CRÍTICA | O Serviço de Entregas da Kiki

Direção: Hayao Miyazaki
Roteiro: Hayao Miyazaki
Elenco: Minami Takayama, Rei Sakuma, Kappei Yamaguchi, entre outros
Origem: Japão
Ano: 1989


Depois do enorme sucesso que se tornaria Meu Amigo Totoro (1988), o quarto filme do Studio Ghibli - se não levarmos em conta Nausicaä do Vale do Vento (1984) - trouxe a primeira protagonista roteirizada e dirigida por Hayao Miyazaki (O Castelo no Céu) desde que se juntara a Isao Takahata (Túmulo dos Vagalumes), Toshio Suzuki e Yasuyoshi Tokuma para a criação da produtora japonesa.

Lançado em 1989, O Serviço de Entregas da Kiki (Majo no takkyûbin) não atingiu a popularidade de seu antecessor ao longo dos anos, mas foi um importante passo para cravar a diversidade temática que se tornaria uma das principais características de seus produtores.

A obra foi adaptada por Miyazaki a partir do livro de Eiko Kadona, e conta a história de Kiki (Minami Takayama), uma jovem bruxa que acaba de completar 13 anos e está prestes a sair de casa para realizar um ano de treinamento, em uma cidade desconhecida e que não tenha outra bruxa, conforme manda a tradição. Tendo o gato preto Jiji (Rei Sakuma) como única companhia, os dois embarcam nesta aventura e encontram o local ideal que Kiki tanto procurava: uma grande cidade ao Sul, e perto do mar.

Foto: Studio Ghibli

Diferente do pequeno vilarejo onde morava com os pais e os amigos vizinhos, um dos primeiros desafios da protagonista é se adaptar às diferentes pessoas que cruzam seu caminho e nem sempre correspondem às suas expectativas. Porém, logo ela cruza com uma simpática mulher, Osono (Keiko Toda), dona de uma padaria local e que abriga a jovem e seu gato. É lá que a menina tem a ideia de iniciar um serviço de entregas, já que a habilidade de voar é o seu diferencial e único dom que conseguiu desenvolver como bruxa até então.

Nesse caminho, ela encontra o garoto Tombo (Kappei Yamaguchi), que fica encantando com seu dom de voar e faz de tudo para se aproximar da garota. A obra se baseia em mostrar a jornada de autoconhecimento da personagem, já que a sede por independência que tanto ansiava em experimentar não sai bem como o esperado. A vida em uma cidade diferente, a necessidade em se virar sozinha para garantir um sustento e a dificuldade em se relacionar e identificar com outras pessoas da sua idade são desafios que farão parte da jornada de Kiki, assim como fazem parte da jornada de muitos espectadores.

Utilizando-se da bruxaria como pano de fundo, Miyazaki foge do óbvio ao nos aproximar dos problemas emocionais de Kiki sem recorrer às fantasias mirabolantes, e insere o espectador em uma realidade onde os sentimentos são mais importantes do que poderes mágicos.

Como de costume nas obras do estúdio, O Serviço de Entregas da Kiki jamais deixa sua simplicidade empalidecer os temas que deseja tratar, como crises existenciais ou a complexidade do bloqueio mágico que atinge a garota. Pelo contrário, Miyazaki traz enorme doçura em meio a esses elementos, com um equilíbrio perfeito entre o drama e a aventura de uma corajosa adolescente em busca de sua identidade.

Foto: Studio Ghibli


Ótimo

Comentários