CRÍTICA | O Fantasma do Paraíso

Direção: Brian De Palma
Roteiro: Brian De Palma
Elenco: Paul Williams, William Finley, Jessica Harper, Gerrit Graham, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1974

O produtor fonográfico misterioso Swan (Paul Williams) está à procura de um novo sucesso que alavanque a Death Records e, por conta disso, acaba realizando audições para descobrir novos talentos para que possa introduzir no Paraíso, sua nova atração. O destino faz com que Swan conheça Winslow Leach (William Finley), um homem de aura virtuosa, que sabe como compor e interpretar suas canções.

Leach possui uma personalidade excêntrica, ele sabe o valor que possui suas criações e não quer que ninguém as interprete, a menos que autorize. No entanto, Swan rouba suas canções e coopera para que o compositor seja preso por um crime que não cometeu, trazendo um sentimento de rancor e esperança de justiça ao nosso protagonista.

Seguindo a mesma estética glam, apelando ao extravagante, é possível que os fãs do musical clássico Rocky Horror Show (1975) amem O Fantasma do Paraíso (Phantom of the Paradise). O espectador consegue passear pelas emoções ao ver como os personagens se expressam ao longo do filme, baseados em como eles se apresentam. Eles carregam personalidades únicas presentes no modo de vestir e agir, remetendo às produções teatrais, balanceando entre o luxuoso e o degradante.

A trilha sonora possui um ritmo dançante e as músicas, ao serem cantadas pelos personagens, incentivam o espectador a querer cantar também, mesmo não sabendo a letra. É como se já tivéssemos as escutado antes. Além disso, há uma sonoridade típica dos anos 1970, que acompanha as cenas frenéticas, algo corriqueiro no cinema de Brian De Palma (O Pagamento Final).

Harbor Productions

Em diversos momentos vemos duas cores presentes na paleta do filme: azul e vermelho. Ambas são cores extremamente saturadas, trazendo assim o máximo dos personagens. O tom avermelhado de uma cor quente, remete ao poder que Swan tem sobre as outras pessoas. Diferente do azul, uma cor fria, que está presente quando há reflexos no capacete de Winslow, reforçando a ideia de que ele é uma pessoa impotente.

O espectador sente a dor de Winslow, assim como passa a ter pena de tudo que ele se sujeita passar, apenas para ser reconhecido como o compositor do projeto Paraíso de Swan. Esses instantes sentimentais ficam evidentes quando ele precisa presenciar sua amada nos braços de outra pessoa, ele se torna voyeur da situação, assistindo a cada minuto, em meio à chuva, como se os céus chorassem junto a ele. A dramaticidade é bárbara e em nenhum momento se torna cafona.

Phoenix (Jessica Harper) é a estrela de Paraíso e compõe o “triângulo amoroso” entre Swan e Winslow. Ela possui o privilégio de dar voz às criações musicais. Seu nome remete à ave mitológica, na qual renasce, como se ela fosse uma segunda chance de Winslow poder brilhar no mercado fonográfico, já que ele não possui mais condições físicas para viver seus sonhos.

Até mesmo Swan carrega simbologia em seu nome, fazendo o espectador se questionar por vezes sobre o modo imponente com que se apresenta ao público, assim como suas limitações e cacoetes, como se ele não fosse um ser humano. Não sabemos nem o seu gênero ao certo. E isso passa a liga-lo ao cisne – tradução literal do nome do personagem -, que assume a forma masculina e feminina ao mesmo tempo, passando a ser uma criatura quase mágica e misteriosa.

A aparência inspirou o mangaká Kentaro Miura em sua obra Berserk (1989), precisamente no personagem Griffith, que utiliza da mesma vestimenta e capacete. Durante o mangá, ele é objetivo, assim como Winslow, porém passa por torturas, injustiças, perda de seu amor, levando o seu destino a ser fundido ao capacete. Não apenas a dor é similar, como o nome que ele passa a assumir com sua nova forma: Femto; remetendo ao “alter ego” Phantom, de Winslow.

Harbor Productions/Kentaro Miura

O Fantasma do Paraíso também é uma versão de O Fantasma da Ópera, romance francês escrito por Gaston Leroux, adaptado para os cinemas pela primeira vez em 1925. 

O Retrato de Dorian Gray (1890), concebida pelo dramaturgo Oscar Wilde, não fica atrás nas referências. Swan ao estabelecer seu contrato com o diabo, pede que sua aparência permaneça a mesma durante os anos, e ao assinar, é citado que ele não deve perder o contrato feito, tendo a sua verdadeira forma selada dentro do espelho. E como forma de renovar sua beleza, ele precisa de vítimas, assim como Dorian Gray.

O Fantasma do Paraíso não é destinado apenas aos amantes de musicais, mas para aqueles que gostam de tragédias, acompanhadas de bizarrices gráficas. É uma pena que o filme passe tão rápido na frente dos nossos olhos. No entanto, passa a ser um deleite ficar lembrando das cenas e se questionando o motivo dessa produção não ter mais reconhecimento.

Excelente



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