CRÍTICA | Cassino

Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Martin Scorsese e Nicholas Pileggi
Elenco: Robert De Niro, Joe Pesci, Sharon Stone, James Woods, Frank Vincent, entre outros
Origem: EUA/França
Ano: 1995


À primeira vista, Cassino (Casino), de Martin Scorsese (Cabo do Medo), lembra bastante outro filme famoso do diretor, Os Bons Companheiros (1990). E não é para menos, já que ambos os longas têm como tema central a máfia, pesam a mão no uso da violência e trazem Robert De Niro (O Rei da Comédia) e Joe Pesci (Touro Indomável) nos papéis principais. Além disso, os dois são adaptações de obras de Nicholas Pileggi (City Hall: Conspiração no Alto Escalão), que aqui também assina o roteiro. Porém, é um erro menosprezar um pelo outro e, embora algumas vezes esquecido, Cassino é sem dúvida uma obra-prima da filmografia do cineasta.

Situado na Las Vegas dos anos 70, governada pela máfia, o filme conta a estória de Sam "Ace" Rothstein (De Niro), um talentoso apostador que vira gerente de cassino e Nicky Santoro (Pesci), mafioso de baixo escalão que decide seguir os passos do amigo e muda-se para o paraíso de apostas, trazendo consigo um rastro de violência. Conforme o tempo passa, as diferenças de temperamento entre os dois e o triângulo amoroso estabelecido com Ginger McKenna (Sharon Stone) acabam por dificultar a convivência entre eles. E o que começa como parceria transforma-se em inimizade.

Foto: Universal Pictures

Dinâmico e denso, Cassino é estruturado pela narração. São os pontos de vista de Nicky e Sam que amarram narrativa e é através da observação deles em relação ao que fazem e como suas ações repercutem em suas vidas que vivenciamos seus dramas. De maneira bastante interessante, o roteiro entrelaça os narradores, fazendo com que conheçamos não somente suas trajetórias individuais, mas também a compartilhada. Essa forma onisciente de apresentar a estória ajuda a plantar desfechos inesperados e que nos surpreendem até o desfecho da produção.

Bom também é o aspecto técnico da obra. É inconfundível a direção de Scorsese, que em conjunto à fotografia de Robert Richardson (Era Uma Vez em... Hollywood) fazem um filme atemporal. Seja pelos planos-sequência, os efeitos visuais ou o aspecto de film noir, Cassino é esteticamente belo e segue assim mais de vinte anos após seu lançamento. Adicionalmente, a ótima trilha sonora, repleta de pop e jazz, complementa o trabalho de edição de Thelma Schoonmaker (A Última Tentação de Cristo), fazendo com que a ascensão e queda das personagens seja sentida de forma visceral e única.

Embora Pesci e De Niro sejam a personificação da máfia nas telas de cinema e estejam esplêndidos em seus papéis, é sem dúvida a atuação de Sharon Stone (Instinto Selvagem) que mais impressiona, nessa que talvez seja um dos melhores trabalhos de sua carreira. Stone encarna sem receios a prostituta que domina a todos, menos a si mesma. Embora Ginger não tenha a própria perspectiva narrada na tela, a atriz rouba as cenas em que aparece, e seu magnetismo aumenta à medida em que o vício e a infelicidade a corroem. 

Foto: Universal Pictures

Ainda que demasiadamente longo em suas quase três horas de duração, Cassino jamais é um filme cansativo. Scorsese utiliza bem cada minuto da trama para entregar uma estória completa, fechando os arcos dramáticos das personagens principais satisfatoriamente. Em suma, trata-se de mais uma prova do talento de um diretor estupendo, especialista em filmes do gênero.

Excelente


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Lívia Campos de Menezes é apaixonada por filmes, séries e boa música (leia-se rock'n'roll). Adora ler e viajar. Mora em São Francisco (CA), onde trabalha como produtora de cinema independente.

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