CRÍTICA | Boy

Direção: Taika Waititi
Roteiro: Taika Waititi
Elenco: James Rolleston, Te Aho Eketone-Whitu, Taika Waititi, entre outros
Origem: Nova Zelândia
Ano: 2010


Apesar de não ser o primeiro lançamento de Taika Waititi (Loucos Por Nada) enquanto diretor, o texto e espírito geral que nos é apresentado em Boy (2010) já estava sendo lapidado muitos anos antes. De certo modo, é possível sentir essa precipitação na energia que a obra emana o tempo todo: um entusiasmo infantil fascinado com o princípio de todas as novas coisas que são tornadas existentes. Apesar de incalculáveis diferenças culturais, o processo de crescimento é universal em sua investigação do mundo, onde vislumbres se tornam paisagens mais elaboradas, o tato decifra texturas mais complexas e as frequências de luz visível parecem se multiplicar. É o próprio ato de criar o mundo por sua apreensão da realidade. Mal se pode esperar para experimentar o real tamanho de todas as coisas.

Essa emoção pulsa por toda a jornada de Boy (James Rolleston) seguindo sua juventude em Waihau Bay - localidade também presente na infância de Taika - até ser defrontado com o retorno do pai (interpretado pelo próprio cineasta), trazendo à tona a impossibilidade de coexistência entre as versões fantasiosas que o protagonista alimentava e oferecia de seu pai com a realidade crua de um homem imaturo e incompetente.

A "infantilidade" de Alamein - o pai - imediatamente supre alguns devaneios de Boy, mas, quase tão rapidamente quanto, é insuficiente para as necessidades mais básicas de seus filhos. Alamein diz fazer parte de uma gangue com três membros (além dele, dois capangas bobalhões e pouco confiáveis), despeja promessas lúdicas a cada frase e está desesperado procurando um dinheiro que enterrou no quintal antes de ser capturado pela polícia. Este estilo de vida satisfaz as projeções de Boy conduzindo-o à sonhos cada vez mais solidificados em ego e ganância.

Foto: Whenua Films

Enquanto isso, as fantasias do irmão mais novo, Rocky (Te Aho Eketone-Whitu), dizem respeito a si mesmo e a poderes incompreensíveis, imensos demais para conseguir controlá-los sem ferir os próximos. É assim que justifica a morte da mãe em seu parto e recebemos traduções de sua imaginação por meio de desenhos - os mesmos que decoram todo o túmulo da falecida.

Em três fases diferentes temos três crianças confabulando com fabricações de seu imaginário, reagindo ao mundo bucólico daquela cidade. É da natureza das crianças acreditar que os adultos reservam respostas e soluções definitivas para enfrentar o mundo, mas Alamein é apenas uma demonstração mais óbvia de que adultos são apenas crianças que ficaram maiores com o tempo. A altura e a barba não garantem um mundo menos caótico para ser entendido e a confusão dos sonhos púberes permanece.

Temos um cenário idílico pelo qual passeiam personagem se descobrindo e se confrontando. É uma montagem ótima, enriquecida pela representação do povo maori - do qual o diretor é descendente direto - na Nova Zelândia. Essa representatividade não está gratuitamente dada apenas por capricho, mas confere nuances àquelas crianças, à sua relação com o ambiente, com as músicas e com a influência da cultura externa. O fascínio por Michael Jackson, por exemplo, é uma constante que ilustra muitos dos sonhos de Boy, mas é possível reparar de soslaio no resto do elenco, como um dos colegas praticamente fazendo um cosplay do uniforme do cantor para o clipe da canção "Thriller".

O grande problema que afeta o filme e sua candura entusiasmada é, ironicamente, o próprio diretor. Ou, ao menos, o papel que ele interpreta. Uma boa parcela do humor textual não parece corresponder muito bem com a diegese daquele universo, ficando Alamein parecendo menos um trágico caso de criança nunca crescida e mais uma esquete trapalhona de comédia física deslocada do próprio mundo. São dois tipos de humor diferentes que pouco casam - um mais de costume, outro mais escrachado, expansivo - e dependeriam de boa articulação para isso, o que não ocorre. As unidades dramáticas da história vão sendo constantemente danificadas por esse disjunte, impedindo que a catarse do questionamento de Boy ao final impacte o que poderia.

Foto: Whenua Films

Mesmo com essa desarmonia, a performance de James Rolleston (Até Que a Gente Te Separe) é suficientemente abastecida de um carisma tão simples quanto a infância e os sonhos que seu personagem vive, tornando todas as suas cenas um passeio carinhoso por nossas próprias infâncias e a grandeza do potencial de tudo que víamos. Não a toa, "potencial" é uma palavra tão emitida, mesmo que ninguém saiba explicar o sentido no filme. Ainda estão para desvendar este mistério enquanto crescem.

Bom

   

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