CRÍTICA | Turma da Mônica: Lições

Direção: Daniel Rezende
Roteiro: Thiago Dottori e Mariana Zatz
Elenco: Giulia Benite, Kevin Vechiatto, Laura Rauseo, Gabriel Moreira, Monica Iozzi, Paulo Vilhena, entre outros
Origem: Brasil
Ano: 2021

“A gente volta a ser criança cada vez que a gente entra no cinema pra ver Turma da Mônica.”

A frase do diretor Daniel Rezende (Bingo: O Rei das Manhãs) resume bem a sensação de ver o maior ícone da cultura pop nacional nas telas. As histórias de Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão fazem parte da nossa infância, e explorar esse universo rico de Mauricio de Sousa em uma adaptação cinematográfica já tinha sido uma grata surpresa em Turma da Mônica: Laços (2019). Agora, com um filme mais amadurecido em todos os aspectos, podemos voltar aos cinemas para ver essa sequência que traz uma sensação de nostalgia e que é como um abraço quentinho nos corações dos brasileiros, sejam eles crianças ou adultos.

Turma da Mônica: Lições, assim como o anterior, é baseado na graphic novel de mesmo nome, dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi. Tanto na HQ como no longa, há uma adaptação de Romeu e Julieta que os personagens tentam montar, que é inserido de forma fluida, divertida e nem um pouco clichê. De modo bem lúdico, a obra inicia com as crianças ensaiando a peça, intercalando as cenas reais e fictícias de forma a conversarem entre si, fazendo com que o romance de Shakespeare espelhe bem o que cada um deles precisa enfrentar na vida real.

E após um plano “infalível” que resulta em um braço quebrado de Mônica (Giulia Benite), os pais dos quatro amigos tomam decisões para que seus filhos amadureçam. Enquanto Cebolinha (Kevin Vechiatto) precisa resolver seu problema de dicção indo a uma fonoaudióloga, Magali (Laura Rauseo) faz aulas de culinária para lidar com sua ansiedade e Cascão (Gabriel Moreira) tem que enfrentar a temida água na natação. Mas é Mônica que fica com a tarefa mais difícil: entrar numa nova escola e deixar sua turminha.

Paris Filmes / Downtown Filmes

Depois de perder a sua dona da rua, Magali se sente solitária e ainda mais comilona, e Cebolinha e Cascão agora não têm mais a amiga para protegê-los dos valentões do colégio. E para piorar, Mônica acha que seus amigos a esqueceram. Perante tantas dificuldades, a turma vai fazer novas amizades, aprender novas lições, assim como ensinar algumas para os adultos também.

O filme anterior serviu para apresentar o universo utópico criado por Mauricio de Sousa, assim como os personagens principais. Porém, assim como em todas as sagas infanto-juvenis, o elenco cresceu, e o segundo longa procurou transformar esse "problema" em solução, focando o tema da história no amadurecimento inevitável dessas crianças. Por esse motivo, Lições é bem mais denso e imerso em sentimentos que vão emocionar o espectador (recomendo levar um lencinho).

O roteiro escrito por Mariana Zatz (Ninguém Tá Olhando) e Thiago Dottori (Vips) adota um tom mais maduro e foca em desenvolver os protagonista, aprofundando relações e inserindo novos coadjuvantes que realçam as excentricidades de cada um, sem perder o lado cômico e lúdico da obra original.

Temos aparições de personagens queridos e carismáticos como Franjinha (Tiago Schmitt), Do Contra (Vinícius Higo), Nimbus (Rodrigo Kenji), Marina (Laís Villela), Milena (Emilly Nayara) e tantos outros, e cada um deles têm pelo menos um momento importante na narrativa. Até a Turma da Tina (Isabelle Drummond), com Rolo (Gustavo Merighi), Pipa (Camila Brandão) e Zecão (Fernando Mais) é bem apresentada e tem um dos momentos mais tocantes do longa.

Além do inquestionável talento na direção, Daniel Rezende imerge totalmente na história que propõe, apresentando camadas mais íntimas dos personagens assim como easter eggs bem ao estilo Marvel, dignos da participação especial do nosso Stan Lee, também conhecido como Mauricio de Sousa. Usando humor e leveza para conduzir a trama, Rezende entrega uma obra profunda, mas que jamais soa "pesada", encontrando um difícil equilíbrio entre comédia e sensibilidade. Após receber críticas pelo ritmo mais lento em Laços, o diretor parece encontrar o caminho ideal em Lições, sem longas pausas dramáticas para esperar uma lágrima cair, e com uma resolução de conflitos que acontece de forma ideal, nem arrastada nem corrida. 

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Além disso, alguns elementos essenciais para a atmosfera da obra, que transportam a magia das páginas para a tela, são a trilha sonora de Fábio Góes e a direção de arte de Mariana Falvo, que mantém o ar mágico da narrativa. As melodias emocionantes, a construção do pequeno e acolhedor Bairro do Limoeiro, com inserção de referências, casados com a fotografia aconchegante de Azul Serra e os figurinos de Fernanda Marques e Manuela Mello, imergem o espectador de volta à infância, de forma envolvente e nostálgica.

Evidentemente também é preciso destacar o talento e a sintonia do elenco. E aqui fica perceptível o amadurecimento na atuação desses jovens protagonistas, assim como a vivacidade nas interações entre eles. Em frente às câmeras, as crianças parecem ainda mais soltas e adaptadas aos personagens, de forma mais natural e confortável.

Giulia Benite, a Mônica, entrega uma jornada interna com mais nuances e lágrimas. Kevin Vechiatto segue com um Cebolinha diveltidíssimo com seus planos que semple dão ellado, mas também com sua dose de emoção. Gabriel Moreira segue como um Cascão carismático e que contribui bem para o desenvolvimento da história. Já Laura Rauseo vive uma Magali ansiosa, com um arco dramático bem desenvolvido, conquistando com sua delicadeza e simpatia.

Além do quarteto, Laís Villela dá vida a linda e artística Marina; Emilly Nayara traz a fofura e representatividade da amante dos animais Milena; Lucas Infante é o calado e engraçadíssimo Humberto; e Vinícius Higo rouba a cena como Do Contra, trazendo leveza e o humor para a trama.

Com tantos novos personagens inseridos na história que devem ser trabalhados futuramente, abre-se o caminho para um terceiro filme e possíveis spin offs. Algo evidente até na cena pós-créditos imperdível. Portanto, fique de cinema até o fim dos créditos.

Muito mais comovente e maduro que o anterior, Turma da Mônica: Lições nos entrega uma sequência sobre amadurecimento, adaptação e celebração das mudanças sem ignorar a importância do passado. Nas palavras de Daniel Rezende:

“A beleza do filme tá aí: quando a gente assiste o Turma da Mônica, ele está em todos nós. Ele faz parte de quem somos. Poder se enxergar na tela e ver a nossa cultura, o nosso país é a melhor coisa.”

Excelente



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