CRÍTICA | Infiltrado na Klan

Direção: Spike Lee
Roteiro: Spike Lee, Charlie Wachtel, David Rabinowitz e Kevin Willmott
Elenco: John David Washington, Adam Driver, Topher Grace, Laura Harrier, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2018



Dotado da capacidade de realizar grandes debates acerca dos temas abordados em seus filmes, o consagrado cineasta Spike Lee (Malcom X) mais uma vez vem para mobilizar o público e lhe dar um "tapa na cara" quando o assunto é segregação.

Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman) conta a história real de Ron Stallworth (John David Washington), um policial negro que conseguiu se infiltrar dentro da Ku Klux Klan, em 1978, com a ajuda de seu amigo e parceiro Flip Zimmerman (Adam Driver), no intuito de desmantelar a organização e proteger Patrice (Laura Harrier), uma militante estudantil do movimento negro. Ron estreita relações com o líder do grupo, David Duke (Topher Grace), passando-se por um branco racista ao telefone, e quando precisa comparecer pessoalmente aos cultos, é Flip quem assume esse papel.

A premissa é tão surreal e interessante que permite que o roteiro crie situações que beiram o absurdo, às vezes causando o riso, outras causando revolta, uma característica marcante de Lee. Além disso, a obra não se limita a registrar eventos do passado, trazendo a crítica social para tempos contemporâneos, especialmente se pensarmos que, infelizmente, ainda existem muitos grupos extremistas que disseminam a supremacia da raça branca, realizando discursos de ódio. É uma espécie de lavagem cerebral, tamanha a capacidade de manipulação que tais lideres possuem, algo muito bem retratado no personagem David Duke, um nome real, um político, ex líder da KKK e que até hoje está por ai, pregando os preconceitos que acredita.

Foto: Fox Film do Brasil

Spike Lee, mostra em seu filme, para quem quiser entender, que ainda existem pessoas com a mente retrógrada, conservadoras em demasia e que enxergam o negro como uma ameaça, um ser inferior. Fica claro ao assistir ao longa, que essas pessoas podem estar onde menos esperamos, até mesmo em nossos círculos familiares ou de amizades. Esse é justamente um dos motivos do diretor nunca esquecer de sua luta em sua filmografia. E Infiltrado na Klan atinge um patamar que fazia algum tempo que o cineasta não retomava.

John David Washington (Ballers), naquele que talvez seja o seu primeiro papel de destaque no cinema, tem o mérito de conseguir transitar entre o comicidade e a seriedade, sem nunca perder o tom de sua interpretação, servindo ao roteiro e a direção de maneira precisa. Há veracidade em suas intervenções e o público é fisgado em tela, torcendo para que ele consiga cumprir sua missão. Filho do icônico Denzel Washington (Roman J. Israel), John David se mostra um ator de talento e que pode alçar grandes voos na indústria.

Adam Driver (Star Wars: Os Últimos Jedi), por sua vez, segue em sua sequência de ótimos trabalhos, trazendo à tona outra vertente do extremismo: a intolerância religiosa. Flip, que é judeu, evidencia a resistência ao seu povo, que lamentavelmente ainda é combatido por muitos grupos. A naturalidade de Driver no papel impressiona e complementa o vigor de John David Washington de forma muito benéfica a obra, já que a dupla é o carro chefe aqui.

Foto: Fox Film do Brasil

Infiltrado na Klan é provocativo, impactante e, acima de tudo, necessário. Não apenas deve ser assistido, mas também debatido. Spike Lee retorna ao panteão dos grandes diretores com estilo, tratando de um tema que está longe de ser extinto. Para que seja é preciso persistência e lutas constantes. E seu desfecho, que é um "soco no estômago" do espectador, não podia mostrar isso de forma mais clara a todos.

Excelente

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