CRÍTICA | Mulheres do Século 20

Direção: Mike Mills
Roteiro: Mike Mills
Elenco: Annette Bening, Elle Fanning, Greta Gerwig, Billy Crudup, Lucas Jade Zumann, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2016

Crescimento, diferenças geracionais e sexualidade são algumas das temáticas de Mulheres do Século 20 (20th Century Women), dirigido por Mike Mills (Toda Forma de Amor) e produzido pela A24. O longa é uma grande colcha de memórias, possui um tom autobiográfico que passa ao espectador uma sensação de nostalgia e saudosismo. Atemporal, conta a história de nossas avós, mães e de nós mesmas.

Jamie (Lucas Jade Zumann) é um garoto de 15 anos que vive na cidade costeira de Santa Barbara, nos anos 1970, e foi criado apenas pela mãe Dorothea (Annette Bening) que, para sustentar a família, aluga quartos de sua casa para hóspedes. Dorothea teve seu filho aos 40 anos e, apesar de tê-lo criado sozinha até ali, começa a sentir que um abismo geracional está surgindo entre os dois. A solução que encontra é pedir ajuda para duas outras mulheres: Julie (Elle Fanning), melhor amiga de Jamie; e Abbie (Greta Gerwig), uma de suas hóspedes.

Apesar do aparente protagonismo de Jamie, as três mulheres – Dorothea, Julie e Abbie – são o verdadeiro foco da narrativa. Somos apresentados às suas trajetórias até ali e nos aprofundamos nos dilemas que as assombram. O garoto acaba servindo como uma ponte que conecta essas personagens, um ponto em comum nas personalidades tão diversas que elas têm.

A24

Dorothea representa a geração que sobreviveu às guerras e a Grande Depressão, que experimentaram um mundo fragmentado e repleto de problemas sociais e políticos. A matriarca do filme representa a solidez e a força de sua geração, mas também demonstra certa dificuldade em se abrir para as mudanças que testemunha, em especial, através de seu primogênito. Vemos aqui a representação de uma protofeminista, uma mulher que apesar de não ter conhecimento teórico ou militância dentro do movimento feminista (ainda embrionário em sua época), já pratica no dia a dia, de forma inconsciente, a independência almejada por tantas mulheres.

Abbie, artista e fotógrafa, é o espírito rebelde da época. Por meio dela, enxergamos o boom da cultura punk, o crescimento do movimento feminista e os dilemas de uma jovem mulher de 20 e poucos anos. 

Já a terceira figura dessa “trindade feminina” é Julie, melhor amiga e crush juvenil de Jamie. Interpretada perfeitamente por Elle Fanning (Um Lugar Qualquer), a adolescente apresenta novas atribulações que provavelmente não fizeram parte da juventude de Dorothea ou de Abbie. A sexualidade feminina, bem como o despertar masculino, é explorada por meio dessa personagem que nos faz relembrar como a adolescência é um período complicado, porém, essencial para moldar a forma como enxergamos o mundo e nos relacionamos com as pessoas. Por ser a personagem mais próxima de Jamie em termos de idade, o filme acaba por nos mostrar duas perspectivas diferentes do mesmo período de crescimento e amadurecimento.

Como já dito, Mulheres do Século 20 apresenta um tom muito biográfico e memorial. A todo momento temos a impressão de que alguém está nos contando uma história, relembrando seu passado. Isso é reforçado pela narração em off que alterna na voz das personagens; pelas imagens de arquivo histórico e também pela cinematografia de Sean Porter (Green Book: O Guia), que adota cores e iluminação que nos rementem, em várias cenas, a devaneios, sonhos e fragmentos de memória. Todas as três protagonistas brilham em seus papeis e até mesmo os coadjuvantes masculinos, incluindo o jovem Lucas Jade Zumann (Anne With An E), acertam no tom de seus personagens.

A24

Apesar do tom didático em vários momentos, Mulheres do Século 20 não é nem de longe pedante. O mérito do filme está em abraçar as complexidades das relações humanas e retratá-las sempre com muito afeto e carinho. Nem sempre esses laços são amistosos, mas ainda assim fazem parte de uma história maior, que não se finda em seus personagens, mas tem continuidade nas próximas gerações.

Ótimo


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