CRÍTICA | A Incrível Aventura de Rick Baker

Direção: Taika Waititi
Roteiro: Taika Waititi
Elenco: Julian Dennison, Sam Neill, Rima Te Wiata, Rachel House, Taika Waititi, entre outros
Origem: Nova Zelândia
Ano: 2016


Uma das coisas que mais me encanta nos filmes do neozelandês Taika Waititi (O Que Fazemos Nas Sombras) é como ele consegue tratar com leveza temas sérios, ou mesmo trazer reflexões em meio à comédia. Seja com um Hitler amigo imaginário em Jojo Rabbit (2019), ou dando profundidade a um personagem até então jogado para escanteio pela Marvel Studios, como fez em Thor: Ragnarok (2017). Tais produções se embebedam de sátiras, mas sem perder a compostura e o norte de contar uma boa história.

E talvez não haja melhor exemplo disso do que A Incrível Aventura de Rick Baker (Hunt for the Wilderpeople), adaptação do livro Wild Pork and Watercress, de Barry Crump, que conta a história do relacionamento do pequeno Rick (Julian Dennison) com o casal Bella (Rima Te Wiata) e, principalmente, Hec (Sam Neill).

Depois de ser abandonado por sua mãe, Rick é levado pela polícia até uma pequena cabana no meio do nada, onde vive o pacato casal. A partir do encontro, uma série de acontecimentos aproximam Rick e Hec, fazendo-os sobreviver em meio a selva por longos e longos dias. Podendo enxergar que, mesmo em suas inúmeras diferenças, há muito o que se aprender mutuamente. 

Trata-se de uma obra sobre amadurecimento, olhada por diversos prismas diferentes, por assim dizer. De um lado, um garoto rebelde que não sabe o que é ter atenção ou carinho. Do outro, alguém com tanta experiência, mas fechado como um cofre. Os medos e fraquezas os unem, culminando em uma jornada única, bem ao estilo Taika.

Foto: Piki Films

E não há melhor cenário para tudo isso do que a terra natal do diretor: a encantadora Nova Zelândia.

Palco de super produções, como a trilogia O Senhor dos Anéis (2001-2003), o país abriga dezenas de belezas naturais impressionantes e Taika, juntamente do cinematógrafo Lachlan Milne (Pequenos Monstros), não perde tempo em fazer das locações um dos principais personagens de seu filme. Seja nos abusados e bem feitos planos aéreos, que nos fazem recordar das longas jornadas a pé em A Sociedade do Anel, ou nas montagens de extremo bom gosto que servem de passagem de tempo, ou mesmo para nos conectar melhor com os protagonistas e com a situação onde se encontram.

Tudo aqui respira o estilo do eloquente diretor. Da trilha sonora impecável (com destaque para "Sinnerman" da Nina Simone) aos closes um tanto quanto desconfortáveis e tão característicos dele. Taika parece ter pleno controle sobre tudo e consegue registrar sua assinatura, sem que seus artifícios soem gratuitos.

Esse ar de comédia pastelão com épico de aventura não só dá uma cara sessão da tarde para a produção, como também casa muito bem com esse seu estilo singular. Porém, não se engane, A Incrível Aventura de Rick Baker tem muito a nos dizer, mais do que, a princípio, seu calado tio consegue.

Foto: Piki Films

Desde aprender a lidar com a mudança, até a dor que é seguir em frente quando tudo parece desmoronar. Como bem diz o título, se trata de uma incrível aventura. Não somente pela selva, mas para dentro de si mesmo. 

Ótimo

   

Eduardo é colaborador do Cinéfilo e queria ter, ao menos, metade do estilo que o Taika tem.

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