CRÍTICA | 32 de Agosto na Terra

Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Denis Villeneuve
Elenco: Pascale Bussières, Alexis Martin, Paule Baillargeon, entre outros
Origem: Canadá
Ano: 1998


Apesar do cânone demarcar o início da carreira de Denis Villeneuve (Blade Runner 2049) com Redemoinho (2000), seu primeiro projeto de grande repercussão crítica, o diretor obviamente foi precedido por uma série de aventuras profissionais que serviram ao seu galgar no sucesso dentro do Canadá. Uma dessas empreitadas foram filmes televisivos, produzidos no contexto de reality shows em Quebec. Suas conquistas levaram até o seu primeiro longa comercializado, 32 de Agosto na Terra (Un 32 août sur terre).

Talvez por ser falado em língua francesa (e comportar mesmo nisso algum senso de humor amargo com a forma como estrangeiros veem os estadunidenses) o filme é o de menor avaliação nos famigerados sites de listagem e pontuação de obras audiovisuais. A despeito da sua fama visual com requintes de sombras e camadas, Villeneuve filma seu primeiro longa o mais aberto e exposto possível, com praticamente metade dele se desenrolando num deserto de sal, branco do solo e azul do céu disputando a hegemonia da imagem enquanto dois amantes histéricos arriscam o corpo um do outro.

Foto: Max Films Productions

O que ocorre é que após uma experiência brutal em um acidente Simone (Pascale Bussiàre) se torna definitivamente consciente de sua mortalidade e usa disso para seus novos decretos de prazer: foge de sua vida, larga o emprego e convence o amigo apaixonado por ela, Phillipe (Alexis Martin), a engravidá-la, passando por cima da namorada do rapaz. Seduzido e amedrontado pelo próprio poder de decisão, Phillipe passivamente é conduzido por Simone, mas nunca consegue consumar o ato, estabelecendo barreiras absurdas que os levam até um deserto abandonados.

Constantemente os personagens irão se defrontar com a mortalidade, seja na forma de cadáveres inusitados ou entes queridos em risco, jamais permitindo-os esquecer da pulsão de vida que urge após essa tomada de consciência, mas ao mesmo tempo incapazes de desfrutar prazeres genuínos simplesmente porque decidiram. O projeto carpe diem de Simone é repetidamente frustrado, coibindo suas alternativas seja num ilimitado céu aberto ou num literal cubículo de hotelaria.

Com um passeio bem humorado e sarcástico, Villeneuve condena seus personagens a apatia de uma vida que não basta ser cobiçada para ser obtida. Os obstáculos que interrompem são muito mais frívolos e implacáveis do que se poderia esperar e, por vezes, arbitrários, como uma trupe violenta que desponta na rua para um episódio de agressão sem qualquer pista ou lição a ser obtida.

Apesar de curto e absolutamente simples em sua composição geral, 32 de Agosto na Terra é um filme de uma ironia refinada sobre destino e acaso, ambos armados contra nós enquanto distraídos ficamos deslumbrados com tudo que seria possível fazer numa vida.

Foto: Max Films Productions


Bom

Comentários