CRÍTICA | Marcados Para Morrer

Diretor: David Ayer
Roteiro: David Ayer
Elenco: Jake Gyllenhaal, Michael Peña, Anna Kendrick, Natalie Martinez, David Harbour, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2012


O sucesso de A Bruxa de Blair em 1999 gerou um novo gênero para o Cinema, o chamado “found footage” (filmagem perdida). Trata-se da simulação de um vídeo amador encontrado após algum evento “x”, onde as imagens seriam transformadas em filme. Foi uma moda que pegou e, quando bem utilizado, o estilo gerou alguns bons lançamentos ao longo dos anos, como Cloverfield em 2008 e Poder Sem Limites em 2012, mesmo ano em que estreou nos cinemas Marcados Para Morrer (End of Watch), que reutiliza o estilo de forma inovadora, mesclando cenas filmadas pelos protagonistas, câmeras de segurança e a linguagem tradicional de Cinema.

Jake Gyllenhaal (Contra o Tempo) e Michael Peña (Caça aos Gângsters) são dois parceiros policiais que patrulham diariamente em bairros violentos de Los Angeles, onde o tráfico de drogas domina a cena, e negros e latinos travam guerras diárias na disputa pelo poder. À medida que a dupla se destaca nas ruas, o oficial Taylor (Gyllenhaal) inicia um projeto pessoal, em que passa a filmar um documentário mostrando o dia-a-dia de suas perigosas rotinas de trabalho, fato que não é visto com bons olhos por boa parte da corporação.

A grande força de Marcados Para Morrer (título nacional genérico e preguiçoso) é o clima de tensão iminente que permeia toda a projeção. Não é atoa que se trata de uma obra de David Ayer, que também dirigiu e roteirizou Tempos de Violência com Christian Bale, além de também roteirizar Dia de Treinamento, filme que rendeu o Oscar de melhor ator para Denzel Washington. O diretor emprega um ótimo ritmo a trama, sabendo mesclar com precisão os dilemas enfrentados pela profissão dos policiais, especialmente no que se refere a amizade, família e o temor pela vida. A construção dos personagens também é muito bem feita, através de diálogos do cotidiano e empregando grande carisma aos mesmos, sendo difícil não nos identificarmos ou simpatizarmos de algum modo.

E se a tensão funciona, muito se deve a essa simpatia que criamos pela dupla de policiais, fazendo com que realmente nos importemos com seus destinos. Jake Gyllenhaal não costuma ser lembrado por premiações, mas há tempos mostra-se um ator competente. Sua interpretação em muito se assemelha com outro papel interpretado por ele, um recruta em Soldado Anônimo. Também muito bem está Michael Peña, mostrando-se uma figura forte e destemida, mas de aparência “dócil”. O elenco ainda conta com Anna Kendrick (Amor Sem Escalas), que aqui vive o interesse amoroso de Gyllenhaal.

Por outro lado, é impossível não perceber alguns deslizes apresentados pela obra. A ideia da filmagem do documentário é interessante para criar o clima de realidade, mas soa artificial pelo fato de ficar em segundo plano no desenrolar da trama. Oras, se a ideia é calcar a realidade, uma sensação similar poderia ser criada através da câmera na mão, muito utilizada durante o filme, por sinal. Mas devo assumir que alguns bons momentos seriam perdidos, como quando os personagens dirigem-se a câmera para fazer algum comentário do que está ocorrendo no momento. Outro ponto fraco encontra-se no roteiro, que parece querer constatar o óbvio em alguns momentos, sem a mínima necessidade. Em um cena, a dupla salva duas crianças de um cativeiro, deixando Taylor visualmente abatido. Posteriormente, o mesmo aparece fazendo exercícios sozinho no terraço de um prédio ao anoitecer. O sentimento do personagem já havia sido retratado através da interpretação e a imagem, mas ainda assim o diretor faz o ator dizer: “Criança é foda”. Algo similar acontece quando os oficiais descobrem uma casa que traficava pessoas. A tensão salta aos olhos, a imagem mostra as condições deploráveis em que o local se encontra, todo o contexto funciona, para depois Taylor, dentro do carro, dizer: “É tráfico humano”.

E se, em certo momento, enfocar o ponto de vista dos bandidos mostra-se uma decisão equivocada, Marcados Para Morrer resiste como um ótimo filme, justamente pela composição de seus personagens e pelo já citado clima tenso, que leva o espectador para dentro da tela de forma pouco comum no Cinema contemporâneo. Esse sentimento, por si só, já vale a empreitada, mas a obra tem muito mais a mostrar. A prova disso é a lembrança de que os Estados Unidos, ainda que seja a mais poderosa nação do planeta, também sofre com problemas sociais e de violência, como boa parte do mundo. Uma realidade que está longe da simulação que o "found footage" insinua. Nosso Brasil que o diga.

Ótimo

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