CRÍTICA | The Post: A Guerra Secreta

Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Liz Hannah e Josh Singer
Elenco: Tom Hanks, Maryl Streep, Bob Odenkirk, Bruce Greenwood, Sarah Paulson, Michael Stuhlbarg, Jesse Plemons, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2017


Muito se discute sobre o que seria liberdade de imprensa, tanto no Brasil como no cenário mundial. O assunto era impensável nos tempos do antigo Regime Militar em nosso país ou mesmo nos Estados Unidos, na época do escândalo Watergate ou do Pentagon Papers, período que compreendeu a Guerra do Vietnã. Com base justamente nesse último acontecimento que recebemos o novo longa do aclamado Steven Spielberg (Lincoln), abrilhantado por um elenco soberbo, cujos nomes nem precisaria citar aqui, você já sabe.

The Post: A Guerra Secreta é situado no intervalo entre os anos 1966 e 1971, o auge da Guerra do Vietnã, quando o jornal The New York Times publicou um dossiê com pouco mais de 4 mil páginas apontando como quatro presidentes norte-americanos, dentre eles Dwight Eisenhower, Harry Truman, Lyndon Johnson e John Kennedy, mentiram para o Congresso e para a população à respeito de fatos do guerra. O acontecimento desencadeou a ira da cúpula do então presidente, Richard Nixon, bem como rendeu ao "Times" a proibição de divulgar quaisquer informações secretas que pudessem prejudicar a soberania do país e o bem-estar de seus cidadãos. Eis que entra na jogada o The Washington Post, que consegue acesso a documentos secretos guardados há anos pelo governo e que expõem mentiras sobre a situação no Vietnã. 

Diante do caótico cenário e da censura imposta pelo governo Nixon, a presidente e proprietária do "Post", Katherine Graham (Meryl Streep), se vê acuada e em meio a um grande dilema: publicar ou não as informações sigilosas, mesmo que isso ponha em risco a credibilidade e o futuro de seu veículo, de seus funcionários e dela mesma? Diante dessa incerteza, somos inseridos em uma realidade de imensa tensão, que nos deixa aflitos e cheios de expectativas pelo que vem a seguir. Isso, claro, caso o espectador tenha fugido das aulas de história.

Foto: Universal Pictures

Spielberg retrata não apenas a bravura e a inteligência dos profissionais do The Post, como também ilustra bem o ambiente agitado da redação de um dos maiores veículos de imprensa dos Estados Unidos. Com a intimidação que a censura traz, profissionais agitados pelos corredores, outros debruçados sobre as máquinas de escrever, cigarros acesos a todo vapor, fora as constantes idas e vindas de repórteres com informações valiosas e que poderiam render boas matérias. Tudo filmado com uma câmera inquieta, recurso inserido com o propósito não apenas de trazer carga dramática intensa, mas também para tecer um tom histórico, inserindo o espectador em um ambiente carregado e impactante.

O trunfo do obra é saber direcionar o público seus recursos técnicos e estéticos, sem fazer com que nos percamos em meio a tantas informações propostas pelo roteiro. Cada interação entre personagens é importantíssima, culminando na grande decisão de Katherine sobre a publicação, ou não, do material.

Esses elementos são engrandecidos pelas atuações de Tom Hanks (Sully: O Herói do Rio Hudson), Meryl Streep (Florence: Quem é Essa Mulher?) e também Bob Odenkirk (Better Call Saul). Streep chamar a atenção por suas expressões faciais e corporais, permitindo que entendamos todos os conflitos internos pelos quais passa sua personagem, bem como a capacidade de afirmação da mesma, uma mulher dentro da indústria jornalística conservadora e predominantemente machista. Katherine toma as rédeas da empresa e demonstra competência e força no cargo. Hanks, por sua vez, nos apresenta um editor-chefe engajado, o fio-condutor da trama, já Odenkirk, acima da média como de costume, também mostra-se fundamental.

Foto: Universal Pictures

The Post: A Guerra Secreta é uma obra capaz de transmitir valores ao público. A importância social e política do jornalismo é discutida, bem como a ética, responsabilidade e compromisso de seus profissionais com a verdade. O mérito está não apenas em recontar um fato histórico norte-americano, mas também ressaltar o heroísmo de profissionais que lutaram para a consolidação da liberdade de imprensa e o direito à voz dos meios de comunicação, afinal, “jornalismo é para os governados, não para os governantes”.

Ótimo

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