesar de servir como um contraponto para o amigo - Jake se compara o tempo todo à forma livre com que Davis, diferente dele, não se conformou com a vida suburbana - o fato é que o personagem não é bem explorado. Ele é apenas fútil, raso e cabe à Kristy resistir à tentação de trair o marido com ele, fato que não resulta em nada para a o amadurecimento de Jake.

E se há algo de bom a ressaltar no longa é vermos um jovem Kevin Bacon (X-Men: Primeira Classe) em tela, trazendo graça a um protagonista que, fosse interpretado por algum outro, poderia soar terrivelmente enfadonho e chato.

Outro ponto positivo é a forma engraçada como a trilha sonora é incorporada na trama. Meu momento preferido é quando, em uma festa da vizinhança nova do casal, Jake visualiza seus novos vizinhos dançando com cortadores de grama, enquanto suas esposas cuidam da boa aparência e servem limonada aos maridos trabalhadores. A cena é hilária e demonstra bem a mudança de fase do jovem casal, que agora se vê discutindo marcas de utensílios domésticos, no caso de Jake; e receitas, no caso de Kristy. 

Foto: Paramount Pictures

A sensação que fica ao terminarmos de assistir Ela Vai Ter Um Bebê é a de acompanhar a estória de um casal que empurra a vida com a barriga e toma pra si responsabilidades que não desejam, mas que a sociedade espera deles. Nesse sentido, o filme é bem-sucedido, porque retrata a vida de muitos jovens, principalmente na época em que o filme foi rodado. Porém, a proposta de Hughes é menos fazer uma crítica à essa visão conservadora da vida e mais apresentar o amadurecimento do casal, especialmente de Jake. Nisso, ele é falho. A falta de empatia para com as personagens e a má amarração do roteiro entrega uma obra sem graça e previsível.

Regular


Lívia Campos de Menezes é apaixonada por filmes, séries e boa música (leia-se rock'n'roll). Adora ler e viajar. Mora em São Francisco (CA), onde trabalha como produtora de cinema independente.

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