CRÍTICA | Um Tiro na Noite

Direção: Brian De Palma e John G. Fox
Roteiro: Brian De Palma
Elenco: John Travolta, Nancy Allen, John Lithgow, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1981

No início dos anos 1980, Brian de Palma (Vestida Para Matar) era notoriamente um diretor em ascensão em Hollywood. Depois de um longo período trabalhando em filmes de baixo orçamento e alguns lançamentos que chamaram a atenção da crítica e do público, foi a partir desta década que o norte-americano viria a lançar os maiores projetos de sua filmografia e que se tornaram clássicos do cinema mundial.

O pontapé que deslancharia o período oitentista do cineasta vem com Um Tiro na Noite (Blow Out), estrelando um dos atores mais populares do momento, John Travolta (Carrie, a Estranha), e outros nomes conhecidos como Nancy Allen (RoboCop: O Policial do Futuro) e John Lithgow (Laços de Ternura).

Infelizmente a obra não aparece entre os títulos mais lembrados de De Palma, mas não deixa de ser um marco em sua carreira, tanto pela estética e recursos marcantes empregados, quanto por sua paixão pelo cinema, aplicando diversas referências à filmes e realizadores que o inspiram até hoje. Um Tiro na Noite tem tudo a ver com cinema, e a metalinguagem presente na trama é um diferencial positivo desde o início.

Jack Terry (Travolta) é um técnico de efeitos sonoros para cinema e trabalha em diversos filmes de baixo orçamento desde que enveredou no ramo. Seu trabalho consiste em capturar e registrar todo tipo de som e ruído que será incorporado em um projeto cinematográfico, além de dominar o uso de outras ferramentas que fazem parte da mixagem e edição de som.

Filmways Pictures

Em uma noite de trabalho ao ar livre, Jack leva seu equipamento e registra diversos sons ambientes - uma conversa entre um casal, o coaxar de um sapo, o pio de uma coruja - em um momento que De Palma nos insere diretamente no universo do operador de forma brilhante. Porém, todos esses sons são interrompidos por um estouro, seguido pelo estrondoso som de um carro perdendo o controle numa ponte e afundando no rio local.

E aqui vai uma dica importante. É extremamente recomendável assistir Um Tiro na Noite com um bom fone de ouvido, para imergir no detalhamento sonoro que faz toda a diferença para a narrativa.

Em um momento instintivo, Jack mergulha no rio e consegue salvar a mulher que estava no carro, sem fazer ideia de que o homem que perdeu a direção do veículo era um candidato à presidência, alguém de grande visibilidade. A partir dessa descoberta, o protagonista se torna parte de um emaranhado de segredos envolvendo traição, ações conspiratórias, assassinatos e um desfecho trágico para todos os envolvidos.

É impossível não lembrar de outras obras, como o italiano Blow-Up: Depois Daquele Beijo (1966), de Michelangelo Antonioni (Profissão: Repórter), bem como de outros grandes trabalhos do mestre do suspense Alfred Hitchcock (Psicose), do qual De Palma se inspira em temas e maneirismos de direção/estilo. Nisso tudo ele mistura sua própria experiência nos trabalhos que realizou no passado para inserir uma história dentro da outra, trazendo uma perspectiva específica sobre um processo que compõe a produção de um filme de forma única, com extravagante uso de som e fotografia.

O roteiro em si, assinado pelo próprio diretor, sofre com alguns exageros narrativos e decisões questionáveis dos personagens, principalmente no terceiro ato, onde o longa sofre um pouco com o ritmo das reviravoltas e as soluções fáceis. Nesse ponto, causa um certo distanciamento em termos de veracidade. O excesso não funciona tão bem aqui, mas é uma marca na carreira do cineasta, uma característica que elevou outros de seus projetos a tornarem-se clássicos, como Scarface (1983) e Os Intocáveis (1987).

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Dito isso, reafirmo que Um Tiro na Noite é um marco na carreira de Brian De Palma, pelos caminhos que lhe abriu e por reafirmar que, àquela altura, ele já era um grande nome do suspense norte-americano. É admirável como ele conseguiu reproduzir uma variedade de referências cinematográficas sob uma única perspectiva, peneirando suas inspirações e mesclando tudo isso em direção e narrativa próprias. As homenagens são claras, ao mesmo tempo que o talento em convergi-las a seu favor funciona de forma tão natural.

Ótimo

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