CRÍTICA | Seven: Os Sete Crimes Capitais

Direção: David Fincher
Roteiro: Andrew Kevin Walker
Elenco: Brad Pitt, Morgan Freeman, Gwyneth Paltrow, Kevin Spacey, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1995


É difícil de imaginar que David Fincher (Mank) poderia não ter construído uma carreira tão sólida e, por consequência, não estar a frente de tantos projetos celebrados no mundo cinematográfico. Após a difícil experiência na produção de seu primeiro longa, Alien 3 (1992), foi isso que quase aconteceu, não fosse o roteiro catártico de Andrew Kevin Walker (A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça) chegar até suas mãos e trazê-lo de volta para a direção de um longa-metragem. Foi assim que surgiu Seven: Os Sete Crimes Capitais (Se7en).

À primeira vista, a experiência com Seven é única. Trata-se de uma obra que traz em sua essência o impacto de seu desfecho, o qual faz toda a diferença em como a produção ressoará no espectador. É o tipo de história que você pode até não se atentar aos inúmeros detalhes e esquecer alguns pontos da trama, mas jamais esquecerá o final. E isso acontece não só pelo conteúdo extremamente pesado apresentado em seu encerramento, mas também pela soberba condução que leva até este ponto. É nítido como roteiro e direção caminham perfeitamente aqui.

Na trama o detetive Somerset (Morgan Freeman) está prestes a se aposentar, literalmente em sua última semana na polícia, ao mesmo tempo que ocorre a transferência do detetive Mills (Brad Pitt) para sua unidade, um jovem policial impetuoso e idealista. O que deveria ser uma semana tranquila de adaptação para ambos - a saída de um e a chegada do outro - logo toma outro rumo com a notícia de uma morte pavorosa e com requintes de sadismo. No dia seguinte um outro homicídio alcança uma proporção maior com a morte de um conhecido promotor, e uma "mensagem" com a palavra AVAREZA escrita à sangue no local do crime. Logo identifica-se um padrão entre um caso e outro, levando à discussão dos sete crimes capitais e no que cada um consiste.

New Line Cinema

Um grande ponto da obra é a forma como as forças opostas caminham lado a lado. Vemos isso desde a relação dos detetives - o policial exausto, sozinho, pessimista com as tragédias que vivenciou e que não se vê mais em posição de exercer o papel da lei por não acreditar nela; e o novato enérgico, apaixonado pela esposa (Gwyneth Paltrow) e pela ideologia do cargo que desempenha, mas que ainda não possui maturidade para lidar com um caso complexo como o dos sete crimes. O roteiro de Walker faz uso desse conflito já conhecido em outros filmes policiais, mas aqui traz uma roupagem muito bem explorada e menos óbvia.

Outra forma de observar a oposição temática de Seven são os próprios recursos técnicos, fundamentais para o entendimento da mensagem visual do filme. Fincher utiliza da cinematografia de Darius Khondji (Meia-Noite em Paris) de forma simbólica, como nas cenas de chuva ininterrupta quando a história se desenvolve na cidade, e a aparição do sol no momento de resolução da trama, ou no contraste das cores na composição cenográfica dos personagen, e até mesmo na forma como utiliza os enquadramentos combinados com o movimentos da câmera. O diretor usa e abusa de recursos técnicos simples, mas que fazem toda a diferença quando transpostos ao movimento das imagens, características que se tornariam constantes em sua filmografia.

Seven também reinventa o tipo de história que traz o serial killer como estudo. Aliar os sete crimes capitais com a motivação do assassino já é uma sacada deveras interessante do roteiro, mas a forma como a direção de Fincher expõe o sujeito nas poucas cenas em que aparece (que são hipnotizantes) diz muito também sobre o motivo do longa ter se tornado tão fascinante, mesmo abordando temáticas já batidas.

Todo cuidado é pouco ao comentar sobre Se7ven, pois a experiência de quem nunca assistiu  ao filme pode ser afetada com a exposição de alguns detalhes. O que não dá pra deixar de falar é sobre toda a carga dramática empregada e a forma profunda como ela nos atinge, especialmente nas ótimas atuações do elenco, que contribuem totalmente para essa proposta.

New Line Cinema

Vale mencionar ainda que Seven foi apenas o segundo filme de David Fincher na direção, o que é difícil de acreditar tamanha sua habilidosa desenvoltura em conduzir atores, ideias e técnicas para a conversão da mensagem final. E assim como a visão do serial killer e as opiniões do detetive Somerset, essa mensagem é pessimista e perturbadora, mesmo que ambas as percepções dos personagens caminhem em posições opostas. O resultado é um desfecho amargo, mas com uma faísca de esperança que pode mudar a vida de todos os envolvidos.

Ótimo


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