CRÍTICA | Elvis

Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Baz Luhrmann, Sam Bromell e Craig Pearce
Elenco: Austin Butler, Tom Hanks, Olivia DeJonge, Dacre Montgomery, Kodi Smit-McPhee, David Wenham, entre outros
Origem: EUA/Austrália
Ano: 2022

Hollywood vive uma onda de cinebiografias de lendas da música, isso é inegável. Surfando essa onda, mas de forma inovadora e cativante, a produção de Elvis (2022) chega com a direção efusiva e de ritmo frenético de Baz Luhrmann (Romeu + Julieta), conhecido por obras como Moulin Rouge: Amor em Vermelho (2001) e O Grande Gatsby (2013). Um show visual e musical marcado por atuações emocionantes.

Aqui o filme não é apenas sobre Elvis Presley (Austin Butler), uma das figuras mais marcantes da história do Rock and Roll, mas também sobre o Coronel Tom Parker (Tom Hanks), seu agente musical de 1955 até a morte do Rei do Rock em 1977. A história é contada sob o ponto de vista do empresário e suas impressões sobre o icônico cantor.

Acompanhamos Elvis desde a infância, quando o jovem se mudou para um bairro pobre depois que seu pai foi preso. As influências com as músicas da comunidade negra local e a relação com sua família, em especial com sua mãe Gladys (Helen Thomson), dão o tom do início da obra, que concilia os eventos que marcaram a trajetória da vida do cantor com a trama de Parker, mostrando-o como um vilão astuto e que se intitulava como "ilusionista". Um homem que viu na figura de Elvis a possibilidade de ganhar muito dinheiro, carregando uma quantidade gigantesca de pessoas para seus shows itinerantes, o que acabou dando espaço para o jovem ganhar destaque no cenário musical. A cena em que os dois fecham um acordo na roda gigante é o ápice desse ponto de partida.

Warner Bros Pictures

O principal diferencial de Elvis, no entanto, são as técnicas utilizadas por Luhrmann para abordar a vida e carreira do artista, quase como se fosse um super-herói dos quadrinhos, através de animações cartunescas, transições criativas, cores marcantes e uma montagem rápida e alucinante. O cineasta retrata, com um olhar quase fantasioso, os altos e baixos da carreira do cantor, nos permitindo compreender sua trajetória de quase 20 anos e sua relação destrutiva com o Tom Parker. Embora o filme soe mais como uma denúncia dos abusos cometidos pelo Coronel, o brilho está nos grandes momentos de Elvis, como deve ser.

Presley enlouquece moças (e moços) jovens com sua música e sua dança. Seu famoso rebolado dos quadris o tornou alvo de muitas críticas por seu estilo diferente e mal interpretado por grupos conservadores da época. Da sua fase rebelde, a história passa pelos seus anos no exército, em que conhece sua futura esposa Priscila (Olivia DeJonge); pela morte da mãe, que o deixa transtornado e faz com que Parker aumente sua influência nos negócios; até mesmo por sua incursão em Hollywood, estrelando alguns filmes; além do famoso especial de Natal nos anos 1960, com mais um ato de rebeldia de Elvis contra Parker.

Quando finalmente chegamos à sua fase em Las Vegas, o ápice dos esquemas de Parker, a carreira e a vida pessoal de Elvis já não andavam bem. E o que vem a seguir é o que já estamos cansados de ver em muitas adaptações: o empresário que desencaminha o artista, que se perde, tem algum tipo de vício, e vê sua vida ruir.

Vale mencionar ainda a habilidade do roteiro de Luhrmann, Sam Bromell (The Get Down) e Craig Pearce (Romeu + Julieta) em incluir diversas das mudanças sociais que os EUA passaram naqueles anos dentro do contexto da trama, evidenciando os motivos que fizeram o cantor ser um dos maiores artistas norte-americanos de todos os tempos.

Warner Bros Pictures

Mesmo com uma longa duração (2 horas e 39 minutos) e abordando tantos temas, Elvis jamais deixa de ser dinâmico e emocionante, e grande parte dessa emoção se deve ao cativante trabalho de Austin Butler (Era Uma Vez em... Hollywood). Do olhar penetrante, à voz grave idêntica ao cantor e à expressão corporal que representa tão bem a persona de Elvis, Butler se transforma e entrega uma atuação memorável. Desde a primeira cena em cima do palco, em que ganha o coração das fãs, fica claro que o interprete é a força do filme, a escolha certa. É impossível tirar os olhos do astro na tela e é muito provável que seu trabalho renda indicações nas próximas premiações.

Se tudo isso não bastasse, temos ainda um Tom Hanks (Um Lindo Dia na Vizinhança) quase irreconhecível devido ao excelente trabalho da maquiagem, vivendo um Tom Parker moralmente duvidoso, mas que conduz a história de forma intrigante. A cereja do bolo de um trabalho minucioso de Baz Luhrmann, que ainda por cima é agraciado com as canções icônicas de Elvis que, é claro, vive para sempre.

Ótimo


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