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Postado por
Isabelle Carvalho
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Ao ouvir pela primeira vez o título Parasita (Gisaengchung), logo visualizei um terror perturbador, com insetos repulsivos e cenas grotescas. O que eu não sabia era que o novo filme do diretor Bong Joon Ho (Okja) é realmente incômodo e subversivo, embora nada tenha a ver com vermes ou derivados, mas sim com seres humanos e como a existência e, acima de tudo, a sobrevivência, não podem ser categorizadas como simples em nenhuma instância. Tanto uma quanto a outra possuem múltiplas camadas de complexidade. É preciso chegar mais perto para iniciarmos qualquer análise que seja.
É exatamente isso que o cineasta e roteirista sul-coreano convida-nos a fazer. Porque um olhar longínquo direcionado aos eventos representados no longa está fadado a permanecer apenas na esfera superficial e, portanto, errada. As imagens iniciais são um prelúdio: a vista de uma janela de uma casa localizada abaixo do nível da calçada da rua. Dentro dela, uma família à margem da sociedade. Ou melhor, sob a sociedade.
Ki-Taek (Song Kang Ho) vive na moradia apertada com sua esposa, filha e filho. Logo de início flagramos uma bagunça e desorganização generalizada, com a família buscando sinais de Wi-Fi alheios para conectar seus celulares. Como qualquer outro sujeito da contemporaneidade, eles também querem se dar ao luxo de algo fútil, como usar o WhatsApp, por exemplo. Todos nós somos compelidos a consumir dentro da lógica vigente. Nem todos podem, mas o desejo é estimulado.
Foto: Pandora Filmes |
Há uma reviravolta quando o filho mais velho é chamado para um trabalho no casarão da endinheirada família Park. A partir dessa porta aberta, cada um dos membros daquele núcleo familiar vai se instalando na mansão. Fica a cargo dessas sequências, em especial, a comédia de Parasita. Os planos mirabolantes, a ingenuidade dos milionários, a sagacidade e esperteza de um grupo injustiçado socialmente.
É importante salientar, no entanto, que a comédia não é de fácil percepção aqui, já que não vem pura. Possivelmente se ouvirão risos abafados dentro da sala de cinema, já que a maioria esmagadora do público que assiste a obra, o faz de cima de seus pedestais privilegiados. Quem pode culpá-los?
A partir do terceiro ato, uma seriedade é assumida pelo tom da narrativa. Não é mais engraçado. Fica nítido, apesar da suposta ingenuidade dos Park, que eles sempre estarão hierarquizados no topo da pirâmide. Essa convivência e trégua entre ricos e pobres é colocada a níveis de incompatibilidade. É impossível. Porque os ricos, à primeira vista, são caridosos. Mas para eles, os pobres devem ficar onde “pertencem” com seus “cheiros de metrô”. Nos porões e casas desniveladas da vida. A pobreza é no máximo um fetiche, como é mostrado em uma das cenas, incentivado pelo distanciamento e consequente alívio com a miséria.
Foto: Parasita |
Parasita é bem-sucedido em mostrar a luta de classes de uma forma diferente. É quase um “vou rir para não chorar”. A ocorrência das chuvas e enchente é bastante simbólica. Enquanto a família Park comemora, a casa da família de Ki-Taek mergulha na água e no esgoto. Como tudo é injusto. Injustiça essa que é levada às últimas consequências no encerramento. Previsível, mas preciso. No final das contas, a desigualdade social é insuportável e nem um pouco pacífica. É uma guerra diária a partir de um questionamento: por que?
Ótimo |
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