CRÍTICA | Tolkien


Direção: Dome Karukoski
Roteiro: David Gleeson e Stephen Beresford
Elenco: Nicholas Hoult, Lily Collins, Craig Roberts, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2019


John Ronald Reuel Tolkien (1892-1973), escritor e renomado professor de Oxford, pesquisador das línguas anglo-saxãs, linguística e etimologia. Para ele, as palavras tinham peso em suas histórias, e os nomes de seus personagens ainda mais. Você certamente conhece, ou ao menos já ouviu falar, sobre suas obras literárias mais conhecidas. O Hobbit e O Senhor dos Anéis, além de clássicos da literatura, são também adaptações marcantes da história do cinema, especialmente a segunda, que influenciou o imaginários de milhões de pessoas ao redor do mundo, voltando os holofotes da indústria em definitivo para o gênero de fantasia.

Com um currículo desses, é de se espantar que ainda não tivéssemos uma biografia do autor na grande tela. Felizmente a espera acabou.

Na trama acompanhamos o jovem J.R.R. Tolkien (Nicholas Hoult), do momento em que fica órfão até descobrir a amizade com um grupo de jovens deslocados. Mais tarde vive o primeiro amor e encontra inspiração artística para seus primeiros trabalhos, momento interrompido quando é convocado a servir na Primeira Guerra Mundial. Ele então jura voltar vivo para sua amada Edith (Lily Colins) e toma o caos vivido durante o período como principal fonte de inspiração para a criação da Terra Média, o mais doce dos frutos de sua autoria.

Foto: Fox Film do Brasil

O principal trunfo do roteiro de David Gleeson (Caubóis e Anjos) e Stephen Beresford (Orgulho e Esperança) está no contexto político e cultural da Inglaterra pré e pós Primeira Guerra, e em sua influência direta no protagonista. A forma como o autor utiliza elementos de sua história para criar seus personagens é particularmente cativante, como quando vê soldados alemães utilizando um lança-chamas e da cena nasce o dragão Smaug, de O Hobbit.

Edith, o grande amor de Tolkien não é representada apenas como musa inspiradora, mas como uma mulher que busca independência e brilho próprio, o que possibilita um bom trabalho de Lily Collins (O Mínimo Para Viver). Os contornos à la Shakespeare, com nuances de paixão proibida, com o padre, seu tutor legal, proibindo o relacionamento dos dois, trazem uma atenção especial ao romance.

Infelizmente o texto esbarra na enorme gama de acontecimentos da vida de Tolkien, tentando condensar muitos momentos em um longa-metragem de quase duas horas. Isso faz com que o espectador fique confuso e muitas vezes se atrapalhe com a linha temporal de cada cena. Quem busca saber detalhes a respeito da criação de O Senhor dos Anéis, por exemplo, acaba decepcionado, já que tudo é abordado de maneira superficial.

Nicholas Hoult (A Favorita) tenta entregar um personagem cativante, um escritor capaz de enxergar coisas que outras pessoas não conseguiriam, um homem à frente de seu tempo. Em boa parte da obra é bem sucedido nessa empreitada, mas acaba pecando em dar contornos dramáticos ao autor, especialmente nos conflitos da guerra, quando é quase abatido.

Foto: Fox Film do Brasil

Tolkien acaba sendo um filme sobre amor, guerra e amizade, tendo esse último tema se sobressaído, perante aos demais, graças ao forte laço construído por Tolkien e seus companheiros que se tornaram vítimas da Primeira Guerra. Fica o gosto amargo de potencial desperdiçado, já que um roteiro menos preso as convenções e uma direção menos quadrada poderiam presentear o espectador com um longa mais adequado a grandeza de seu biografado.

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