CRÍTICA | Uma Mulher Fantástica

Direção: Sebastián Lelio
Roteiro: Sebastián Lelio e Gonzalo Maza
Elenco: Daniela Vega, Francisco Reyes, Antonia Zegers, entre outros
Origem: Chile / Espanha / Alemanha / Estados Unidos
Ano: 2017


Como tratar de uma maneira tenra uma questão que ainda é um tabu na sociedade e bastante carregada de preconceito? O diretor Sebastián Lelio (Gloria) aborda a transexualidade nessa produção chilena, utilizando recursos precisos e essenciais para ilustrar o que o ser humano tem de melhor e pior. Não foi à toa que Uma Mulher Fantástica arrancou aplausos no Festival de Berlim, tendo recebido o prêmio de melhor roteiro, além do sucesso de público quando exibido no Cine Ceará 2017.

A história acompanha Marina Vidal (Daniela Vega), uma garçonete e cantora lírica transexual que perde o marido Orlando (Francisco Reyes) devido a um mal súbito. Após a tragédia, uma série de situações tristes e desagradáveis se desembocam. Recai sobre Marina a suspeita de envolvimento na morte de Orlando, além de ser negado a ela o direito de se despedir do amado. Já dá para sentir logo de início as agruras pelas quais a protagonista irá passar, bem como a discriminação que sofre por conta de sua transexualidade e de como lida com tudo isso. 

Crédito: Imovision

A abordagem das agressões físicas e psicológicas sofridas por Marina são muito bem contornadas, há situações que trazem um certo alívio e impedem que a trama seja apenas sinônimo de calvário para ela. O apoio dado pelos amigos no ambiente de trabalho e fora dele, além das aulas de canto e a relação de amizade e afeto com o professor, que a enxerga como um grande talento e uma mulher forte e de personalidade. 

Na medida que as situações vão se apresentando e as mudanças na vida de Marina vão se configurando, você enxerga tudo sob a perspectiva da protagonista, além de nutrir empatia por ela, quase que sentindo na pele todas as agressões sofridas. O roteiro consegue apresentar momentos complexos gerados pela falta da aceitação social à identidade de gênero da personagem, algo que interfere negativamente nem sua vida, sendo complicado para ela seguir adiante, seja profissionalmente ou pessoalmente.

A atuação de Daniela Vega (La Visita) é o ponto alto da obra. Sempre expressiva, com demonstrações de aflição e força, mas sem esquecer a sensibilidade evidenciada pela luta por respeito e para fazer valer seus direitos como cidadã. A atriz passa a autenticidade que sua personagem necessita, corroborando para cravar uma importante mensagem sobre comportamentos retrógrados e abomináveis que devem ser combatidos. O teor de denúncia presente é latente, mas poderoso.

Crédito: Imovision

Recursos como a câmera fechada no rosto da protagonista e o uso de efeitos especiais para a construção de uma metáfora, simbolizando o quão Marina é forte e inabalável, não só enriquecem como também valorizam ainda mais a temática do longa, algo que não é tão explorado no cinema atual. Tudo ocorre de forma espontânea e sem parecer forçado, o que valoriza ainda mais o trabalho do diretor Sebastián Lelio.

Apesar do preconceito ainda enraizado em nossa sociedade intolerante e opressora, os transgêneros estão ganhando cada vez mais espaço, enfrentando as adversidades de forma forte e digna. Um filme que retrata isso da maneira correta merece o respeito e a atenção de todos.

Ótimo

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