CRÍTICA | Bright

Direção: David Ayer
Roteiro: Max Landis
Elenco: Will Smith, Joel Edgerton, Noomi Rapace, Lucy Fry, Edgar Ramírez, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2017


Após a enxurrada de críticas por sua direção em Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016), filme que sofreu uma série de intervenções dos produtores e do estúdio, é bom dizer, David Ayer (Marcados Para Morrer) retorna com um longa-metragem mais próximo do que costuma entregar em sua filmografia, ainda que traga elementos completamente diferentes de muita coisa que já vimos no gênero. Bright, apesar de ser um típico longa policial passado nas perigosas ruas de Los Angeles, é também uma fantasia onde fadas, orcs e elfos transitam em nosso mundo, inseridos em nossa realidade de forma bem curiosa.

Na trama, Daryl Ward (Will Smith) é um policial de volta a ativa após um orc lhe atingir com um tiro de escopeta. Nick Jakoby (Joel Edgerton) é o primeiro orc da história a se formar na academia de polícia, parceiro de Ward, que vive sob a desconfiança e preconceito de todos à sua volta, tendo em vista que sua raça é conhecida por repudiar a força policial. Patrulhando as periferias de Los Angeles, a dupla se depara com um conflito entre elfos, e se vêm tendo que proteger um deles, Tikka (Lucy Fry), que está em posse de uma vara mágica poderosíssima.

Essa sinopse pode parecer estranha, e de fato é. O longa, apesar de competente em sua ambientação, não consegue suprimir a estranheza dessa mistura de gêneros tão incomuns. Nada ali faz muito sentido, afinal estamos falando de uma fantasia inserida em um mundo visualmente pautado na realidade. Fica meio ridículo vermos o policial "badass" de Will Smith (Beleza Oculta) falando de fadas e varinhas mágicas. No entanto, se você consegue relevar tudo isso e embarcar na premissa, você provavelmente irá se divertir.

Foto: Matt Kennedy / Netflix

Smith, por sinal, é a força motriz de Bright. Seu carisma e talento continuam inabaláveis, e mesmo com problemas de roteiro, o ator consegue segurar a bola e tornar tudo aquilo minimamente crível, a ponto de nos importarmos com as situações vividas por seu personagem. Joel Edgerton (Loving), por sua vez, mostra novamente seu talento ao conseguir dar personalidade a seu papel, mesmo tendo seu rosto coberto por diversas camadas de maquiagem. Apesar das expressões limitadas, Edgerton consegue passar emoções com o olhar, especialmente nos momentos em que seu personagem é reprimido por ser quem é.

A discriminação de raça talvez seja o principal tema do filme. Jakoby, por ser um orc que transcendeu seus costumes e quebrou barreiras ao tornar-se policial, acaba sendo constantemente diminuído por isso, tratado como uma ameaça ou com desdém, justamente por aqueles que deveriam ser seus parceiros. Da mesma forma, é desprezado por seus iguais, por ter se "aliado ao inimigo". Esse cenário pode ser facilmente associado à discriminação racial, preconceito com gêneros, xenofobia, e por aí vai. Se a trama focasse nessa discussão, a obra seria muito mais rica do que é de fato.

O principal problema aqui é a quantidade de informações que recebemos sem qualquer tipo de aprofundamento. Fica evidente a necessidade do roteiro de nos apresentar um universo rico e diferente de tudo que já vimos, no entanto, quando tantos elementos são inseridos em uma narrativa sem qualquer desenvolvimento, fica a impressão de que estamos assistindo um amontoado de ideias sem propósito, que estão lá apenas por estar, diminuindo a verossimilhança que seria tão importante aqui. Me parece que a produção aposta muito em voltar a esse universo futuramente, mas não funcionando por si só, até uma sequência é posta em xeque.

Foto: Netflix / Matt Kennedy

O fato é que Bright diverte, principalmente pela interação de seus protagonistas e pela direção de Ayer, que sabe filmar ação nos bairros de Los Angeles como poucos. A produção como um todo é marcante do ponto de vista experimental, uma vez que trata-se de um longa produzido direto para o streaming. Vale a visita, mas deve dividir opiniões. Se gerar discussões, ganhará uma sobrevida que pode ser interessante.

Bom

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