CRÍTICA | À Prova de Morte

Direção: Quentin Tarantino
Roteiro: Quentin Tarantino
Elenco: Kurt Russell, Zoë Bell, Rosario Dawson, Vanessa Ferlito, Sydney Tamiia Poitier, Mary Elizabeth Winstead, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2007


No auge dos anos 1970 a modalidade de exibição chamada "grindhouse" era também um evento social que concentrava vários nomes, hoje conhecidos, na época presentes pela mais adolescente descontração. Era uma proposta nova de consumo de cinema, mais barata, permitindo o intercurso de outros acontecimentos ao redor, típica de uma atmosfera punk efervescente. Nessas sessões eram exibidos mais de um filme pelo preço de um, no formato de exploitation (numa tradução livre: cinema apelativo). Com poucos recursos, as produções eram ousadas e abusadas, sem comedimentos para tratar de violência e sexo com irreverência e gratuidade, desafiando as limitações do bom costume.

Em 2007, Quentin Tarantino (Kill Bill: Volume 1) e Robert Rodriguez (Alita: Anjo de Combate) se uniram para produzir um simulacro dessa experiência célebre compilando em uma mesma sessão duas obras que fizeram em parceria de produção, mas em paralelo: Planeta Terror (Planet Terror) e À Prova de Morte (Death Proof). Isso tudo embalado por trailers falsos de obras que não existiriam, mas causando rebuliço o bastante para que no futuro fossem de fato realizados, como Machete (2010), por exemplo. Em diversos sites, inclusive, é possível encontrar ambos os longas catalogados como um só, de nome Grindhouse (2007).

Foto: Divulgação

A estética do filme dirigido por Tarantino, À Prova de Morte, se dedicou à risca nessa homenagem do obsoleto e brega, extrapolando mesmo recursos conhecidos do diretor como a verborragia e a ação desvairada. Não parece nada tão absurdo, claro, afinal sendo esse gênero uma das fontes principais da filmografia do diretor, a homenagem talvez fique mais pelo apuro na sensação da película (que some em grande parte no digital distribuído no Brasil). E também, claro, a escolha de Kurt Russell (Os Oito Odiados) para viver o dublê misógino Mike, que se utiliza de seu carro Dodge Challenger com uma instalação especial à prova de acidentes para lograr suas vítimas até o próprio destino.

O longa é separado de maneira abrupta por dois trios de personagens femininas que caem na mira do dublê. Se um deles serve para entregar o desenrolar inesperado da maneira como o vilão executa suas vítimas, o outro vem para dar cabo de Mike, com uma série de alusões à Faster, Pussycat! Kill! Kill! (1965) e suas mulheres motoristas violentas e criminosas. Apesar da diversão de referências e nostalgia, fora uma longuíssima sequência de porradaria repetitiva (da forma mais literal possível) com as personagens de Rosario Dawson (Zumbilândia: Atire Duas Vezes), Tracie Thoms (Looper: Assassinos do Futuro) e Mary Elizabeth Winstead (Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa), o filme soa muito comportado.

Em comparação com seu irmão bivitelino, Planeta Terror, que se beneficia da melhor forma possível de gore estúpido, zumbis e uma dançarina com uma metralhadora no lugar da perna, À Prova de Morte tem muito diálogo e muita ação, mas nada se encaixa. Um não leva ao outro, o que é algo que Tarantino sabe fazer perfeitamente. Ao invés disso, parecem conjuntos separados de filme costurados juntos, perdendo muito na tensão.



Talvez a necessidade da homenagem em toda a estrutura também tenha sugado da obra elementos mais ricos no momento presente do diretor, deixando-o fazer um trabalho simples em questões gráficas, pois mesmo os exploitations eram obras de baixíssimo recurso. Não por isso deixa de ser uma experiência interessante e com um final que se força a ser o mais satisfatório possível para o espectador na lógica de vingança tão cara a Tarantino. Mas certamente é um trabalho de pouco destaque.

Foto: Divulgação


Bom

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