CRÍTICA | Lolita

Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Vladimir Nabokov
Elenco: James Mason, Sue Lyon, Shelley Winters, Gary Cockrell, Peter Sellers, entre outros
Origem: Reino Unido/EUA
Ano: 1962


Em 1955, Vladimir Nabokov publicou seu maior sucesso literário, Lolita. Apenas 7 anos depois, em 1962, Stanley Kubrick (Glória Feita de Sangue) decidiu adaptar a obra para as telas de cinema, uma escolha ousada para a época. O longa-metragem é considerado um clássico muito mais pela discussão que o envolveu, que nega os bons costumes do cinema da época, ainda tímido com relação ao sexo no início da década de 1960.

Estamos falando da história de um professor, Humbert Humbert (James Mason) que casa com uma mulher fantasiando ter relações com sua filha de 12 anos, Lolita (Sue Lyon). O livro, que é narrado em primeira pessoa pelo própio Humbert, é carregado de temas sexuais, sendo responsável por firmar o termo “ninfeta” no imaginário moderno. Por conta desses elementos, ainda hoje o livro - e o filme, por consequência - causa enorme controvérsia.

Kubrick convidou o próprio Nabokov para escrever o roteiro, cuja primeira versão tinha mais de 400 páginas, algo praticamente não filmável para a época. Sendo assim, a versão final precisou sofrer grandes alterações e cortes que mudaram a obra original. Mas esse não foi o único problema.

Foto: Warner Home Video

Na época, para definir que conteúdo era adequado para o cinema, existia o restritivo Código Hays. Em 1962, Hollywood ainda não tinha independência artística para violar os valores da “família tradicional norte-americana”. Sendo assim, Kubrick teve o roteiro de seu projeto (que já havia sido editado) bastante limitado, obrigado a retirar boa parte da carga erótica do texto de Nabokov. Talvez por essa necessidade o cineasta optou por fazer de sua obra uma comédia, muito mais que um drama.

Lolita, o filme, perde muito do impacto e incômodo que a obra literária continha. Por outro lado, compensa tudo com uma boa dose de ironia, aumentando o tom da crítica social. Para tanto, Kubrick teve que aumentar o papel de Charlotte (Shelley Winters), mãe de Lolita. Além disso, a própria Lolita enquanto personagem precisou ser reescrita para que a obra fosse aprovada pela censura. No livro, ela é uma criança de 12 anos de idade. No filme, ela tem 16 anos, já demonstrando alguma maturidade.

As investidas românticas de Charlotte sobre Humbert, bem como a falta de reciprocidade do segundo, servem não só como alívio cômico, mas também para o desenvolvimento da personalidade de ambos. O lado infantil, agressivo e confuso de Charlotte explica muito sobre a falta de ambiente familiar para Lolita. Já a total falta de empatia de Humbert acrescenta uma camada extra de monstruosidade ao personagem. Os diálogos entre os dois, repletos de segundas intenções, acaba sendo um dos pontos fortes do filme.

Foto: Warner Home Video

A direção contemplativa de Kubrick retrata o desejo partindo das formas, dos membros, dos gestos. Nada é mostrado de maneira ampla, um tanto diferente da ótica do personagem central. O diretor pode não ter conseguido explorar toda a sexualidade inerente à relação proibida entre Lolita e Humbert, mas nem por isso deixou de realizar um drama emocionalmente intenso, marcado por ávidas obsessões e desejos proibidos. 

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