CRÍTICA | O Inquilino

Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski e Gérard Brach
Elenco: Roman Polanski, Isabelle Adjani, Bernard Fresson, Jo Van Fleet, entre outros
Origem: França / EUA
Ano: 1976



O Inquilino (Le Locataire) é a terceira parte da - considerada por muitos cinéfilos - "trilogia do apartamento" de Roman Polanski (Busca Frenética). Ao lado de Repulsa ao Sexo (1965) e O Bebê de Rosemary (1968) a obra é um terror psicológico que lida com a degradação da mente humana de forma particular e sempre muito competente por parte do diretor.

A história se passa em Paris, na França, onde Trelkovsky (Polanski) é o novo inquilino de um prédio que acaba de sofrer com o trauma de uma moradora que se atirou da janela de seu quarto. O detalhe é que a mulher suicida era a antiga inquilina do apartamento alugado pelo protagonista, fato que passa a perturbar sua mente aos poucos, fazendo-o perder a sanidade a medida que a trama se desenvolve.

Toda a construção do declínio mental de Trelkovsky é desenvolvido cuidadosamente pelo roteiro de Polanski e Gérard Branch (Tess: Uma Lição de Vida), que vai dando pistas do que levou a antiga moradora a cometer tal ato, a medida que leva o protagonista a inevitavelmente repetir tais passos. E é "divertido" revisitar o filme para enxergar com clareza a junção de todos esses elementos ao término da narrativa.

O longa, como todo bom suspense psicológico, mexe com as emoções do espectador de forma íntima, mas nem sempre conseguimos compreender os motivos da perturbação que estamos sentindo. Isso se dá pelas escolhas da direção de Polanski, que substitui a falta de orçamento por criatividade, usando e abusando de efeitos práticos e ilusões de ótica para criar os momentos mais inquietantes de sua história.

Marianne Productions

Um ótimo exemplo é quando vemos Trelkovsky, ardendo em febre em sua cama, tentando agarrar uma garrafa d'água em cima da cadeira. O protagonista não consegue alcançá-la, passando a sensação de que o objeto não existe. E de fato não existia, já que trata-se de uma imagem unidimensional que, em perspectiva, faz o espectador acreditar que ali encontrava-se uma garrafa.

Em outro momento, o personagem caminha com dificuldade pelos corredores do prédio, que parece se mover e desfigurar. Para criar esse efeito em tela, e na percepção do espectador, o diretor construiu um set que evidencia a confusão mental do protagonista, com escadas que não levam a lugar algum e um chão propositalmente inclinado. Dessa forma, a sensação de confusão é genuína, pois o cenário foi construído dessa forma.

Em tempos contemporâneos, onde os efeitos digitais imperam nas obras cinematográficas, seria muito difícil ver algo assim, o que é lamentável. Assistir as cenas de perspectiva forçada causam um efeito único no público, tornando O Inquilino um filme a se destacar dentro de um gênero tão prolifero.

Outro ponto a se destacar é falta de resposta para todos os mistérios empregados em tela, como o dos hieróglifos desenhados no banheiro comum do prédio. Elementos egípcios, aliás, aparecem também no apartamento do protagonista, mas nunca dizem exatamente ao que vieram. Cabe ao espectador teorizar e criar suas próprias respostas para algo que exerce sua importância na trama, mas não é de todo relevante para seu desfecho.

Marianne Productions

O Inquilino
pode não ser um filme tão conhecido do grande público, nem costuma figurar nas listas de melhores filmes do gênero, mas trata-se de uma ótima obra e que merece ser assistida, como a maioria dos trabalhos de Roman Polanski (apesar dos pesares que todos sabemos). Pra quem ama suspense/terror psicológico é praticamente obrigatório.

Ótimo

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