CRÍTICA | Besouro Azul

Direção: Angel Manuel Soto
Roteiro: Gareth Dunnet-Alcocer
Elenco: Xolo Maridueña, Bruna Marquezine, Becky G, Damián Alcázar, Susan Sarandon, entre outros
Origem: EUA/México
Ano: 2023

Há tempos a DC vem passando por uma onda de incertezas sobre suas produções, o que tornou a chegada de Besouro Azul (Blue Beetle) ainda mais delicada. Afinal, como levar o espectador ao cinema sem saber se existirá uma sequência à história do herói? O longa dirigido por Angel Manuel Soto (La Granja) então tem a difícil missão de atrair um público que parece já ter desistido do antigo DCU após tantas frustrações, sendo The Flash (2023) a mais recente.

Mesmo sem ter a certeza de seu lugar no mundo, Besouro Azul funciona e traz uma nova relação com os filmes da marca, especialmente para o público brasileiro, que está em êxtase com a presença de Bruna Marquezine (Maldivas) no elenco.

A trama gira em torno de Jaime Reyes (Xolo Maridueña), um jovem universitário que volta para casa e descobre que seu pai, Alberto (Damián Alcázar), perdeu seu negócio e está prestes a ver sua casa tomada pelo banco. Para ajudar financeiramente sua família, o jovem e sua irmã Milagro (Belissa Escobedo) vão trabalhar na casa da milionária família Kord, liderada pela ambiciosa e cruel Victoria (Susan Sarandon).

É assim que ele conhece Jenny Kord (Bruna Marquezine), sobrinha de Victoria. Após uma breve interação na mansão, que faz Jaime perder o emprego, a jovem promete encontrar um trabalho melhor para ele nas empresas da família. Mas o que deveria ser uma chance profissional acaba mudando completamente a vida do rapaz. Totalmente contrária às ambições da tia, que deseja usar um escaravelho alienígena para a produção em massa de armas para uso militar, Jenny rouba o artefato e acaba entregando-o nas mãos de Jaime. O problema começa quando ele leva o item para casa e é convencido pela família a abri-lo.

Warner Bros Pictures

No primeiro contato, o escaravelho é ativado e dá início à simbiose que resulta na criação do Besouro Azul. Ao unir o seu corpo ao artefato, Jaime ganha poderes inimagináveis e a habilidade de criar qualquer tipo de arma.

Apesar de simples, o roteiro de Gareth Dunnet-Alcocer (Miss Bala) é eficaz. Em termos de estrutura, Besouro Azul é construído com diversos elementos clichês de filmes do gênero. A história de origem do jovem de uma família pobre que vive em uma comunidade mal vista pelas classes superiores, é uma reciclagem de outras origens de heróis como Homem-Aranha, Homem-Formiga, entre outros.

O que é mais atraente na história é a forma como a origem latina de seu personagem torna a trajetória do protagonista cativante. A importância da família para um herói não é uma novidade na cultura pop, mas a forma como é explorada a dinâmica de uma família de mexicanos ilegais nos EUA torna tudo mais interessante. O que faz essa família especial é o fato dela ser uma típica família latina. Ela é o coração da obra e isso é exposto de uma forma envolvente.

Para criar essa atmosfera, foram usados muitos recursos e referências. A escalação de elenco, os detalhes da casa, a cultura expressa no idioma, além, claro da direção de um porto-riquenho e o roteiro de um mexicano. O filme respira cultura latina e a forma como ele celebra isso, com referências que vão de Chapolin Colorado à Maria do Bairro, é feita de forma natural à trama.

Tudo isso contribui para a ideia que o longa apresenta, de que o amor pela família nos deixa mais fortes. Essa temática é muito presente na produção e se torna um dos pontos de destaque, uma vez que o roteiro se aprofunda verdadeiramente nisso, alimentando tensões reais, que superam a superficialidade dos vilões, que são o ponto fraco aqui.

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A Victoria Kord, interpretada pessimamente por Susan Sarandon (Thelma & Louise), é uma vilã rica e desequilibrada, que soa apenas superficial e chata em suas ambições. E embora tenha um momento bonito no final, Conrad Carapax (Raoul Max Trujillo) é apenas o vilão brutamontes que falha em ser intimidador.

Soto cruza elementos futuristas e tons vibrantes em neon com a cultura latina raiz e moderna. Infelizmente acaba pecando nas cenas de ação, já que as poucas existentes tiveram pouca criatividade em termos de cinematografia, focando em clichês e ângulos que já foram exaustivamente explorados em filmes de super heróis.

Em termos de elenco, Xolo Maridueña (Cobra Kai) é uma escalação certeira, não só fisicamente, mas também na atuação e principalmente no carisma. Lembrando levemente o Homem-Aranha de Tom Holland (Vingadores: Guerra Infinita), arrisco dizer que o Besouro Azul é o tipo de herói que faltava na DC. Jovial, mas não infantil como em Shazam! (2019).

E para a alegria dos brasileiros, Bruna Marquezine não desperdiça a grande oportunidade que recebeu em Hollywood, entregando uma personagem que é um dos grandes acertos do filme. Jenny Kord não é um mero interesse amoroso do protagonista e tem relevância para a trama. A atriz lida bem com a insegurança e a dificuldade de atuar em outro idioma, surpreendendo em sua performance ao lidar com as dores de uma personagem solitária em busca de encontrar seu lugar no mundo, com um tempero de emoção bem brasileiro, inclusive com uma fala em português! Isso sem contar a química inegável com Maridueña., 

Mas é a Família Reyes quem rouba a cena aqui, com muito humor e emoção. O destaque vai para o excêntrico e hilário tio Rudy de George Lopez (As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl) e a surpreendentemente cômica Avó Nana de Adriana Barraza (Babel), que traz toda a força da avó latina.

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Apesar de algumas referências a outros grandes heróis do universo, esse é um filme isolado no universo DC, o que acaba sendo uma coisa boa, já que não fica preso às interferências e limitações de uma franquia, tendo mais liberdade para ser único e "sair da caixinha". Ao mesmo tempo, Besouro Azul prepara o terreno para novas perspectivas ligadas ao mundo do herói azulado que devem ganhar continuidade no novo DCU. Tudo isso esbanjando bom humor e celebrando a cultura e a família latina.

Bom


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