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Postado por
Isabelle Carvalho
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Direção: Gore Verbinski Roteiro: Ehren Kruger Elenco: Naomi Watts, Martin Henderson, David Dorfman, Brian Cox, Daveigh Chase, entre outros Origem: EUA Ano: 2002 |
Inicio este crítica com uma reflexão. Por que filmes de terror são tão apreciados se seus temas são recobertos de elementos que nos causam rejeição e repugnância? As histórias de fantasmas estão presentes em nossa cultura há séculos sob as mais diferentes roupagens, mas o quê de tão atraente elas contêm? Por que gostamos de sentir medo?
A lógica por trás dessa atração pode estar no fato de que “o sonho de terror é, na verdade, uma maneira de extravasar um desconforto, e pode ser que os sonhos de terror dos meios de comunicação de massa possam se tornar um divã de analista de âmbito nacional”, de acordo com o mestre do terror, Stephen King.
Catarse. Quase uma cura emocional, alcançada com a exteriorização de sentimentos reprimidos. Ainda mais quando os monstros possuem traços com que possamos nos identificar. Talvez este seja um dos fatores mais expressivos ao categorizarmos O Chamado (The Ring) como um jovem clássico do gênero. Quem não se apiedou da garotinha que foi morta pelo pai por ser diferente? Samara, em sua vingança, criou sua própria catarse.
O Chamado foi o primeiro de uma série de filmes japoneses a serem adaptados para a cultura ocidental. Na trama, a jornalista Rachel Keller (Naomi Watts) resolve investigar a misteriosa morte de sua sobrinha, que morre após assistir a um vídeo com estranhas imagens. Depois dela mesma assistir as filmagens, recebe uma ligação em que uma voz diz de forma horripilante: “sete dias”. A partir disso, a protagonista começa uma jornada para descobrir a origem da fita e desvendar seu mistério.
DreamWorks |
A produção não precisa se apoiar em cenas de violência gráfica. O horror é comedido, é silencioso, é sufocante. O suspense é onipresente e se faz ver em sinais, como a televisão, o telefone, a água e a lógica do surreal, em que imagens de pesadelos derramam na realidade. As próprias cenas da fita são um filme de terror à parte e não têm nada de aterrorizante à primeira vista. No entanto, é justamente este surrealismo e falta de linearidade que assustam a mente contínua humana. A falta de sentido nos abala.
Tecnicamente falando, a trilha sonora de Hans Zimmer (Interestelar), a cinematografia de Bojan Bazelli (Rei de Nova York) e a direção de Gore Verbinski (Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra) são responsáveis pelo êxito em criar essa atmosfera de tensão e claustrofobia, que nos dá a impressão de um sonho ruim e inescapável. Vamos, aos poucos, junto com Rachel, desvendando as camadas desse mistério.
Outro ponto bastante interessante é o uso da televisão como receptáculo do mal. Na era em que as mídias estão em toda parte – onipresentes – o longa-metragem traz uma correlação relevante com os possíveis males das tecnologias que estão dentro de nossas casas, uma crítica atemporal.
A continuação de O Chamado, lançada em 2005, segue o mesmo ritmo e tom do original, configurando outra grande obra do terror. Já sobre o terceiro, lançado em 2017, perde-se a essência que tornou a franquia grandiosa. Continua válido – e sinistro – assistir aos dois primeiros. Mesmo agora, ao revê-lo, apesar da minha mente racionar e saber o contrário, fiquei com a sensação de que o telefone ia tocar. Uma impressão incômoda do inconsciente, como um sonho angustiante difícil de esquecer.
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