CRÍTICA | O Que Fazemos Nas Sombras

Direção: Taika Waititi e Jemaine Clement

Roteiro: Taika Waititi e Jemaine Clement

Elenco: Taika Waititi, Jemaine Clement, Jonny Brugh, Cori Gonzalez-Macuer, Stu Rutherford, entre outros

Origem: Nova Zelândia

Ano: 2014

A mistura de terror e comédia nos filmes está se tornando cada vez mais popular entre o público e ganhando mais exemplares a cada dia. Também conhecido como "terrir", o terror-comédia traz uma mistura que explora o melhor dos dois gêneros, proporcionando obras divertidas e que, ao mesmo tempo, traz elementos ou referências assustadoras. O Que Fazemos Nas Sombras (What We Do in the Shadows), é um dos melhores exemplares nos últimos anos no quesito comédia de terror.

Na trama inusitada e criativa, nós acompanhamos a vida de quatro vampiros imortais que são colegas de casa, em um subúrbio da Nova Zelândia: Viago (Taika Waititi), Deacon (Jonny Brugh), Vladislav (Jemaine Clement) e Petyr (Ben Fransham). Tudo isso é registrado por um grupo de cineastas, protegidos por crucifixos, que acompanha a intimidade do grupo com suas câmeras.

O longa se destaca em relação a outras comédias de terror justamente pela sua inventividade e maneiras de brincar/homenagear o gênero de "filmes de vampiro". O formato mockumentary – um falso documentário – casa perfeitamente com a vida e situações inusitadas apresentadas. E a dupla de diretores e roteiristas Jemaine Clement (Loucos Por Nada) e Taika Waititi (Boy) têm um timing cômico perfeito para explorar essas situações atípicas com maestria.

Isso porque o grupo tenta seguir uma vida normal em um subúrbio, apesar de serem vampiros. Então, temos situações comuns para qualquer um sendo apresentadas, mas estranhas e divertidas no tom satírico empregado por parte dos vampiros, como banquetes com sangue humano, pagar aluguel, dividir tarefas, tentar entrar em boates, além de brigas entre eles próprios. Explorar essas peculiaridades é o grande trunfo de O Que Fazemos Nas Sombras.

Foto: Unison Films

A trama ganha nuances e reviravoltas ainda mais engraçadas com a adição de Jackie (Jackie Van Beek), uma humana que ajuda a atrair novas vítimas para o apartamento e limpar a casa; Nick (Cori Gonzalez-Macuer), que se torna um novo membro do grupo e Stu (Stu Rutherford), um humano pelo qual o grupo cria um excêntrico laço de amizade.

O grupo faz grandes alusões ao clássicos filmes de terror com vampiros, principalmente com seus protagonistas. Todos eles são inspirados em personagens vampirescos: Viago é muito inspirado em Entrevista com o Vampiro (1994); o jovem rebelde Deacon faz referência a Drácula (1931); o mulherengo Vladislav se assemelha a Drácula de Bram Stoker (1992); Petyr, a inspiração mais óbvia, em Nosferatu (1922); já Nick se assemelha a vampiros mais descolados e de tramas mais juvenis, como em Os Garotos Perdidos (1987) e Crepúsculo (2008).

O roteiro acerta ao não tornar essas características meras referências, mas sim refletir as personalidades de cada personagem, em suas atitudes e estilos. Isso, obviamente, causa contraste divertido no grupo como um todo e na trama em si.

É fundamental que o filme não se leve a sério, e a dupla de diretores sabe muito bem disso, parecendo se divertir junto ao público. Dentro desse contexto, aproveitam do baixo orçamento para criar efeitos especiais toscos, mas divertidíssimos, já que dialogam com o formato de falso documentário.

O Que Fazemos Nas Sombras é uma comédia genuinamente engraçada, que sabe muito bem o que está fazendo ao explorar satiricamente filmes de terror de vampiros em uma trama cotidiana documental. Mesmo poucos anos após seu lançamento, pode-se dizer que a obra figurará como um jovem clássico cult, que ensina brilhantemente como explorar o humor dentro do terror. Não a toa inspirou uma série de TV recentemente.

Foto: Unison Films

Ótimo