CRÍTICA | Diego Maradona

Direção: Asif Kapadia
Elenco: Diego Armando Maradona, Pelé, Claudia Villafañe, entre outros
Origem: Reino Unido
Ano: 2019 

Há algum tempo vinha querendo assistir a Diego Maradona (2019), documentário dirigido pelo britânico Asif Kapadia (Um Guerreiro Solitário), cineasta responsável por dois outros documentários que considero essenciais: Senna (2010), sobre a vida do icônico piloto brasileiro Ayrton Senna; e Amy (2015) sobre a ascensão e declínio meteóricos da cantora britânica Amy Winehouse. Com a notícia da partida de Diego, surgiu a oportunidade de conferir a obra e me senti compelido a escrever a respeito.

Como o nome sugere, o longa se propõe a biografar o icônico jogador argentino, mas escolhe um período de tempo específico para voltar sua atenção: o seu auge enquanto atleta e o início de seu declínio enquanto pessoa. Curiosamente, o ponto de partida e término da narrativa estão atrelados a sua chegada e despedida de Nápoles, entre os anos de 1984 e 1991, tempo em que biografado defendeu o Napoli, tradicional time italiano, mas de pouca expressão nacional por não ter conquistados títulos relevantes até então.

Apesar de estarmos falando de apenas 7 anos de jornada, trata-se de um intervalo riquíssimo de acontecimentos. Esportivamente falando, Maradona venceu a Copa do Mundo de 1986 com a seleção argentina e conduziu o Napoli a 2 títulos nacionais (1986/1987 e 1989/1990) e um título continental (a Copa da UEFA de 1989/1990). Em todas as conquistas foi protagonista indiscutível de seus times, considerado Deus por suas torcidas até hoje.

Quando voltamos a atenção para a vida pessoal do jogador, meses após a conquista da Copa do Mundo, se viu envolvido em um escândalo extra conjugal, quando uma amante deu a luz a seu primeiro filho, cuja paternidade só foi reconhecida por Maradona em 2016, após 30 anos de negação. Seu auge futebolístico também marcou o descontrole com as noitadas e o vício em cocaína, que passaram a afetar sua conduta com a família e o fizeram "refém" de uma relação abusiva com a Camorra, a máfia napolitana.

Film4

Ao limitar a linha do tempo do biografado, Kapadia traça um interessante paralelo com seus outros dois documentários já mencionados no início desta crítica, uma vez que fica evidente sua fascinação pela ascensão e queda meteórica de três personalidades geniais que transcenderam seus ofícios e ganharam popularidade mundial. Assim como Senna, Maradona é uma figura quase religiosa para muitos. Assim como Amy, Maradona teve sua jornada estelar sabotada pela dependência química.

O longa é estruturado a partir de 500 horas de filmagens nunca antes exibidas e narrações do próprio jogador (em momentos chave), e alguns personagens importantes de sua vida. Vemos diversas entrevistas e matérias exibidas ao longo dos anos, além de momentos icônicos de Maradona dentro de campo, como seus memoráveis aquecimentos - onde demonstrava extremo domínio com a bola - e a partida emblemática contra a Inglaterra na Copa de 1986 com dois gols icônicos: a mão de Deus e aquele em que dribla meio time inglês para marcar.

Me chama a atenção o olhar "isento" exercido por Kapadia. O cineasta não deixa de mostrar os principais feitos futebolísticos do biografado, mas, ao mesmo tempo, não se rende à paixão romântica do futebol. Diego Armando Maradona é retratado como um ser humano, capaz de realizar feitos geniais em seu esporte, mas repleto de defeitos e fraquezas que o impactaram profundamente ao longo da vida. Para fãs fanáticos isso pode ser um ponto negativo, mas é ótimo para quem ama um bom documentário biográfico.

Vale mencionar ainda a trilha sonora composta pelo brasileiro Antonio Pinto (Central do Brasil), parceiro habitual do diretor, que confere emoção na medida certa em diversos momentos da narrativa. Seu trabalho, aliado a eficiente montagem de Chris King (Saída pela Loja de Presentes), jamais deixa o espectador cansado ou desinteressado pela produção.

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Diego Maradona fecha (ao menos até aqui) uma trinca invejável de biografias conduzidas por Asif Kapadia. Uma obra que já nasceu relevante por se propor a documentar um período chave da vida de um jogador lendário e que, infelizmente, acaba ganhando ainda mais importância após a partida do mesmo. Particularmente, por ter nascido em 1988 e ter vivenciado apenas o pós-carreira de Maradona, foi um prazer poder conhecer mais sobre o seu auge e, principalmente, o impacto do sucesso em sua vida.

Ótimo


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