CRÍTICA | O Massacre da Serra Elétrica

Direção: Tobe Hooper
Roteiro: Tobe Hooper e Kim Henkel
Elenco: Marilyn Burns, Allen Danziger, Paul A. Partain, William Vail, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1974


Atenção! Essa crítica contém spoilers.

Um grupo de jovens em território desconhecido se perde em algum lugar numa cidade interiorana. Um serial killer aparece e acaba matando todos eles, um a um, com exceção de uma personagem, geralmente mulher, que é a única que consegue escapar das garras do assassino. Em 2020 esse enredo pode acabar se encaixando em grande parte das produções de terror, mas nos anos 1980, apenas um combinava com a descrição.

O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chain Saw Massacre), dirigido por Tobe Hooper (Poltergeist: O Fenômeno) em 1974, é um dos filmes mais importantes e cultuados do gênero. Alguns anos se passaram até que a produção ganhasse todo o prestígio que tem hoje, já que, na época, obras do gênero de terror eram ainda mais mal vistas, já que nem mesmo eram consideradas como arte.

O longa passou por problemas de orçamento e muitos conflitos durante a filmagem, como exigências dos atores e extensas horas de rodagem, que deixavam todos estressados. No entanto, foi o filme que estabeleceu a estrutura do subgênero slasher, em que apresentou o conceito do assassino que mata predominantemente com armas não-convencionais e da final girl. Ao lado de obras como Halloween: A Noite do Terror (1978), Sexta-Feira 13 (1980) e A Hora do Pesadelo (1984), é um dos filmes obrigatórios na filmografia dos fãs de terror.

Fora das telas, também foi revolucionário em sua ação de marketing, já que o diretor escalou atores desconhecidos em uma tentativa de insinuar que os eventos retratados nos filmes eram reais, semelhante com o que aconteceu mais tarde em A Bruxa de Blair (1999).

Vortex

O enredo acompanha cinco amigos que viajam em uma kombi e estão passando pelo território do Texas. No meio da estrada, logo após um matadouro, eles percebem que a gasolina está prestes a acabar e tentam abastecer. Sem sucesso, eles decidem visitar a casa de infância de dois dos protagonistas Franklin (Paul A. Partain) e Sally Hardesty (Marilyn Burns).

A casa está totalmente abandonada em meio a um pantanal, em um local longe de qualquer sinal de civilização. Mal sabem eles que, a poucos metros dali, vive uma família canibal e um serial killer que mata suas vítimas com uma máscara de pele humana, chamado Leatherface (Gunnar Hansen).

Os integrantes do grupo pouco a pouco começam a sumir, sobrando apenas os irmãos Franklin e Sally, que estão esperando o retorno dos demais para seguir viagem. Enquanto eles esperam, o diretor apresenta ao público o interior da casa misteriosa e as figuras horripilantes que lá vivem.

Os cenários do abatedouro não são considerados tão gore quanto em produções que estariam por vir, mas usam da dosagem certa de sangue e restos de carne humana para provocar repulsa no espectador.

Isso é mesclado com ambientes vazios e sombrios, que dão a impressão de que o inimigo pode estar em qualquer lugar, mantendo a adrenalina lá em cima. Sem contar a composição das cenas e a direção de fotografia, que foram muito bem executadas - mesmo com a escassez de dinheiro - e conseguem intensificar a imersão na experiência, além render imagens visualmente deslumbrantes.

Conhecemos Leatherface nesse meio tempo. Apesar de ser um matador a sangue frio, a impressão que se dá é de que o vilão tem sérios distúrbios mentais e não está completamente ciente da situação em que está inserido. É interessante quando o roteiro opta por criar um assassino destrambelhado e que não é totalmente frio e calculista, já que isso dá o efeito de maior aproximação entre real e fictício.

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Ao cair da noite, os irmãos se deparam com o assassino e partem para uma perseguição claustrofóbica entre árvores e plantas. A agonia é intensificada, já que Sally empurra Franklin, que é cadeirante, e o espectador só fica esperando o momento em que o lobo alcançará os cordeiros. Franklin morre, mas Sally consegue correr até o posto de gasolina onde esteve mais cedo para pedir ajuda.

Este é o momento em que o filme é contextualizado e entende-se que Leatherface não age sozinho, mas ao lado de seu irmão, creditado como o Caroneiro (Edwin Neal), já que o grupo deu carona a ele no início do filme, e Vovô (John Dugan), o dono do posto de gasolina e patriarca da família. Mesmo que tenha uma aparência mais “normal”, Vovô é o personagem mais assustador e asqueroso da trama por ser o “cérebro” das operações.

Os três sequestram e caçam pessoas para preparar banquetes repletos de carne humana. É em frente a uma mesa dessa que Sally é amarrada pela família, que a faz assisti-los devorar os pratos. A protagonista eventualmente consegue escapar e luta por sua vida.

As sequências finais de O Massacre da Serra Elétrica são impressionantes por sua sagacidade e pela inteligência da personagem feminina não ser menosprezada. Ao fazer escolhas realmente inteligentes, o roteiro foge das opções óbvias e torna a relação entre personagem e público envolvente e muito mais conectada.

Aliás, toda construção de personagens é muito bem pensada. Nos anos 1970, os Estados Unidos passavam por um choque cultural causado pela ascensão do movimento hippie. O Massacre da Serra Elétrica reforça estereótipos dos dois lados, tanto para os jovens como para os rednecks, que seria o estereótipo do homem branco pobre do interior. Essa escolha é inteligente por conseguir abranger um público maior, já que o diretor não opta por “proteger” um lado ou outro.

   

A sequência final, em que Sally tenta escapar ao pedir carona na rodovia, é triunfal e eletrizante. Principalmente a última cena, em que a final girl está coberta de sangue (curiosidade: uma quantidade considerável do sangue na atriz é real, já que ela se machucou em diversos momentos na gravação da última perseguição) na traseira de uma picape e Leatherface gira a motosserra (não, não é uma serra elétrica) no ar, alucinado.

O momento é catártico e cheio de verve tanto para a sobrevivente quanto para o assassino, frustrado por não ter conseguido acabar com a última vítima. Já para o espectador, fica a certeza de que as imagens ficarão presas na cabeça por muito tempo depois do fim dos créditos.

Excelente

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