REVIEW | Maniac


Recentemente estreou na Netflix a minissérie Maniac, uma comédia dramática, composta de 10 episódios, escrita por Patrick Somerville (The Leftovers) e dirigida por Cary Joji Fukunaga (Beasts of no Nation), que foi o diretor responsável por toda a primeira temporada de True Detective. Baseada em uma série norueguesa, a produção chamou a atenção por trazer Emma Stone (La La Land: Cantando Estações) e Jonah Hill (Cães de Guerra) como protagonistas, restando apenas apenas saber se as expectativas geradas seriam supridas.

Maniac se passa em um universo anacrônico e, nessa construção de mundo, muitas coisas se assemelham ao presente, ao passado e ao futuro. Nessa realidade somos apresentados a dois personagens, Owen (Jonah Hill) e Annie (Emma Stone), que, por motivações diferentes, se tornam cobaias de um experimento científico que visa estudar e curar a mente humana por meio de drogas sintéticas.

A minissérie tem uma ambientação e estética bem singular, que trazem ao espectador uma sensação de estranheza, ou mesmo tempo que tudo soa familiar. As tecnologias apresentadas aqui podem estar além de nossas descobertas científicas contemporâneas, mas, ao mesmo tempo, se assemelham a bugigangas do início da era da informática. Dentro dessa proposta, o design de produção e a direção de arte soam impecáveis.

Foto: Michele K. Short / Netflix

O roteiro compactua dessa "familiar estranheza", inclusive evidenciando inspirações em obras como Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004), A Origem (2010), O Guia do Mochileiro das Galáxias (2005), 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), ou mesmo as produções de David Lynch (Twin Peaks). No entanto, essa miscelânea  de referências só vem a abrilhantar o enredo, que se mostra bastante original.

A estrutura narrativa embarca na tradicional “Jornada do Herói”, de Joseph Campbell, a princípio desenvolvendo seus dois protagonistas, mas aos poucos explorando camadas dramáticas de diversos personagens coadjuvantes. Temas profundos e psicológicos são abordados, por vezes de maneira clara, outras de forma mais abstrata. 

A direção de Caru Joji Fukunaga deve ser destacada, "passeando" por diversos gêneros e formas de se contar uma história. Com a liberdade criativa que Maniac permite com sua aventura lisérgica, em certos episódios a minissérie entrega uma comédia romântica, em outros, uma fantasia medieval. Por vezes somos inseridos em tramas dignas de filmes de espionagem, ou até um bom drama de gângster. Poucos diretores transitariam tão bem entre gêneros tão diferentes sem perder a coerência narrativa, e Fukunaga faz isso com maestria.

Vale ressaltar que as atuações também não decepcionam. Emma Stone, vencedora do Oscar de melhor atriz, entrega mais uma atuação convincente, assim como seus trabalhos anteriores. Já Jonah Hill rouba a cena de forma surpreendente, vivendo diversas personalidades diferentes dentro do mesmo personagem, se distanciando de vez do ator de comédias pastelão que já foi um dia.

Foto: Michele K. Short / Netflix

Maniac é inovadora, inteligente e estranhamente familiar. Ou familiarmente estranha, como preferir. O tipo de respiro que faltava nas recentes produções originais da Netflix, que ultimamente prezou muito mais com a quantidade de lançamentos de novos produtos do que com a qualidade dos mesmos.

Excelente

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