CRÍTICA | Pateta: O Filme

Direção: Kevin Lima
Roteiro: Jymn Magon, Chris Matheson e Brian Pimental
Elenco: Jason Marsden, Bill Farmer, Kellie Martin, Jim Cummings, entre outros
Origem: EUA / Austrália / França / Canadá
Ano: 1995

Depois de adulto, assistir novamente um filme que marcou muito a sua infância é sempre uma empreitada arriscada. As vezes é melhor ficar com a lembrança mágica daquela obra "perfeita" que amamos, sem enxergar as falhas que nossa experiência cinematográfica nos faz perceber. Isso porque a famosa "regra dos 15 anos" é cruel e quase nunca falha. Mesmo sabendo de todos os riscos, topei revisitar Pateta: O Filme (A Goofy Movie), animação que foi uma das minhas favoritas quando pequeno, daquelas que praticamente decoramos de tanto assistir.

A produção, lançada em 1995, é uma espécie de continuação da séria animada A Turma do Pateta (1992-1993) que chegou a ser exibida no Brasil - salvo engano - após o sucesso do longa-metragem com o público. Isso explica, por exemplo, o motivo de não haver qualquer apresentação dos personagens quando a trama inicia. Parte-se do principio que a maioria das pessoas já os conhece e portanto não há tempo a perder.

O protagonista aqui é Max (Jason Marsden), o filho do Pateta (Bill Farmer). Um adolescente que tem vergonha do pai e está apaixonado por uma colega de classe, Roxanne (Kellie Martin). Após o filho armar uma confusão na escola, Pateta resolve levá-lo para uma pescaria, atravessando o país em busca de fortalecer a relação familiar entre os dois. O problema é que Max finalmente havia tomado coragem de chamar Roxanne para sair, e agora terá que desmarcar o encontro para viajar com o pai.

Walt Disney Pictures

Pateta: O Filme é o clássico road movie em que pai e filho redescobrem suas conexões viajando pelos Estados Unidos. As aventuras vão desde um Teatro de Gambás pé de chinelo de beira de estrada até um encontro com o Pé Grande durante uma pescaria. O clichê, porém, tem um aspecto interessante: a fórmula Disney de musicais.

Todos os grandes momentos da animação são pautados por canções que ficam gravadas na mente do espectador com uma ou duas assistidas. A nostalgia de escutá-las novamente foi uma experiência gratificante, mesmo percebendo que são cantadas de forma bem "não profissional", por assim dizer. Isso, claro, é feito de propósito, preservando as características dos personagens. Afinal, é o Pateta cantando uma música.

As exceções são as empolgantes canções "I2I" e "Stand Out", interpretadas pelo cantor pop fictício Powerline. O personagem, cujos adolescentes da trama são todos devotos, é claramente inspirado em Michael Jackson, e protagoniza o clímax da animação de forma inesquecível para qualquer um que cresceu na década de 1990.

Outro aspecto interessante do desenho é a forma como Pateta é trabalhado pelo roteiro. Estamos acostumados a ver o personagem agindo de forma atrapalhada e descompromissada (e esse humor está presente aqui), mas é curioso o vermos ganhando camadas dramáticas.  Isso fica evidente quando o vemos lembrar de seu falecido pai, ou quando ele está decepcionado por Max ter alterado o destino da viagem no mapa. Evidentemente é a dramaticidade que um filme infantil permite, mas só desses elementos existirem, assim como a própria presença do filho, já tornam o personagem muito mais interessante que o próprio Mickey, por exemplo.

Walt Disney Pictures

É ótimo poder dizer que Pateta: O Filme resiste ao teste do tempo. Uma animação que não "enche linguiça" e vai direto ao ponto - com apenas 1 hora e 20 minutos de duração - que conquista o espectador pelo carisma de seus personagens e por sua trama atemporal, que certamente deixará boas lembranças mesmo naqueles que a descobrirem apenas agora, em tempos que animações 2D não são mais valorizadas.

Ótimo


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