CRÍTICA | Batman: O Cavaleiro das Trevas

Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan e Jonathan Nolan
Elenco: Christian Bale, Heath Ledger, Aaron Eckhart, Gary Oldman, Michael Caine, Maggie Gyllenhaal, Morgan Freeman, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2008


Christopher Nolan (Insônia) foi o responsável por ressuscitar o Batman nos cinemas com Batman Begins (2005), após Batman Eternamente (1995) e Batman e Robin (1997) acabarem com a reputação do herói. Com Christian Bale (Ford vs Ferrari) assumindo o manto do personagem, o diretor fez um excelente trabalho estabelecer um dos melhores filmes de origem para heróis na grande tela, com uma abordagem mais verossímil para sua história. Assim, as expectativas para a sequência, Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight), eram altíssimas.

A trama mostra que Batman (Bale) conseguiu manter a ordem na cidade de Gotham, com a ajuda do promotor público Harvey Dent (Aaron Eckhart) e o detetive James Gordon (Gary Oldman). Porém, essa ordem é ameaçada quando um novo criminoso conhecido como Coringa (Heath Ledger) surge para instaurar o caos na cidade.

Nolan, em roteiro escrito em conjunto com seu irmão Jonathan (Westworld), constrói uma história épica do crime em Gotham, mergulhada no realismo proposto em sua visão para a nova franquia, enquanto afunda na complexidade moral e psicológica de seus personagens. Tudo isso sem deixar de ser um gratificante entretenimento pop.

“Introduza um pouco de anarquia, perturbe a ordem vigente e então tudo se torna um caos. Eu sou um agente do caos.”

Foto: Warner Bros Pictures

A poderosa frase dita pelo Coringa denota o principal trunfo do longa: Heath Ledger (10 Coisas Que Eu Odeio em Você). O ator, que se entregou completamente ao personagem, entregou uma das atuações mais memoráveis na história do cinema e da cultura popular de modo geral, já que extrapola barreiras. Seu personagem, além de roubar a cena em cada aparição em tela com falas e atitudes impressionantes, consegue testar psicologicamente e fisicamente não apenas a dupla Batman/Dent, mas também o espectador.

Ledger entrou na mente do personagem, se aprofundando em sua psique conturbada, dando vida a um assassino maníaco que é personificação do mal irracional - tal qual um terrorista moderno. Um psicopata impiedoso e anárquico, que se diverte em meio ao caos e não teme a dor ou a morte. E o fato de não sabermos ao certo sua origem é outro grande acerto do roteiro, nos passando uma sensação de perigo constante.

Jack Nicholson (O Iluminado) já havia brilhado vivendo um Coringa mais divertido no Batman (1989) de Tim Burton (Dumbo), mas a forma como Ledger encarna o vilão e rompe barreiras inimagináveis em sua carreira é excelente. Sua fisicalidade e caracterização tornaram-se icônicas. É muito triste que o ator tenha falecido poucos meses após o término das filmagens. Não teve tempo de ver seu trabalho reconhecido em premiações como o Globo de Ouro e o Oscar, que lhe concederam prêmios póstumos de melhor ator coadjuvante.

E seria injusto não dar créditos também a excelente atuação de Christian Bale, já que seu Batman precisa encontrar uma maneira de deter o sádico vilão antes que mais vidas sejam perdidas. Essa ameaça real só é sentida pelo espectador graças ao trabalho do ator, que nos mostra o psicológico e a moral de Bruce Wayne sendo testados a todo instante, dando uma profundidade nunca antes vista em tela ao protagonista. E a frase dita por ele em determinado momento deixa isso claro:

“Paramos de procurar monstros embaixo da nossa cama quando percebemos que eles estão dentro de nós.”

Foto: Warner Bros Pictures

Todos esses embates psicológicos entre o núcleo central de personagens conduzem a linha narrativa sobre a perspectiva da condição humana. “A loucura é como a gravidade, só precisa de um empurrãozinho”, diz Coringa em uma das melhores cenas do filme. Uma conexão direta com a HQ "A Piada Mortal”, onde trabalha-se muito esse dualismo e linha tênue entre loucura e sanidade.

E embora o roteiro seja mais linear, destoando das obras originais anteriores do cineasta, como Amnésia (2000) e O Grande Truque (2006), O Cavaleiro das Trevas apresenta uma condução engenhosa e empolgante, repleta de reviravoltas e testes psicológicos em seus personagens, culminando principalmente na mudança drástica de personalidade de Harvey Dent, que encontra em Aaron Eckhart (Obrigado Por Fumar) um interprete a altura de suas dualidades.

“Ou se morre como herói, ou vive-se o bastante para se tornar o vilão.”

Todos esses elementos são exacerbados graças a direção de Nolan, que evolui o que havia feito em Batman Begins, conduzindo cenas de ação muito bem filmadas e coreografadas. O diretor consegue retratar muito bem em tela todo o caos instaurado em Gotham, mas nunca deixando os dilemas morais tomarem conta por completo, fazendo a mescla perfeita para um entretenimento de primeira. E, nesse ponto, a cinematografia de Wally Pfister (O Homem Que Mudou o Jogo) ajuda a dar o tom do caos urbano, ao passo que a trilha sonora de James Newton Howard (Eu Sou a Lenda) e Hans Zimmer (Interestelar) dá ao filme a grandiosidade necessária.

Contando ainda com um elenco de apoio invejável, Batman: O Cavaleiro das Trevas é um marco da cultura pop e dos filmes baseados em quadrinhos de modo geral. Um filme que consegue equilibrar perfeitamente a proposta verossímil de seu diretor com a cultura de entretenimento das histórias em quadrinhos.Algo nada menos que notável.

Foto: Warner Bros Pictures


Excelente

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