CRÍTICA | A Vida Invisível

Direção: Karim Aïnouz
Roteiro: Murilo Hauser
Elenco: Carol Duarte, Julia Stockler, Fernanda Montenegro, Gregório Duvivier, entre outros
Origem: Brasil/Alemanha
Ano: 2019


A Vida Invisível, longa-metragem dirigido por Karim Aïnouz (Praia do Futuro) e produzido por Rodrigo Teixeira (Me Chame Pelo Seu Nome), tem ganhado bastante força mundialmente, não à toa é o representante do Brasil na corrida por uma indicação ao Oscar.

Com grandes nomes no elenco, o filme conta a história do relacionamento entre as irmãs Eurídice (Carol Duarte) e Guida Gusmão (Julia Stockler), no Rio de Janeiro da década de 1940. Com uma vida marcada pela opressão e vivendo em um período significativo da história da mulher, a obra retrata a trajetória e escolhas de ambas as irmãs, que possuem temperamentos distintos e constroem suas narrativas a partir dos caminhos seguidos por elas e o resultado dessas decisões: fugir e permanecer.

O drama é construído a partir de relacionamentos femininos e pelo olhar dessas mulheres. Sua coragem, persistência, dor, vontade, tudo isso se junta para formar o cerne de uma narrativa sólida, emocionante e dilaceradora. O roteiro de Murilo Hauser (Meu Medo), adaptado do livro "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão" de Martha Batalha, não só é bem construído, como também é capaz de tocar o espectador de modos inimagináveis, nos fazendo pensar quantas vezes podemos ter nossos corações partidos e ainda assim continuar em nossas jornadas.

Foto: Vitrine Filmes / Sony Pictures

Se isso não bastasse, A Vida Invisível também se preocupa em fomentar discussões sobre temas contemporâneos como a emancipação das mulheres, relações abusivas e tóxicas, a desromantização da maternidade, o aborto, entre tantos outros, mesmo sendo um filme ambientado no Brasil da década de 1940, o que evidencia o quanto precisamos avançar enquanto sociedade até hoje.

Do ponto de vista técnico, a obra não apenas oferece uma ambientação de época impecável, afinal estamos falando de uma narrativa que se passa 80 anos atrás, como também opta por uma fotografia naturalista que dá o tom do filme.

O elenco merece um parágrafo a parte, repleto de jovens talentos do cinema brasileiro. O trabalho impecável de Carol Duarte (A Força do Querer) e Julia Stockler (Só Garotas) seguram o longa a todo momento, já que as irmãs são movidas por trajetórias distintas, mas com o mesmo objetivo de se reencontrarem. Fernanda Montenegro (O Auto da Compadecida), por sua vez, apesar da curta participação em tela, é responsável por presentear o espectador com uma das melhores cenas do cinema em 2019, e também uma das mais doloridas.

A Vida Invisível é um filme feito para todos, mas especialmente para mulheres, uma narrativa pensada para elas. Aquelas que foram nossas avós, bisavós, impedidas de protagonizar a própria história e que tiveram de lutar diariamente em uma sociedade que apenas tentou apaga-las e sufocá-las. Aqui suas trajetórias ganham luz, força e podem ser apreciadas da maneira crua e dilaceradora, como foram na realidade.

Foto: Vitrine Filmes / Sony Pictures


Excelente

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