CRÍTICA | A Pele Que Habito

Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar e Agustín Almodóvar
Elenco: Antonio Banderas, Elena Anaya, Jan Cornet, Marisa Paredes, entre outros
Origem: Espanha
Ano: 2011

Desde que começou sua carreira nos anos 1970, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar (Abraços Partidos) se tornou um dos melhores e mais provocativos nomes do cinema, desenvolvendo um senso de estilo único em suas produções.

Um dos temas recorrentes de sua filmografia é o aprisionamento de seus personagens, tanto metaforicamente quanto fisicamente, que acompanhamos em filmes como Ata-me (1989), Má Educação (2004) e, principalmente, em A Pele Que Habito (La Piel Que Habito), que discute sobre beleza, obsessão sexual e questões de gênero, mas especialmente sobre o desejo masculino de possuir o corpo feminino - não importando custos ou circunstâncias necessárias.

Baseado no romance do escritor francês Thierry Jonquet, intitulado "Tarântula", o longa-metragem acompanha o personagem Robert Ledgard (Antonio Banderas), um conceituado cirurgião que, desde que sua esposa sofreu graves queimaduras após um acidente de carro e se suicidou, é alimentado pela obsessão de recriar em laboratório uma espécie de pele artificial para seres humanos. Ele se mostra um homem inescrupuloso e não mede esforços para colocar em prática seus experimentos e alcançar seu objetivo. Para isso, mantém uma mulher, Vera Cruz (Elena Anaya), como prisioneira submissa em sua casa.

BLUE Haze Entertainment

Com claras influências de Os Olhos Sem Rosto (1960) de Georges Franju, Almodóvar brinca com os gêneros e o absurdo em A Pele Que Habito, conduzindo o público por um labirinto dramático repleto de surpresas que se desenrolam progressivamente em uma narrativa não linear - certamente um dos maiores trunfos para a história, que teve roteiro do diretor em colaboração com Agustín Almodóvar. O enredo mescla os fragmentos de flashbacks com cenas dos dias atuais, que vão completando as lacunas sobre as motivações e personalidades dos personagens.

É complicado falar sobre o filme sem dar spoilers, mas temos aqui um enorme retrato sobre a obsessão de um cirurgião plástico que se torna um cientista alucinado (nos melhores moldes do clássico Frankenstein de 1931) conforme fica aprisionado em sua própria vida pelos diferentes processos de luto que sofreu, mas que aos poucos são revelados para entendemos melhor as causas dessa insanidade.

Antonio Banderas (Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos) consegue passar todas as nuances psicóticas do protagonista através de sua frieza e inexpressividade. Para ele, a pele é o que nos define como seres humanos - dando valor ao título da obra. Ela pode nos proteger, nos modificar e, principalmente, representar a nossa identidade. Robert é um prisioneiro de seu passado e faz de Vera sua prisioneira, quando os dois estão presos pelas ilusões e identidades que criaram para si mesmos.

A cinematografia de José Luis Alcaine (Volver) apresenta um estilo limpo e iluminado, contrastando propositalmente com elementos sombrios e perturbadores da história que são reforçados pela trilha sonora pulsante e ameaçadora de Alberto Iglesias (Os Amantes Passageiros), que vão desde vingança à obsessão de seus personagens. Algumas das questões que o filme se aprofunda psicologicamente são sobre o desejo masculino de possuir o corpo feminino e, principalmente, como as mulheres são constantemente vítimas de abuso e violência. Além disso, também temos a abordagem das questões de gênero, sobre como a identificação de gênero de uma pessoa não está ligada, necessariamente, à aparência do seu corpo ou seu comportamento, mas sim à forma como a própria se reconhece.

Blue Haze Entertainment

A Pele Que Habito é um dos filmes mais provocativos de Pedro Almodóvar, onde o diretor explora a obsessão humana e reflete sobre questões de identidade em uma narrativa que progressivamente se torna mais obscura conforme os fragmentos do passado dos personagens são desvendados.

Ótimo


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