CRÍTICA | Dançando em Silêncio

Direção: Philipp Eichholtz
Roteiro: Philipp Eichholtz
Elenco: Martina Schöne-Radunski, Hans-Heinrich Hardt e Sebastian Fräsdorf
Origem: Alemanha
Ano: 2016


Depressão, relacionamentos abusivos e a busca para recuperar o tempo perdido, tudo isso em incríveis 81 minutos. De origem alemã, Dançando em Silêncio (Luca tanzt leise) só aumenta minha vontade de consumir cinema europeu, embora a atmosfera e linguagem sejam diferentes das produções norte-americanas - as quais estamos acostumados -, é muito bacana assistir algo que nos faz refletir, sem respostas muito prontas ou previsíveis.

A narrativa nos apresenta Luca (Martina Schöne-Radunski), uma jovem que passou anos lutando contra a depressão, algo que a atrasou de tal modo, que a impediu de concluir o ensino médio. Logo no começo a vemos se olhar no espelho e analisar um hematoma em sua perna, porém a razão deste, só é explicada ao longo do filme.

É a vez de conhecermos a escola que ela frequenta, onde somos surpreendidos pela austeridade da professora que a expulsa da classe quando percebe que ela está tentando ajudar um aluno mais velho. Depois vemos a mesma professora visitando a casa de Luca para entendemos que se trata da mãe da personagem, a qual leva a postura rígida de professora pra fora da classe, sempre criticando e pressionando, seja sobre a sujeira das janelas ou sobre o futuro da filha.


Luca tem uma família que se resume a mãe e a avó, com quem a protagonista tem um laço mais amoroso e compreensivo. Não vemos figuras masculinas presentes nem em fotos nem nos diálogos e é aí que entra aquele aluno mais velho que ela estava tentando ajudar no começo, Meier!

Eles desenvolvem um companheirismo bem grande ao longo da trama, pois ambos tem dificuldades em determinadas matérias, por isso passam bastante tempo juntos estudando e conversando sobre o passado e também os anseios do futuro. Em uma das cenas vemos Luca contar como adotou Mata, uma cadela que iria ser sacrificada. Ao salvar o animal ela passa a ter não só uma companhia para superar seus momentos turbulentos, como também se torna mais responsável por ter que cumprir uma rotina com a peluda (e quem tem animais de estimação sabe bem o quanto eles realmente nos fazem ser mais atentos e preocupados com necessidades além das nossas).

A personagem relata inclusive como achava que não era possível enfrentar a vida e achar seu lugar no mundo, dilema que pessoas com depressão conhecem bem. Trazer isso para a trama foi de grande valia, afinal, depressão é a doença do século e ainda assim muita gente a trata com desprezo.

O entrosamento entre os atores é algo muito bom de se ver, ambos trazem uma humanidade para os personagens ao ponto que, quando o filme acaba, dá vontade de saber mais sobre eles.


Os relacionamentos de Luca não colaboram muito, são complexos e até abusivos como seu namoro. Ben, seu namorado, a maltrata fisicamente e a deixa abalada psicologicamente. O hematoma então é explicado, mostrando o arrependimento do rapaz que, ao elogiar a moça parece que joga uma venda em seus olhos e consegue então reatar o namoro. Há momentos na trama em que parece que levamos um soco, eu particularmente chorei de raiva e pena, mas a lição que fica para a protagonista é que ela pode reagir, que ela pode tomar as rédeas da vida e seguir em frente.

Também gostei bastante da trilha sonora e da fotografia que em momentos melancólicos se faz mais pálida e em momentos felizes é mais vibrante e colorida.

Sem dúvida irei acompanhar o trabalho desse diretor que soube como abordar temas delicados sem perder o fio da meada e me cativou pela forma sucinta que o faz.






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