CRÍTICA | Eduardo & Mônica

Direção: René Sampaio
Roteiro: Matheus Souza, Jessica Candal, Michele Frantz e Claudia Souto
Elenco: Alice Braga, Gabriel Leone, Victor Lamoglia, entre outros
Origem: Brasil
Ano: 2020

"E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração."

A canção dos anos 1980, "Eduardo e Mônica", foi um dos grandes sucessos da carreira da banda Legião Urbana, criando dois personagens populares da música brasileira, consequentemente tornando-se referência para a famosa expressão "os opostos se atraem".

Agora, a canção originou um filme sobre paixão e para os apaixonados, contando como em um dia atípico, diversas coincidências levaram Eduardo e Mônica a uma festa onde se conheceram, resultando numa divertida história de amor.

Esse é mais um exemplo de produção que necessita de ousadia e dedicação para se concretizar na tela e conquistar o público, ultrapassando a barreira da imaginação de cada espectador.

René Sampaio (Sinistro), cineasta brasiliense amante da Legião Urbana, ficou responsável por esse desafio. Ele que já havia adaptado para as telas outra música da banda, Faroeste Caboclo (2013), sobre João de Santo Cristo. Mas agora a missão era mais complexa, já que a canção do amor entre a médica e o estudante que se encontram por acaso numa baladinha da Capital é muito mais conhecida.

Downtown Filmes/Paris Filmes

Sampaio se baseia na nostalgia da banda, em clássicos do rock 'n roll, além de uma ótima reconstituição da década de 1980. Cheio de metáforas visuais interessantes, o diretor usa muito bem a Brasília pós ditadura militar como pano de fundo para essa história de amor, um lugar que está intrinsicamente ligado à história do casal, para contar uma narrativa apaixonante, mas também bastante realista. Tudo está ali: as falhas de comunicação que indicam o fim, a impaciência para resolver crises minúsculas, mas que mostram serem um acumulado de diversos outros incômodos.

O filme não romantiza as diferenças e mostra essa realidade muito mais complexa. O roteiro, assinado por Jessica Candal (Ferrugem), Michele Frantz (Mulher do Pai), Claudia Souto (Pega Pega) e Matheus Souza (Me Sinto Bem Com Você) preenche bem as lacunas deixadas pela canção de Renato Russo e passeia por outros trechos, alguns de maneira sutil outros nem tanto. No entanto, além de definir bem as personalidades dos protagonistas, o quarteto dá corpo à história, fazendo algumas mudanças criativas como, por exemplo, o “carinha do cursinho” que virou o melhor amigo de Eduardo (Gabriel Leone), além do arco criado envolta de Mônica (Alice Braga), que enriquece a personagem. O interessante é acompanhar como Sampaio explora o coração tão puro de Eduardo como o de uma criança, capaz de quebrar as barreiras que Mônica construiu ao seu redor.

Por falar em personagens, Alice Braga (O Esquadrão Suicida) e Gabriel Leone (Minha Fama de Mau) são apaixonantes em cena. Leone convence no papel de um adolescente de 16 anos, cheio de inseguranças e que vai amadurecendo no decorrer do longa. Já Braga encarna perfeitamente uma Mônica rockeira, com espírito livre, repleta de dilemas, complexa e encantadora. Além deles, temos o fiel escudeiro de Eduardo, interpretado pelo divertido Victor Lamoglia (Ninguém Tá Olhando), que surpreende por trazer momentos cômicos e emoção no desfecho.

Por outro lado, Eduardo & Mônica peca em seu terceiro ato ao acelerar a história sem apresentar a conclusão da canção, o que foge um pouco da proposta apresentada até então, algo que pode agradar alguns e desagradar outros.

Downtown Filmes/Paris Filmes

René Sampaio mexe com a memória afetiva do brasileiro e também com a cultura nacional entregando uma história de amor sem beirar o surrealismo, e que pode estar acontecendo mais perto do que imaginamos. Seu filme propõe uma reflexão universal sobre a romantização das diferenças e como a realidade pode ser um tanto dura para os românticos incorrigíveis.

No fim das contas, o que se mostra inicialmente como uma canção de um conto de fadas moderno sobre opostos, acaba se tornando, na prática, uma novela adulta e urbana, mostrando que as coisas são diferentes, e que realmente não há razão nas coisas feitas pelo coração.

Bom

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