CRÍTICA | O Homem Que Vendeu Sua Pele

Direção: Kaouther Ben Hania
Roteiro: Kaouther Ben Hania
Elenco: Yahya Mahayni, Dea Liane, Monica Bellucci, entre outros
Origem: Tunísia/França/Bélgica/Alemanha/Suécia/Turquia
Ano: 2020

Trazendo questionamentos modernos, polêmicos e alfinetando o mercado da arte, O Homem Que Vendeu Sua Pele (The Man Who Sold His Skin) conta a história de Sam Ali (Yahya Mahayni), um homem que foge da Síria para encontrar um meio de sobreviver à guerra e poder viver um romance com sua amada, o que acaba se tornando um verdadeiro desafio.

Com altos e baixos no Líbano, em um emprego precário e tendo que lidar com pequenos roubos para se alimentar, ele conhece Jeffrey Godefroi (Koen De Bouw), um artista contemporâneo famoso; junto à Soraya Waldy (Monica Belucci), sua assistente; que lhe faz uma proposta. Ali aceita, permitindo que o artista tatue em suas costas e a transforme em sua nova obra de arte.

Qual é o limite da arte? Qual é o preço da liberdade?

Ali descobre que pode viajar à Europa para encontrar Abeer (Dea Liane), a mulher pelo qual é apaixonado, mas com o passar do tempo, todos os luxos, hotéis cinco estrelas e assistência pessoal não passam de meia farsa. O que realmente importa é o produto, o estado da pele de suas costas para expor em eventos de arte, diferente dele por inteiro como sujeito.

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A exploração humana é gritante, ao ponto de os enquadramentos do filme alertarem ao espectador que o protagonista é apenas mais um entre muitos, como vemos na cena do frigorífico, em que inúmeros animais decapitados passam na frente dos funcionários e tudo é normalizado. Milhares de pessoas no mundo são vítimas de tráfico humano, mas isso não é discutido na grande mídia, na maioria das vezes. Todas as pessoas em volta do personagem principal percebem a situação e apenas ignoram, fazendo vista grossa.

Em outras cenas, a diretora Kaouther Ben Hania (A Bela e os Cães) utiliza novamente os animais para passar mensagens importantes de maneira sutil. O protagonista passa por uma transformação em sua aura, que vai além de sua tatuagem, podendo observar que um gato de pelos laranjas o acompanha, ou seja, ele é comum aos olhos de qualquer pessoa, assim como um animal doméstico. Porém, quando ele passa pelas mãos do artista contemporâneo, Sam Ali é visto próximo e até tem visões com pavões, um animal exótico e colorido.

O romance entre Sam Ali e Abeer não é o assunto principal da obra, ainda que esteja sempre presente, demonstrando a persistência do amor de ambos. A troca de olhares, o ciúme e os diálogos entre os personagens encaixam perfeitamente à proposta. Mesmo eles passando por experiências totalmente diferentes, ambos estão sufocados de alguma maneira e querem se ver livres, sendo cúmplices um do outro.

A reprodutibilidade técnica, citada pelo sociólogo Walter Benjamin, está presente, sendo um dos fatores mais aterrorizantes da narrativa. É praticamente impossível não ter empatia pela história contada em O Homem Que Vendeu Sua Pele e não se emocionar. Invariavelmente nos vemos torcendo por Ali, já que apesar dele ter aceitado qualquer coisa para se ver livre daquela situação, ele fez apenas o que foi possível, em meio ao desespero de sua dura realidade, algo que cada um de nós poderíamos nos submeter.

Excelente



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